domingo, 31 de maio de 2009

Conto: "A noiva de São Pedro"

Li essa estória num lindo livro da extinta Livraria Quaresma, do Rio de Janeiro: "Histórias do Arco da Velha", de Viriato Padilha. É uma estória boa para contar, com algumas alterações, dependendo de quem vai ouvi-la. Aqui vai na íntegra.

A noiva de São Pedro
Jesus Cristo e seus dois amados discípulos, Pedro e João, passeavam uma vez pelo mundo, como Nosso Senhor costumava fazer para ver de perto o estado dos homens e das coisas.

Enquanto caminhavam, discorriam sobre vários assuntos.

— É preciso que te cases, Pedro, — disse de repente o Salvador.

— Casar-me, eu! na minha idade, mestre?

— Sim, é preciso que te cases.

— Mas a quem quereis então que despose, mestre?

— À primeira rapariga que encontrarmos no caminho.

— Seja, pois assim o quereis.

Pouco tempo depois, encontraram os três uma rapariga feia e suja, uma criada do campo, de tamancos e com as pernas cheias de lama do curral.

— Então, Pedro, — disse Jesus Cristo vendo-a, — eis ali a que será tua mulher!

— Não, meu Senhor peço perdão, mas com essa não me caso eu, — respondeu Pedro fazendo uma careta.

— Porque não a queres, então?

— Por quê?; Vede quanto é feia e suja, e nem ao menos moça.

— Tu também não és moço, nem tão belo rapaz, como talvez penses. Mas, enfim, como não queres essa, há de ser agora a primeira mulher que encontrarmos nesta estrada.

— Prefiro isso, porque espero que será impossível encontrar pior.

E continuaram o caminho.

Não tardaram a encontrar uma velha apoiada sobre um cacete, a cabeça trêmula, os pés atravessados e mais suja ainda do que a primeira.

Nosso Senhor riu-se, vendo-a, e, voltando-se para São Pedro, disse:

— Agora, eis aqui a tua mulher.

— Nunca, — respondeu Pedro, voltando a cabeça e fazendo uma horrível careta.

— Antes a primeira; mas não quero nem uma nem outra...

— Acho-te bem difícil, meu amigo, mas não importa. A primeira que encontrarmos agora é preciso que aceites, qualquer que seja.

— Perfeitamente, e seja o que for, não será jamais coisa pior.

E, continuando o seu caminho, encontraram outra velha, curvada sobre um bastão nodoso, e arrastando com dificuldade os pés; além disso, era corcunda e zarolha, não tinha na boca senão dois dentes compridos e negros, que estremeciam a cada passo que ela dava.

Dir-se-ia uma verdadera feiticeira. O seu corpo era coberto de sujos molambos, e, tão mal cheirosos, que causavam náuseas ao mais forte estômago.

— Agora não podes mais recusar, Pedro; eis a tua mulher. — disse Jesus.

O pobre Pedro soltou um grande suspiro, voltou a cabeça de desgosto, e não pronunciou uma palavra.

— Não há que hesitar, — continuou o Salvador, é preciso que a desposes, já que desdenhaste as outras, que eram talvez um pouco melhores.

— Casarei na primeira aldeia que encontrarmos.

E continuaram o caminho acompanhados da velha, que apesar da sua idade e do seu miserável estado, estava satisfeita de encontrar enfim com quem casar. Mas Pedro não queria caminhar ao lado dela, nem mesmo olhá-la, e Nosso Senhor gracejava, dizendo que fosse mais galante com a sua noiva, que lhe desse o braço. Ele marchava alguns passos atrás, com a cabeça baixa e muito triste.

Um milagre de Jesus
Chegaram assim a uma forja. Havia ali um ferreiro muito afamado no país e de quem não se falava senão com respeito, chamando-o sempre grande ferreiro; o primeiro de todos os ferreiros.

— Entremos um pouco nesta forja, — disse Nosso Senhor aos seus companheiros de viagem.

Entraram todos quatros, e Jesus disse ao mestre ferreiro:

— Dê-me licença, ferreiro, de fazer uma boa têmpera sobre a sua bigorna, pois também sou ferreiro.

O ferreiro olhou com desdém para aquele que lhe falara, ergueu os ombros e não respondeu; mas o seu ajudante disse:

— Não é assim, meu bravo, que se fala a meu mestre; pois deveis saber que é o primeiro ferreiro do mundo, e não há igual nem mesmo que dele se aproxime.

— Como é então que preciso falar a seu mestre?

— Desta maneira (e com o chapéu na mão): "Salve, grande ferreiro, mestre, o primeiro dos ferreiros; terá a bondade de me permitir que faça uma têmpera sobre sua bigorna?

O Senhor repetiu as palavras do ajudante.

— Com prazer, agora que me falas como me convém.

A mãe do ferreiro, velha e caduca, aquecia-se ao pé do fogo; Jesus Cristo suplicou-lhe que se afastasse um pouco, e, tomando a noiva de São Pedro, atirou-a ao fogo.

— Deus! que fazes, malvado? — exclamou a mãe do ferreiro.

— Deixa-me fazer, vovó, e não se incomode; é para o seu bem, como vai ver.

— Ainda bem, — disse São Pedro, — eis-me livre desta feiticeira.

Pouco depois, Nosso Senhor, retirou a velha do fogo, com as tenazes e pondo-a sobre a bigorna, como uma massa de ferro vermelho que se tira da fornalha, disse:

— Vamos, cada um que tome um malho e bata forte.

E tomaram cada um o seu malho e bateram a velha sobre a bigorna, como se fosse de ferro; São Pedro, principalmente, malhava de rijo, com verdadeiro prazer.

Depois, Jesus tornou a pô-la no fogo, retirou-a e bateram-na de novo. E assim três vezes. À força de passar no fogo e de ser batida, a noiva de São Pedro perdeu a corcunda, tornou-se uma mulher jovem, bela e tão perfeita, que os assistentes ficaram boquiabertos.

— Então, ferreiro, mestre ferreiro, o primeiro dos ferreiros, és capaz de fazer outro tanto?, — perguntou o Salvador.

Ele nada respondeu e mal disfarçava o seu pasmo.

— Então? embora se faça chamar mestre ferreiro, o primeiro dos ferreiros achou o seu mestre, parece-me.

— É possível, mas experimentarei todavia, porque me custa crer que haja ferreiro no mundo capaz de fazer um trabalho de ofício, que eu não possa fazer também.

O ferreiro e sua velha mãe
Os três viajantes partiram então e a linda mulher acompanhou-os.

São Pedro estava agora muito feliz de ter noiva tão jovem, tão bela, e já não se fazia rogar para se aproximar dela.

Apenas deixaram a forja, o mestre ferreiro disse:

— Farei também o que aquele homem fez e não se dirá que achei enfim mestre.

E tomando sua velha mãe, atirou-a ao fogo.Mas ai! quando a retirou da fornalha, para batê-la na bigorna, a cada golpe que batiam, ele e o seu companheiro, o sangue jorrava de todos os lados, com pedaços de ossos esmagados.

Batiam cada vez mais, sem verem chegar a mulher bela e jovem que esperavam.

Eis o ferreiro desolado de ter assassinado a sua boa mãe.

Correu atrás dos três estrangeiros. Viu de longe que subiam uma encosta escarpada, e gritou-lhes:

— Eh! eh! não me ouvem? — Senhores estrangeiros!

Eles bem ouviam, mas de propósito faziam ouvidos de mercador e continuavam a caminhar.

Então o ferreiro mudou de linguagem e gritou-lhes:

— Mestre, caro mestre, em nome de Deus.

— Que há, bom homem? — perguntou Nosso Senhor. E parou.

— Ai aconteceu-me uma grande desgraça!...

— Que lhe aconteceu então mestre ferreiro, o primeiro dos ferreiros?

— Minha mãe, minha pobre mãe morreu!

— Como assim?

— Ai! quis fazer como o senhor fez para remoçá-la e matei-a!

— Como! Pois o amigo me tinha dito que era um mestre ferreiro, que não tinha igual no mundo?

— Ah sim, mas agora vejo que não valho nada ao pé do senhor, e peço-lhe perdão.

— Oh! certamente. O mestre amava sua mãe? E tem saudades dela?

— Oh! sim; tenho saudades do fundo do meu coração; restitua-ma.

— Pois bem, volte e encontrará sua mãe viva e de saúde. Mas para outra vez, seja mais modesto e não diga que não há mestre na terra.

O ferreiro voltou à forja e encontrou sua mãe, que se aquecia sentada em um banco ao pé do fogão. Foi uma boa lição, para ele não ser tão orgulhoso.

— E São Pedro casou-se? — perguntarão os nossos leitorezinhos.

A história não o diz.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Conto: "Os músicos de Bremen"

Adaptado dos irmãos Grimm

Um homem tinha um burro que, por longos anos, o tinha ajudado carregando pesados sacos de milho para o moinho. O burro, porém, já estava ficando velho e não podia mais trabalhar. Por isso, o dono pensava em vendê-lo.

O pobre animal, sabendo disso, ficou muito preocupado e decidiu fugir para Bremen."Certamente, poderei ser músico na cidade", pensava ele.

Depois de andar um pouco, encontrou um cão deitado na estrada, arfando de cansaço.

- Por que estás assim tão fatigado? perguntou o burro.

- Amigo, já estou ficando velho e, a cada dia, vou ficando mais fraco. Não posso mais caçar; por isso meu dono queria me entregar à carrocinha. Então, fugi, mas não sei como ganhar a vida.

- Pois bem, lhe disse o burro. Minha história é bem semelhante à sua. Vou tentar a vida como músico em Bremen. Venha comigo. Eu tocarei flauta e você poderá tocar tambor.

O cão aceitou o convite e seguiu com o burro. Não tinham andado muito quando encontraram um gato, muito triste, sentado no meio do caminho.

- Que tristeza é essa, companheiro? lhe perguntaram os dois.

- Como posso estar alegre, se minha vida está em perigo? respondeu o gato. Estou ficando velho e prefiro estar sentado junto ao fogo, em vez de caçar ratos. Por esse motivo, minha dona quer me afogar.

- Ora, venha conosco a Bremen, propuseram os outros. Seremos músicos e ganharemos muito dinheiro.

O gato, depois de pensar um pouco, concordou e acompanhou-os. Foram andando até que encontraram um galo, cantando tristemente, trepado numa cerca.

- Que foi que lhe aconteceu, amigo? perguntaram os três.

- Imaginem, respondeu o galo, que amanhã a dona da casa vai ter visitas para o jantar. Então, sem dó nem piedade, ordenou ao cozinheiro que me matasse para fazer uma canja.

Os outros, então, lhe propuseram:

- Nós vamos a Bremen, onde nos tornaremos músicos. Você tem boa voz. Que tal se nos reuníssemos para formar um conjunto?

O galo gostou da idéia e, juntando-se aos outros, seguiram caminho.

A cidade de Bremen ficava muito distante e eles tiveram que parar numa floresta para passar a noite. O burro e o cão deitaram-se em baixo de uma árvore grande. O gato e o galo alojaram-se nos galhos da árvore.

O galo, que se tinha colocado bem no alto, olhando ao redor, avistou uma luzinha ao longe, sinal de que deveria haver alguma casa por ali. Disse isso aos companheiros e todos acharam melhor andar até lá, pois o abrigo ali não estava muito confortável.

Começaram a andar e, cada vez mais, a luz se aproximava. Afinal, chegaram à casa. O burro, como era o maior, foi até a janela e espiou por uma fresta. À volta de uma mesa, viu quatro ladrões que comiam e bebiam fartamente. Transmitiu aos amigos o que tinha visto e ficaram todos imaginando um plano para afastar os homens dali. Por fim, resolveram aproximar-se da janela. O burro colocou-se de maneira a alcançar a borda da janela com uma das patas. O cão subiu nas costas do burro. O gato trepou nas costas do cão e o galo voou até ficar em cima do gato.

Depois, a um sinal combinado, começaram a fazer sua música juntos: o burro zurrava, o cão latia, o gato miava e o galo cacarejava. A seguir, quebrando os vidros da janela, entraram pela casa adentro, fazendo uma barulhada medonha.

Os ladrões, pensando que era um fantasma, saíram correndo para a floresta. Os quatro animais, então, sentaram-se à mesa, serviram-se de tudo, comendo e bebendo como se tivessem estado de jejum por um mês. Depois, procuraram um lugar quentinho e confortável para dormir. O burro deitou-se num monte de palha, no quintal; o cão, junto da porta; o gato, junto ao fogão, e o galo encarapitou-se numa viga do telhado. Como estavam muito cansados, logo adormeceram.

Um pouco além da meia-noite, os ladrões, vendo que a luz da casa estava apagada, resolveram voltar. O chefe do bando disse aos demais:

- Não devemos ter medo!

E mandou que um entrasse primeiro para examinar a casa. Chegando lá, o homem foi à cozinha para acender um vela. Tomando os olhos do gato, que brilhavam no escuro, por brasas, tentou neles acender um fósforo. O gato, entretanto, não gostou da brincadeira e avançou para ele, cuspindo e arranhando-o. Ele tomou um grande susto e correu para a porta dos fundos, mas o cão, que lá estava deitado, mordeu-lhe a perna. O ladrão saiu correndo para o quintal, mas, ao passar pelo burro, levou um coice. O galo, que acordara com o barulho, cantou bem alto:

- Có, có, ró, có!!!!

Correndo como louco, o ladrão foi se reunir aos outros, a quem contou:

- Lá dentro há uma horrível bruxa de olhos de fogo que me arranhou com suas unhas afiadas e me cuspiu no rosto. Perto da porta, há um homem mau que me passou um canivete na perna. No quintal, há um monstro escuro, que me bateu com um pedaço de pau. Além disso tudo, no telhado está sentado um juiz, que gritou bem alto: "- Traga aqui o patife!!!"... Acho que não devemos voltar lá... é muito perigoso!!

Depois disso, nunca mais os ladrões voltaram à casa, e os quatro músicos de Bremen sentiam-se muito bem lá, onde faziam suas músicas e viviam despreocupados.

De vez em quando alguém das redondezas os chamavam e lá iam eles, felizes e contentes, tocar a sua música.


***

Bremen é uma cidade do Norte da Alemanha, com cerca de 1 milhão de habitantes, onde existe o mais antigo porto da Alemanha. Um dos seus atrativos é a estátua dos quatro músicos, da fábula registrada pelos irmãos Jacob e Wilheim Grimm, no século XVIII.
Ilustração: peregrinacultural.files.wordpress.com

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Conto: "O mais valioso dos colares"

Usar, por alguns dias, a pulseira da mãe, era o sonho de consumo do pequeno Pedro, de seis anos de idade. Eles eram pobres, e a pulseira não tinha muito valor, mas tanto o garoto insistiu que a mãe lhe entregou, recomendando que tomasse cuidado.
Pedro colocou o cordão no pulso e se sentiu o menino mais feliz do bairro.
Jogava futebol com os amigos, de pulseira. Ia comprar pão, com a pulseira, e na escola, ele exibia sua preciosidade sempre que podia.
As semanas se passaram e, como sempre acontece com as crianças, um dia aconteceu com Pedro. Uma distração, e ele se deu conta de que havia esquecido a pulseira em algum lugar. Procurou por todos os cantos e... nada.
Ele estava sozinho em casa. A mãe estava no trabalho. Mas, e quando ela chegasse, como lhe contaria a tragédia?
Mil preocupações surgiram naquela cabeça infantil. E a mais cruel era a de ter perdido o que ele considerava ser o único tesouro de sua mãe.
Depois de muitas cogitações, tomou uma difícil decisão: iria embora de casa.
Jogou algumas roupas dentro da velha sacola, e saiu porta afora.
Não foi muito longe e ouviu uma voz bem conhecida... Era o Sr. Severino, um velhinho bom que morava na vizinhança.
- Ei, aonde você vai com essa trouxa nas costas, Pedro? - Vou embora, respondeu, cabisbaixo, o menino. - Mas a sua mãe não está em casa. É melhor você esperar que ela chegue, senão ela ficará aflita quando não o encontrar.
O garoto costumava ouvir os mais velhos, então voltou, é claro, na companhia do velho Severino. Quando a mãe chegou, já estava escuro. Mal entrou e já sentiu algo no ar, pois as mães sempre sentem quando tem alguma coisa errada com seus filhos.
- O que houve, Sr. Severino?, perguntou logo.
Ele se aproximou e contou baixinho o que havia acontecido. Ela entrou no quarto onde o pequeno Pedro estava escondido e o abraçou com ternura.
- Meu filho, você ia embora sem avisar a mamãe? Por que ia fazer isso, meu anjo?
- Mãe, lembra daquela pulseira que você me emprestou e me pediu para ter cuidado?
- Sim, disse ela.
- Eu não sei como aconteceu, mas a perdi, mãe. Quando notei, eu procurei, procurei, mas não achei. Então fiquei com medo e com vergonha, e por isso eu ia embora de casa, prá não ver você triste.
- Ora, filho, eu ia ficar muito triste se você tivesse ido. Nunca mais pense nisso!
- E a pulseira? Perguntou o menino, mais aliviado.
- Ah, meu anjo, aquela pulseira tinha pouco valor. Um dia, quem sabe, nós compramos outra.
- Mãe, eu quero lhe dar um belo colar. Você sabe quanto custa um?
- Não faço idéia, mas já tenho o colar mais valioso do mundo. E sabe qual é?
- Não, mãe, eu nunca vi você de colar.
- Pois bem, disse a mãe, puxando os bracinhos do filho e os envolvendo no pescoço.
- Filho, o seu abraço é o colar mais valioso do mundo, para mim. E eu desejo tê-lo para sempre. Promete que nunca mais vai pensar em ir embora?
Pedro sorriu, aliviado, e encheu o rosto da mãezinha de beijos.

***
Redação do Momento Espírita
Pintura de Mary Cassat

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Conto: "Toalha de mesa"

Um novo pastor, recentemente formado, e sua esposa, que foram encarregados de reabrir uma igreja no bairro de Brooklyn, NY, chegaram no início de outubro, entusiasmados com a oportunidade.

Quando viram a igreja, observaram que havia muitos estragos e um grande trabalho a ser feito.

Sem se deixar abater, estabeleceram como meta deixar tudo pronto para o primeiro serviço: o culto de Natal.
Trabalharam sem descanso, consertando o telhado... refazendo o piso... pintando... e, muito antes do Natal, em 18 de dezembro, tudo estava pronto!

Mas, no dia seguinte, 19 de dezembro, desabou uma terrível tempestade, que se alongou por dois dias. No dia 21, o pastor foi até a igreja. Seu coração doeu... viu que o telhado tinha quebrado e que uma grande área do revestimento de gesso decorado, da parede do santuário, logo atrás do púlpito, havia caído. O pastor, enquanto limpava o chão, pensava em como resolver a situação.

No caminho de casa, pensando adiar o culto de Natal, observava as vitrines, enfeitadas para a época, quando notou um bazar beneficente e parou por instantes.

Uma linda toalha de mesa, de crochê, na cor marfim, com um crucifixo delicadamente bordado no centro chamou-lhe a atenção. Era do tamanho exato para cobrir o estrago atrás do púlpito. Comprou-a e voltou para a igreja.

Começou a nevar. Apressou seus passos e, quando chegava à porta da igreja, uma velha senhora vinha correndo em direção contrária tentando pegar o ônibus, o que não conseguiu.

O pastor convidou-a a entrar para esperar pelo próximo, abrigando-se do frio. Ela sentou-se num banco e nem prestava atenção no pastor que já providenciava a instalação da toalha de mesa na parede. Ao terminar, afastou-se e pôde admirar o quanto a toalha era linda e servia perfeitamente para esconder o estrago.

Então, o pastor notou a velha encaminhando-se para ele. Seu rosto estava lívido e perguntou:
- Pastor, onde o senhor encontrou esta toalha de mesa?

O pastor contou a história. A mulher pediu-lhe que examinasse o canto direito inferior para encontrar as iniciais EBG bordadas. O pastor fez o que a mulher pediu e, intrigado, confirmou.
A mulher disse:
- Estas são as minhas iniciais.
E contou que fez esta toalha de mesa há 35 anos, na Áustria. Contou que, antes da guerra, ela e seu marido eram "bem-de-vida". Quando os nazistas invadiram seu país combinaram fugir; ela iria antes e seu marido a seguiria uma semana depois. Ela foi capturada, trancada numa prisão e nunca mais viu seu marido e sua casa.

O pastor ofereceu a toalha, mas, ela recusou, dizendo que estava num lugar muito apropriado. Insistindo, ofereceu-se para levá-la até sua casa; era o mínimo que poderia fazer. Ela morava em Staten Island e tinha passado o dia em Brooklin para um serviço de faxina.

No dia de Natal a igreja estava quase cheia. Foi um lindo trabalho.
Ao final, o pastor e sua esposa cumprimentavam os fiéis que iam saindo, quando notaram um velho homem, que o pastor reconheceu pela vizinhança, sentado, atônito. O pastor aproximou-se e, antes que dissesse palavra, o velho perguntou:

- Onde o senhor conseguiu a toalha de mesa da parede? Ela é idêntica a uma que minha mulher fez, muitos anos atrás, quando vivíamos na Áustria, antes da guerra. Como poderiam existir duas toalhas tão parecidas?

Imediatamente, o pastor entendeu o que tinha acontecido e disse:
- Venha... eu vou levá-lo a um lugar que o senhor vai gostar muito.

No caminho, o velho contou a mesma história da mulher. Ele, antes de poder fugir, há 35 anos, também havia sido preso e nunca mais viu sua mulher ou sua casa.
Ao chegar à mesma casa onde deixara a mulher, três dias antes, ajudou o velho a subir os três lances de escadas e bateu na porta.

Creio que não há necessidade de se contar o resto da história. Quem disse que Deus não trabalha de maneira misteriosa?
***
Extraído do site http://www.novaera.org/

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Conto: "Reconstruindo o mundo"

O pai estava tentando ler o jornal, mas o filho pequeno não parava de perturbá-lo. Já cansado com aquilo, arrancou uma folha – que mostrava o mapa do mundo – cortou-a em vários pedaços, e entregou-a ao filho.
- Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo, e quero ver se você consegue montá-lo exatamente como é.
Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia. Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.
- Sua mãe andou lhe ensinando geografia? – perguntou o pai, aturdido.
- Nem sei o que é isso – respondeu o menino. – Acontece que, do outro lado da folha, estava o retrato de um homem. E, uma vez que eu consegui reconstruir o homem, eu também reconstruí o mundo.


***
Extraído de "Histórias para pais, filhos e netos" - Paulo Coelho
Foto de Magomed Magomedagaev

domingo, 24 de maio de 2009

Apostila: "Conte uma estória" - Aaron Shepard



Conte uma estória!

um guia para a contação de estórias
por Aaron Shepard


Traduzido e revisado por Gabriela Kopinits, a Cigana Contadora de Estórias


Reproduzido do livreto publicado primeiro por Simple Productions, Arcata, California, 1990


Copyright © 1990, 1996 by Aaron Shepard. Pode ser livremente copiado e partilhado para qualquer fim não comercial , desde que nenhum texto seja alterado ou omitido.


Você pode contar uma estória! E quanto mais você contar, melhor você será! Então, não seja tímido, arrisque-se, dê o mergulho, mostre no que você é bom, engrene a marcha, arme o palco, enfrente a tempestade, eleve suas visões – mas, o que quer que você faça – CONTE UMA ESTÓRIA!

Conteúdo


1. Encontrando sua estória
2. Preparando sua estória
3. Contando sua estória
4. Dicas finais

Encontrando sua estória


Seu primeiro passo é encontrar uma estória. Não uma estória qualquer. Encontre uma estória que você ame! Você a contará frequentemente, e você quer apreciá-la toda vez que o fizer.
Uma estória para contar poderia ser:
· Um conto folclórico, ou seja, uma estória da tradição oral. Poderia ser um conto de fadas, um feito heróico, um conto de humor, uma facécia, um conto de sabedoria, uma fábula, uma estória de amor, de fantasma, um mito ou uma lenda.
· Um conto literário, de um único escritor, originalmente destinado a leitura.
· Uma história da vida real, da História ou de uma experiência pessoal.
Para muitos iniciantes, contos folclóricos são os mais fáceis, porque eles são feitos para contar. Eles são simples, diretos e vívidos, com o auxílio automático da memória. Então, de agora em diante, vamos focar nos contos folclóricos.

Você pode reunir contos folclóricos de livros, gravações de contação de estórias e até por ouvir dizer. Encontre livros e gravações tanto nas sessões para adultos e crianças na sua biblioteca ou livraria.
Comece com contos curtos – uma a três páginas de texto, ou uns poucos minutos de gravação. Procure estórias com ação clara, personagens fortes e estrutura simples. Claro, escolha uma estória que também seja adequada aos seus ouvintes, se você sabe quem serão eles. Recontações modernas são as mais fáceis para se trabalhar, porque elas já foram refinadas e adaptadas para ouvintes em nossa cultura. Mas você também pode alterar uma estória para se adequar a você mesmo ou à sua audiência.
Contadores de estórias profissionais devem ser cuidadosos quanto à proteção dos direitos editoriais das estórias que querem contar, mas isso é menos importante para um amador. Se você se baseou em apenas uma versão da estória, é cortês pelo menos mencionar sua fonte. Fique alerta, contudo, pois muitos contadores de estórias – incluindo muitos nativos americanos – sentem que você roubou as estórias deles se você as conta sem permissão.

Preparando sua estória

Contadores aprendem suas estórias de muitas maneiras diferentes. Alguns lêem ou escutem uma estória de novo e de novo. Alguns meditam sobre ela. Alguns digitam ou copiam manualmente a estória. Alguns desenham gráficos. Alguns começam contando a estória imediatamente.
Qualquer que seja o modo como você faz, você deve absorver a estória até que ela se torne sua segunda natureza. Encontre o melhor caminho para você.
Algumas partes da estória podem ser memorizadas, palavra por palavra – lindos começos e finais, diálogos importantes, expressões coloridas, rimas e frases que se repetem. Mas não tente memorizer toda uma estória desse modo. Recitação estrita cria uma distância dos seus ouvintes que é difícil de transport.
Ao invés, visualize a estória. Veja as cenas na sua mente, tão claramente quanto você puder. Mais tarde, essas imagens vão ajudar você a recriar sua estória quando você a contar – ainda que você não as evoque conscientemente.
É melhor praticar sua estória com um espelho. Pode ser um espelho de verdade, or uma gravação de áudio ou em vídeo, ou um amigo. Qualquer coisa que ajude você a ver como você está se saindo.
Primeiro pratique para pegar a linha da estória. Sua versão não vai transmitir tudo da estória que você encontrou, mas deve transmitir o suficiente para ter sentido. Então, uma vez que a estória esteja firme em sua mente, foque em como você a conta.
Use repetição. Em contos folclóricos, os acontecimentos frequentemente se repetem três vezes – um número mágico. Preste atenção especial às rimas e frases repetidas. Repetição ajuda seus ouvintes a se fixarem na estória pois fornece marcos familiares.
Junto com a repetição, use variação. Varie o tom, a cadência e o volume de sua voz, sua velocidade, seus ritmos, sua articulação (suave ou aguda). Use pausas. Lembre, variar prende a atenção.
Use gestos, mas apenas aqueles que ajudem a estória. Use-os para reproduzir a ação, ou somente para ênfase. Faça-os grandes! Gestos mantém os olhos em você.
Em sua estória, preste atenção especial em começos e finais. Você pode querer praticar uma introdução junto com a estória. Essa introdução pode dizer algo sobre a estória ou sobre você. Mas não entregue o enredo!
Finais devem ser claros, de modo que seus ouvintes saibam que sua estória terminou sem que você precise dizer a eles. Você pode fazer isso desacelerando e adicionando ênfase. Por exemplo, muitos finais de estória usam um “devagar três” – “felizes para sempre”, “e foi assim que terminou”, “e nunca mais ele foi visto”.
Preste atenção especial em como você descreve seus personagens. Bons personagens dão vida à estória – então, ponha vida neles, com rostos, vozes, gestos, postura corporal. Tente fazer cada um diferente o bastante para que eles possam ser facilmente identificados.
Quando descrever dois personagens conversando, tente um truque chamado “foco cruzado”: faça cada um encarar um ângulo de 45 graus diferente.
Você contará estórias no seus melhor se você preparar não somente a sia estória, mas você mesmo. Sua voz e corpo são seus instrumentos, e ajuda usá-los bem.
Para projetar e sustentar sua voz, você deve respirar profunda e corretamente. Para checar isso, coloque sua mão no seu estômago. Enquanto você inspira e seus pulmões se expandem, você deve sentir o seu estômago pressionando para fora. Muitas pessoas fazem o oposto, segurando seus estômagos e respirando apenas com a parte de cima do peito. Também se certifique de manter suas costas retas, para que seus pulmões possam se expander completamente.
Não force muito sua voz ou a use de forma artificial (exceto talvez quando falar como um personagem). Para evitar fadiga, relaxe sua garganta e músculos mandibulares, e o resto do seu corpo também. Um grande e alto suspiro ajudará nisso. Também tente o “bocejo do leão” – abra sua boca bem aberto e estique sua língua o máximo que conseguir.
Pronuncie cada som de cada palavra distintamente. Exercícios de língua são bons para deixá-la mais solta.


Contando sua estória

Não pense que você tem que ser perfeito na primeira vez que você contar uma estória. É pouco provável. Mas, se você ama sua estória e a preparou razoavelmente bem, certamente você vai dar prazer aos seus ouvintes e a você mesmo. E, a cada vez que você contra a estória, você e a estória vão ficar melhores.
Se possível, conte sua estória primeiro para amigos em um grupo pequeno. À medida que você ganha auto-confiança, apresente-se para grupos maiores, menos intimistas. Mais cedo do que você pensa, você não vai se importar em se apresentar numa sala cheia de estranhos.
Contadores de estórias têm seus próprios estilos, diferindo imensamente. Se uma sugestão aqui não se encaixa em sua ideia de como você quer contar estórias, ignore-a. Não tenha medo de tentar algo diferente, se lhe parece certo.
Um bom espaço para contação é confortável, intimista e livre de distrações. Cheque o espaço com antecedência para que você identifique problemas e providencie necessidades especiais – um banquinho, um copo de água. Você pode também querer um tempo a sós antes de se apresentar para se preparar, ou para aquecer sua voz e seu corpo.
Dê aos seus ouvintes sua força total. Dirija sua voz à última fileira. Faça suas palavras soarem. Evite lixo verbal como “hummm” ou “você sabe”. Sente-se ou fique de pé, mas encare sua audiência de frente e com a espinha ereta. Nada de ficar torcendo as mãos, colocando-as nos bolsos ou ficar mudando de apoio, de um pé para o outro.
Contar estórias é mágico em parte porque é pessoal – então, faça um contato pessoal com seus ouvintes. Fale com eles – não para eles – e não tenha medo de conversar com eles.
Olhe-os nos olhos. Se houver muitos deles, ou se você não conseguir vê-los todos, olhe mais para os da frente. Se alguns não estão prestando atenção, foque naqueles que estão.
Enquanto você conta sua estória, leve o tempo que precisar, e dê tempo aos seus ouvintes – tempo para “ver” a estória, tempo para rir, tempo para refletir, tempo para se segurarem na beirada de suas cadeiras para o que vem a seguir. É fácil ir depressa demais, difícil ir devagar demais. Se você estiver perdendo a atenção deles, você pode precisar de ir um pouco mais devagar! Depois da estória, certifique-se de dar tempo para a audiência apreciar você.
Contar estórias é interação. À medida que seus ouvintes respondem à sua estória, deixe a sua estória responder aos seus ouvintes. Faça sua voz e gestos “maiores” ou “menores”. Estique ou encurta partes da estória. Preste atenção ao que funciona e ao que não, de modo que, na próxima vez, você possa mudar, adicionar ou subtrair algo.
Acima de tudo, confie em você, em sua audiência e em sua estória. Lembre-se, qualquer um que se aproxime para ouvir um contador de estórias já está do seu lado. Apenas ser um contador de estórias é mágico – mesmo antes de que você diga uma palavra.

Dicas finais


Aqui vão alguns modos de ir além com a contação de estórias.
Veja e ouça tantos bons contadores quanto você possa. Você vai apreender técnicas de apresentação, estórias e a magia geral da contação. Festivais de contadores de estórias são eventos maravilhosos que acontecem por toda a América do Norte e Reino Unido.
Leia coleções de contos folclóricos. Você não apenas vai encontrar estórias para contar, mas vai desenvolver o senso do que faz um conto. Isso vai ajudar se você quiser alterar ou criar um conto.
Tome aulas. Muitas faculdades, universidades e outras organizações patrocinam cursos. É um método bastante seguro de começar a contar estórias, com apoio e comentários úteis.
Junte-se a um grupo local de contadores de estórias. Muitas comunidades têm grupos que se encontram para experimentar estórias ou organizar apresentações.
Acima de tudo, conte, conte, conte, tão frequentemente quanto você puder. É o melhor caminho para se aprender a contar estórias!

***

O norte-americano Aaron Shepard é contador de estórias e premiado autor de livros infantis.

sábado, 23 de maio de 2009

Conto: "O burro juiz"

Monteiro Lobato

Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele.
Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse:
— Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam?
— Topamos! piaram as aves.
Mas quem servirá de juiz? Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro.
— Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidê-mo-lo.
Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.
— Vamos lá, comecem! ordenou ele.
O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.
— Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente.
E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos. Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença:
— Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá!

Moral da História:
Quem burro nasce, togado ou não, burro morre.

***
Extraído do site Contos do Covil

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Biografia: Monteiro Lobato - Patrono da Literatura Infantil Brasileira

Por Jussara de Barros*

O dia 18 de abril foi instituído como o Dia Nacional da Literatura Infantil, em homenagem a Monteiro Lobato.
“Um país se faz com homens e com livros”. Essa frase criada por ele demonstra a valorização que o mesmo dava à leitura e sua forte influência no mundo literário. Monteiro Lobato foi um dos maiores autores da literatura infanto-juvenil brasileira. Nascido em Taubaté, interior de São Paulo, em 18 de abril de 1882, iniciou sua carreira escrevendo contos para jornais estudantis. Em 1904 venceu o concurso literário do Centro Acadêmico XI de Agosto, época em que cursava a faculdade de Direito.
Como viveu um período de sua vida em fazendas, seus maiores sucessos fizeram referências à vida num sítio, assim criou o Jeca Tatu, um caipira muito preguiçoso.
Depois criou a história “A Menina do Nariz Arrebitado”, que fez grande sucesso. Dando sequência a esses sucessos, montou a maior obra da literatura infanto-juvenil: "O Sítio do Picapau Amarelo", que foi transformado em obra televisiva nos anos oitenta, sendo regravado no final dos anos noventa.
Dentre seus principais personagens estão D. Benta, a avó; Emília, a boneca falante; Tia Nastácia, cozinheira e seus famosos bolinhos de chuva, Pedrinho e Narizinho, netos de D. Benta; Visconde de Sabugosa, o boneco feito de sabugo de milho, Tio Barnabé, o caseiro do sítio que contava vários “causos” às crianças; Rabicó, o porquinho cor-de-rosa; dentre vários outros que foram surgindo através das diferentes histórias. Quem não se lembra do Anjinho da asa quebrada que caiu do céu e viveu grandes aventuras no sítio?
Dentre suas obras, Monteiro Lobato resgatou a imagem do homem da roça, apresentando personagens do folclore brasileiro, como o Saci Pererê, negrinho de uma perna só; a Cuca, uma jacaré muito malvada; e outros. Também enriqueceu suas obras com obras literárias da mitologia grega, bem como personagens do cinema (Walt Disney) e das histórias em quadrinhos.
Na verdade, através de sua inteligência, mostrou para as crianças como é possível aprender através da brincadeira. Com o lançamento do livro “Emília no País da Gramática”, em 1934, mostrou assuntos como adjetivos, substantivos, sílabas, pronomes, verbos e vários outros. Além desse, criou ainda "Aritmética da Emília", em 1935, com as mesmas intenções, porém com as brincadeiras se passando num pomar.
Monteiro Lobato morreu em 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade. No ano de 2002, foi criada uma Lei (10.402/02) que registrou o seu nascimento como Data Oficial da Literatura Infanto-juvenil.
*Pedagoga

Artigo: "Por que ler Monteiro Lobato?" - Léo Pires Ferreira

"Um país se faz com homens e livros", disse o Patrono da Literatura Infantil Brasileira
Por que ler Monteiro Lobato?
Léo Pires Ferreira
Monteiro Lobato (18/04/1882 – 4/07/1948) disse que "Um país se faz com homens e livros" e nos seus 66 anos de vida escreveu 23 livros da literatura infanto-juvenil, sendo o criador e o iniciador desse tipo de literatura no Brasil.
Nas obras infanto-juvenis de Monteiro Lobato, a dupla do bem (herói ou heroína) contra o mal (vilão ou vilã) não aparecem como personagens. O vilão, ou melhor, a vilã, é sempre a mesma e chama-se ignorância, a qual é sempre derrotada pelo conhecimento, que é o único herói dessas estórias.
Os textos de Monteiro Lobato fazem o seu leitor pensar, condicionando a formação de jovens e adultos com mais capacidade de raciocínio e com senso crítico em cidadania.
Outro ponto importante é a íntima união entre o real e o imaginário. São perfeitamente aceitáveis as existências de uma boneca de pano, a Emília que fala e é muito esperta, e de um boneco feito de um sabugo de milho, o Visconde de Sabugosa, que fala e é um sábio, por ter ficado, por algum tempo, junto com os livros nas estantes da biblioteca de Dona Benta, o que ressalta a importância do livro e da leitura.
Na obra infanto-juvenil de Monteiro Lobato não há as figuras materna e paterna, que, com suas naturais ansiedades, têm tendências restritivas, com excessos de alertas. Situações, por vezes, impedidoras de ações e de pensamentos. A figura da avó tem ações mais amenas, permitindo que as coisas sejam feitas. Assume muita importância a palavra liberdade. Neste caso, liberdade de ação, ou seja, fazer para aprender. Desse modo, Monteiro Lobato ensina a pensar, possibilitando aos seus leitores, crianças e jovens, a liberdade de pensamento, evidentemente com razão e lógica e com inteligência.
Como personagens principais, além dos já citados, há a Dona Benta, o adulto com cultura clássica, a avó que dá conselhos e transmite conhecimentos, mas que aceita e participa das atividades dos jovens, às vezes fazendo alguns alertas; e a Tia Nastácia, o adulto com cultura popular, mentora dessa formação jovem. Narizinho, de nome batismal Lúcia, e Pedrinho, jovens com a faixa etária para a qual Monteiro Lobato estava escrevendo, faixa etária essa que oscila de seis a oitenta anos. Os dois são primos, Narizinho mora no Sítio, não tem mãe e nem pai e Pedrinho, passa todas as férias escolares no Sítio, mora em São Paulo com a mãe, dona Tonica; o pai de Pedrinho nunca é citado.
Monteiro Lobato também deixou 23 livros importantes escritos para adultos, os quais contêm contos maravilhosos (quatro livros), artigos, críticas, ensaios, a luta pelo ferro e pelo petróleo, além de cartas e apenas um romance, ‘O Presidente Negro’, escrito em 1926, que contém uma premonição a um fato de agora, ou seja, o atual presidente dos Estados Unidos.
Todos devem ler os livros que Monteiro Lobato escreveu, crianças e adultos. As crianças e os jovens para aprenderem muita coisa, entre elas um bom conhecimento da língua portuguesa e a formação de um censo crítico positivo das coisas que nos cercam, e os adultos para voltarem a rever conceitos que, talvez, tenham esquecido ou que não tenham aprendido.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Conto: O sol e o vento"

Esse é um bom conto para quebrar o gelo, numa sessão de estórias, especialmente com adultos. Não sei quem é o seu autor, mas há várias versões dele. Essa que publico aqui é a minha preferida.
***
Um certo dia, o sol e o vento estavam discutindo sobre qual dos dois era o mais forte. O vento se gabava de, com seu poder, provocar ventanias, furacões, tornados, tempestades e toda sorte de catástrofes. O sol apenas sorria da gabolice do amigo. O vento disse, então:
- Quer ver como sou poderoso? Vê aquele velho que vem lá embaixo com um capote? Aposto que posso fazer com que ele o tire mais depressa do que você.
O sol recolheu-se atrás de uma nuvem e o vento soprou com toda sua força, até quase se tornar um furacão. Mas, quanto mais ele soprava, mais frio ficava e o velho mais firme segurava o capote para se proteger. Cansado de tanto esforço, o vento desistiu de soprar. O sol, então, saiu de trás da nuvem e brilhou com todo o seu esplendor, aquecendo tudo. Não aguentando o imenso calor que de repente se fez, o velho, mais que depressa, tirou o capote. O sol era o vencedor.

domingo, 17 de maio de 2009

Conto: "A existência de Deus"

"Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!"

Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto fervor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez, o rico chefe de grande caravana chamou-o à sua presença e lhe perguntou:

- Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, quando nem ao menos sabes ler?

O crente fiel respondeu:

- Grande senhor, conheço a existência de nosso Pai Celeste pelos sinais dele.

- Como assim? – indagou o chefe, admirado.

O servo humilde explicou-se:

- Quando o senhor recebe uma carta de uma pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?

- Pela letra, pelo estilo, pela maneira de se expressar.

- Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa quanto ao autor dela?

- Pela marca do ourives.

O empregado sorriu e acrescentou:

- Quando ouve passos de animais, em redor da tenda, como sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?

- Pelos rastros – respondeu o chefe, surpreendido. Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mostrando-lhe o céu, onde a lua brilhava, cercada por multidões de estrelas, exclamou, respeitoso:

- Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!

Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimosos, ajoelhou-se na areia e começou a orar também.

***

Autor desconhecido

sábado, 16 de maio de 2009

Cigana Contadora de Histórias no blog Cacoetes

Cacoetes: Cigana Contadora de Histórias - 10/10/2007

Você sabia que, se não fossem os piolhos, o mundo não teria se enchido de gente? Pois é: Deus, tentando juntar Adão a Eva, que custavam a se apaixonar, jogou vários desses insetos sobre os dois moradores do Jardim do Éden. Na busca de coçar as costas um do outro, eles, enfim, aproximaram-se. O conto é apenas uma demonstração do que uma criança pode aprender através da contação de histórias. A prática, que nem sempre faz parte dos lares, é uma excelente forma de causar desejo de ler, conforme ensina a Cigana Contadora de Histórias, personificada pela jornalista Gabriela Kopinits, em Caruaru. Ela, que se considera uma “traça de livros”, repassa sua paixão pela leitura para crianças e adolescentes em escolas, bairros pobres e hospitais, levando a magia das lendas, mitos, folclores e fábulas e oferecendo, voluntariamente, um dia de alegria para os pequenos.

Gabriela tomou gosto por histórias aos quatro anos de idade, quando o pai começou ler para ela, sentado à beira da cama, antes de dormir. Daí em diante, autores como Monteiro Lobato e Ana Maria Machado ganharam uma fiel seguidora, que tenta propagar que “uma criança se torna um adulto mais seguro, feliz e equilibrado se tiver acesso à literatura”. Um dos livros preferidos da jornalista é o Contos Tradicionais do Brasil, do escritor Câmara Cascudo, considerado o Papa do folclore brasileiro. Nessa obra, a criançada pode encontrar muitos dos costumes, linguagens e crenças brasileiros. Literatura de cordel ajuda a compor o rol de predileções da contadora – e dos seus expectadores mirins também.

“Clássicos como Os Três Porquinhos, A Bela Adormecida e a Branca de Neve continuam encantando meninos e meninas. Aos poucos, eles começam a se aproximar, e quando percebo, já estão grudados na barra da minha saia, pra não se dispersar de uma só palavra”, descreve a Cigana, que hoje ajuda a manter, através da Secretaria Municipal de Educação, o Projeto de Incentivo à Leitura (em escolas públicas) e o Poesia, Alimento da Alma (com a participação de artistas da cidade).

Gabriela Kopinits foi convidada, no ano passado, para participar de uma noite de contação de histórias, organizada pelo Montalvo Arts Center, na Califórnia, Estados Unidos. A participação foi através do envio de um cd com histórias e fotos. No próximo dia 21, a jornalista estará se apresentando na Favela da Lata, em Caruaru. Quem quiser chamá-la para fazer a festa da garotada, deve ligar para o telefone (81) ****-****.

Myllena Valença

* Matéria publicada originalmente na Folha de Pernambuco

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Texto: "Contar histórias, uma arte maior" - Celso Sisto

"Contar histórias emancipa tanto quem conta, quanto quem ouve".

Verdade lindamente expressa pelo contador de histórias, ator, escritor, ilustrador e mestre em Literatura Brasileira Celso Sisto, em seu estudo da arte de contação de histórias (e estórias), que publico abaixo, como material de apoio para quem está iniciando nessa arte, incluindo a excelente bibliografia que o Celso indica.

***

"Contar história pode ser uma sinfonia. Desde que nesta sinfonia, orquestrada com palavras, entrem todos os instrumentos: do sopro da respiração, ao metal da voz; do dedilhar do corpo, ao ribombar do olhar.
Contar histórias pode ser uma opereta. Desde que nesse gênero cênico do conto, as partes embaladas pelo ritmo da fala se alternem com o que se narra com alma.
Contar histórias pode ser uma dança coreográfica. Desde que nesta seqüência de palavras com corpos e corpos com palavras, se esteja inteiramente comprometido com a melhor maneira – e nunca a única – de se expressar o coração da palavra. E que a fala, os movimentos, passos e gestos estejam associados à emoção, e claro, à plasticidade.
Contar histórias na verdade é a união de muitas artes: da literatura, da expressão corporal, da poesia, da musica, do teatro... Não há como ignorar esse quê de performático do contar histórias. Ainda que o foco maior seja apenas a voz e o texto, projetados no espaço, para atingir uma plateia. A utilização apenas desses dois elementos, voz e texto, por si só já bastaria para caracterizar o cênico e o dramático.
Mas a palavra merece mais do que um espetáculo. A palavra na boca de quem conta é o próprio espetáculo, se com isso extrapolar-se a noção de cartilha. Se para isso o narrar, o comunicar, o dialogar, o atingir outrem, o suspender o tempo, o emocionar, estiverem conjugados de modo a transformarem um texto em objeto duplamente estético. Estético na escrita, estético na passagem para a oralidade. Impacto estético antes, durante e depois!
As palavras contadas, então, adquirem um aspecto melódico, rítmico, visual; trazem no jeito que foram ditas, uma concretude que faz o outro ver o que se narra. As palavras contadas surgem prenhes de intenção, força, emoção. As palavras contadas querem dizer muito mais do que dizem em sua camada fônica.
Então, o que é necessário para que contar histórias seja arte ao alcance de quem deseja fazê-la? Extrapolar as amarras do didático, do exemplar e do mero informativo. Saltar da obrigação de ensinamento para a noção de fruição, de prazer estético, de embelezamento da conversa trocada através de uma história, do exercício de linguagem que procura a forma adequada para dizer-se de si mesmo.
Mas duvido que uma história bem contada não produza ecos no ouvinte! Ecos que se prolongam para além do momento do narrado.
Essas marcas, visíveis e invisíveis, nem sempre se pode perceber no calor da hora. Quem ouve uma história quer sempre ser atingido, de alguma forma, quer ser atingido. Quem conta, quer igualmente experimentar o poder da palavra (não sejamos hipócritas!), o poder do encantamento, e o poder do vice-versa: marcar e ser marcado! Estamos falando de uma arte que se faz, num momento específico, irrepetível, e de uma arte do que fica, para o depois do acabado! Contar, então, é também a arte da reverberação!
E quem é que dá esse status de arte, tão cutânea, ao contar história? A dignidade de quem conta, ao lidar com a palavra, sua ou do outro. A ética de quem conta, ao usar esse instrumento de sedução, tão aberto aos mecanismos de manipulação. Não é o carimbo da biblioteca, nem a exposição na prateleira dos livros de arte da livraria, nem o lugar fixo entre as dissertações e as teses universitárias (e nós, não temos, nem ao menos, uma crítica especializada no assunto!) que garantem o lugar de arte para o contar histórias. É o fazer, “in vivo” (que é mais que “in loco”), que é este fazer que permite quase tocar o texto com as mãos, quase roçar nos olhos do ouvinte com a história, quase apresentar as infinitas possibilidades de leitura de um texto. A arte do contar histórias opera antes com a noção de sugestão, de esboço. Nenhum contar é definitivo e pronto e acabado. Toda história contada oralmente é antes de tudo, uma obra em processo, que
precisa do outro para ser completada.
Mas não basta boa intenção para fazer arte. A arte de contar exige um fazer anterior, um preparo, um domínio prévio, um conhecimento, estudo, ensaio, profundidade. E é, evidentemente, exercício de longo prazo. A arte de contar histórias é também a arte de não fazer concessões: contar bons textos, contar tendo preparado, contar para ir além do que se conta. No mínimo, técnica e emoção. Técnica e repertório. Na ordem que se preferir!
Mas agora, deixemos de lado essa noção de hierarquia (aliás, quem pode dizer o que é maior e o que é menor em arte?). Maior deve ser aquilo que você faz por inteiro. Menor pode ser aquilo que se faz de qualquer jeito, sem compromisso, sem entrega. Maior tem sido a maneira como o contar histórias tem aberto caminho nesses novos tempos de vida tumultuadamente urbana, overdose de mídia eletrônica e pressa das linguagens vídeo-clipes. Maior será sempre essa soma pessoal e social que o contar proporciona, cada vez que uma biblioteca se abre para a hora do conto e a literatura viva como projeto e não como evento, que um professor conta histórias na sua sala de aula, sem preocupações didáticas, que os teatros ou outros espaços permitem ocupações menos espetaculares, que uma família se reúne para simplesmente trocar histórias. Prefiro pensar que o contar é arte para ver, ouvir, sentir; arte para um fazer coletivo; arte para ser. De uma coisa estou certo, contar histórias emancipa tanto quem conta, quanto quem ouve. O sujeito ouvinte, e o sujeito leitor. E isso já não basta?!"

***

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABAD, Ernesto Rodríguez & BERENGUER, Maryta. Sin colorín colorado: manual práctico para aprender a contar y a jugar con los cuentos. Bahía Blanca (Argentina), Editorial Master, 2005.
BAJARD, Elie. Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito. São Paulo, Cortez, 1994.
BAKER, Augusta & GREENE, Ellin. Storytelling: art & technique. New York, R. R. Bowker Company, 1977.
BARBA, Eugenio. Além das ilhas flutuantes. Campinas, Hucitec, 1991.

BOVO, Ana Maria. Narrar, ofício trémulo: conversaciones con Jorge Dubatti. Buenos Aires, Editorial Atuel, 2002.
BROOK, Peter. A porta aberta: reflexões sobre a interpretação e o teatro. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999.
BRYANT, Sara Cone. El arte de contar cuentos. Barcelona, Biblària, 1995.
BURNIER, Luís Otávio. A arte de ator: da técnica à representação. Campinas,SP; Editora da UNICAMP, 2001.
BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos segredos da narrativa. Rio de Janeiro, Vozes, 2003.
_____________. A arte de contar histórias no século XXI: tradição e ciberespaço. Petrópolis, Vozes, 2006.
CASTRONOVO, Adela & MARTIGNONI, Alicia. Caminos hacia el libro: narración y lectura de cuentos. Buenos Aires, Ediciones Colihue, 1994.
CHAVES, Otília. A arte de contar histórias. Rio de Janeiro, Confederação Evangélica do Brasil, 1952.
COELHO, Betty. Contar histórias, uma arte sem idade. São Paulo, Ática, 1986.
Cuenteros y cuentacuentos de lo espontáneo a lo profesional. vol 2. Compendio del 5º al 9º Encuentro Internacional de Narración Oral. Buenos Aires, Fundación El Libro/Asociación de Literatura Infantil-Juvenil Argentina/Istituto SUMMA Fundacion Salottiana, s.d.
DEPARTAMENTO DE LITERATURA Y NARRACIONES INFANTILES. Teoría y técnica del arte de narrar IV. Habana, Biblioteca Nacional José Martí, Consejo Nacional de Cultura, 1968.
ESTHÉS, Clarissa Pinkola. O dom da história. Rio de Janeiro, Rocco, 1998.
FERNANDES, Federico Augusto Garcia (org.) Oralidade e literatura: manifestações e abordagens no Brasil. Londrina, Eduel, 2003.
FERRACINI, Renato. A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator. Campinas-SP, Editora da UNICAMP, 2003.
GIRARDELLO, Gilka (org.). Baús e chaves da narração de histórias. Florianópolis, SESC-SC, 2004.
HORIZONTES ANTROPOLÓGICOS: CULTURA ORAL E NARRATIVAS. Porto Alegre, ano 5, n. 12, dezembro de 1999.
MACHADO, Regina. Acordais: fundamentos teóricos-poéticos da arte de contar
MARQUEZ, Martha Mendes (coord.). Da arte de contar histórias – caderno de informação e arte Palavra Imagem, nº 4. Belo Horizonte, Secretaria de Estado da Educação, 1996.
MATO, Daniel. Como contar cuentos. Caracas, Monte Avila Latinoamericana, 1991.
MATO, Daniel. Narradores en accion: problemas epistemologicos, consideraciones teoricas y observaciones de campo en Venezuela. Caracas, Biblioteca de la Academia Nacional de la Historia, 1992.
MATO, Daniel. El arte de narrar y la noción de la literatura oral. Caracas, Universidad Central de Venezuela, consejo de Desarrollo Científico y Humanístico, 1992.
MATOS, Gislayne Avelar. A palavra do contador de histórias. São Paulo, Martins Fontes, 2005.
MATOS, Gislayne Avelar , SORSY, Inno. O ofício do contador de histórias. São Paulo, Martins Fontes, 2005.
MELLO, Nancy. A arte de contar histórias. Trad. de Amanda Orlando e Aulyde Soares Rodrigues. Rio de Janeiro, Rocco, 2006.
Mnemósyne: Revista del Festival Internacional del Cuento. Los Silos , Número 2, Diciembre 1999.
Mnemósyne: Revista del Festival Internacional del Cuento. Los Silos, Número 3, Diciembre 2000.
MOREIRA, Inês Cardoso Martins (org). Poesia popular: aulas radiofônicas: Rádio MEC: 1963-1964/Thiers Martins Moreira. Rio de Janeiro, Edições Casa de Rui Barbosa, 2004.
PADOVANI, Ana. Contar cuentos: desde la práctica hacia la teoría. Buenos Aires, Editorial Paidós, 1999.
PATRINI, Maria de Lourdes. A renovação do conto: emergência de uma prática oral. São Paulo, Cortez, 2005.
PRIETO, Heloisa. Quer ouvir uma história? São Paulo, Angra, 1999.
RIBEIRO, Jonas. Ouvidos dourados: a arte de ouvir as histórias... para depois contá-las. São Paulo, Ave-Maria, 2001.
RYNGAERT, Jean-Pierre. Introdução à análise do teatro. São Paulo, Martins Fontes, 1996.
SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. Chapecó, Argos, 2001.
__________. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias (2ª ed. revista e ampliada). Curitiba, Positivo, 2005. 144p.
STANISLAVSKY, Constantin. A preparação do ator. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1979.
______________. A construção da personagem. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983.
______________. A criação de um papel. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1984.
TAHAN, Malba. A arte de ler e de contar histórias. Rio de Janeiro, Conquista, 1957.
VERGARA, Gloria. Palabra em movimiento: princípios teóricos para la narrativa oral. México, Editorial Práxis, 2004.
WARNER, Marina. Da fera à loira: sobre contos de fadas e seus narradores. São Paulo, Cia. das Letras, 1999.
ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção e leitura. São Paulo, Educ, 2000.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Matéria: Parabéns – Você mãe é a grande responsável pela formação de apaixonados pela leitura no Brasil

Matéria publicada no site do Instituto Pró-Livro, ONG dedicada ao fomento da leitura e à difusão do livro no Brasil:

"Nem tudo na vida precisa necessariamente ser verbalizado para ser ensinado. Ensina-se pelo exemplo, agindo, sentindo, mostrando amor ao que faz. Com a chegada do dia das mães, o Instituto Pró-Livro, responsável pela segunda edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil achou por bem homenagear aquela que verdadeiramente vive fazendo a diferença na vida das pessoas.
Segundo os resultados da pesquisa, um em cada três leitores tem lembranças da mãe lendo algum livro e 51% dos leitores tem na mãe sua grande incentivadora no processo de ler por prazer. O papel dos pais mostra-se mais relevante ainda quando são feitas comparações entre leitores e não-leitores. Entre as crianças de 5 a 10 anos, 73% delas citam as mães como quem mais as estimularam a ler. A importância feminina é ainda maior no Norte (59%) e no Nordeste (56%) do país, muito acima dos professores. O melhor é que para estas mulheres guerreiras está claro que ler não é só aprender a decodificar os códigos e símbolos da escrita. A leitura torna a viagem acessível, libera sentimentos, paixões, amplia a visão e mostra que os sonhos auxiliam na formação da realidade.
Segundo comentário do célebre escritor Moacyr Scliar “a própria palavra símbolo é muito significativa. Vem do grego symbolon, em que syn quer dizer juntos, e bolon é arremessar. Unidos por símbolos nós, humanos, nos arremessamos juntos nesta aventura que é a vida. Juntos, não separados; este caráter de união que o símbolo proporciona é uma coisa importante.” Moacyr Scliar ainda comenta em seu artigo, que faz parte do livro Retratos da Leitura no Brasil, o quanto sua mãe teve participação em sua formação como leitor e depois na decisão de ser escritor. “Minha mãe era imigrante; foi à escola, terminou o curso normal (era professora primária, como se dizia na época) e uma grande leitora – tão fã de José de Alencar que deu ao filho o nome de um dos personagens criados pelo grande escritor. Ela fazia questão de que os filhos lessem, e uma vez por ano levava-me à Livraria do Globo, no centro de Porto Alegre, onde havia uma espécie de feira do livro. Eu ficava absolutamente deslumbrado naquela enorme livraria, e a vontade que tinha era de comprar todos os livros alí existentes. Mas eu sabia que livro custa dinheiro, sabia que na nossa casa a grana era escassa, de modo que lhe perguntava quanto eu estava autorizado a gastar. E a resposta dela era uma só: na nossa casa não pode faltar livros, compra quantos quiseres.”
Assim como fez a mãe de Scliar, muitas outras mulheres têm iniciado seus filhos e sua família no mundo da leitura, mostrado seus encantos apesar de tantos outros estímulos que os jovens têm hoje com o advento da internet, dos jogos de videogame e muito mais. O IPL parabeniza a todas as mães e mulheres pela luta permanente para formar leitores e brasileiros melhores e parodia o que foi dito por Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”. Com suas ações e exemplo hoje as mulheres certamente estão colaborando para uma sociedade brilhante.

Mais informações sobre a pesquisa, acesse o site: www.prolivro.org.br"

Conto: Uma lenda chinesa

Autor desconhecido

Há muito tempo, uma menina chinesa chamada Lili se casou e foi viver com o marido e a sogra. Depois de alguns dias, passou a não se entender com a sogra. As personalidades delas eram muito diferentes uma da outra e Lili foi se irritando com os hábitos dela, que frequentemente a criticava.

Meses se passaram e Lili e sua sogra cada vez mais discutiam e brigavam. De acordo com antiga tradição chinesa, a nora tinha que se curvar à sogra e obedecê-la em tudo. Lili, já não suportando mais conviver com essa situação, decidiu visitar um amigo de seu pai, um velho sábio.

Depois de ouvi-la, ele pegou um pacote de ervas e lhe disse:

-Vou lhe dar várias ervas que irão lentamente envenenar sua sogra.A cada dois dias ponha um pouco destas na comida dela. Agora, para ter certeza de que ninguém suspeitará de você quando ela morrer, você deve ter muito cuidado e agir de forma muito amigável.

Lili ficou muito contente, agradeceu o sábio e voltou apressada para casa para começar o projeto de matar sua sogra. Semanas se passaram e a cada dois dias Lili servia a comida "especialmente tratada" à sua sogra.

Ela sempre lembrava do que o velho sábio tinha recomendado sobre evitar suspeitas e assim controlou o seu temperamento, obedeceu à sogra e a tratou como se fosse sua própria mãe.

Depois de seis meses, a casa inteira estava com outro astral. Lili tinha controlado o seu temperamento e quase nunca se aborrecia.

Nesses seis meses, não tinha tido nenhuma discussão com a sogra, que agora parecia muito mais amável e mais fácil de se lidar. As atitudes da sogra também mudaram e elas passaram a se tratar como mãe e filha.

Um dia, Lili foi novamente procurar o Sr. Huang para pedir-lhe ajuda e disse:

-Querido Sr. Huang, por favor, me ajude a evitar que o veneno mate minha sogra! Ela se transformou numa mulher agradável e eu a amo como se fosse minha mãe e não quero que ela morra por causa do veneno que eu lhe dei.

O Sr. Huang sorriu e acenando a cabeça, disse:

-Lili, não precisa se preocupar. As ervas que eu lhe dei não eram venenosas e sim vitaminas especialmente preparadas para melhorar a saúde dela. O veneno estava na sua mente e na sua atitude, mas foi jogado fora e substituido pelo amor que você passou a dar a ela.

domingo, 10 de maio de 2009

Conto: "O anjo Mãe"

Esse é um conto muito lindo, que li há algum tempo e já contei para umas mulheres que acompanhavam suas crianças na emergência do Hospital Municipal Dr. Manoel Afonso, aqui em Caruaru. Elas gostaram muito e algumas até se emocionaram.
Aqui publico, como uma pequena homenagem a esses anjos chamados mães, em especial a Solange, minha mãe, desencarnada há 12 anos (na foto, com meu irmão Markus), a minha mãe 2, Sonia, e minha dindinha Vera, anjos bons que o Senhor colocou no meu caminho, vestidas de tias.



Uma criança pronta para nascer perguntou a Deus:
- Soube que estarei em breve sendo enviada à Terra. Como eu vou viver lá, sendo assim pequeno e indefeso?
E Deus lhe disse:
- Entre muitos anjos, eu escolhi um especial para você. Ele estará lhe esperando e tomará conta de você.
E a criança perguntou:
- Aqui no céu eu não faço nada, a não ser cantar e sorrir, o que é suficiente para que eu seja feliz. Serei feliz lá?
Deus respondeu:
- Seu anjo cantará e sorrirá para você... A cada dia, a cada instante, você sentirá o amor dele e será feliz.
- Como poderei entender quando falarem comigo se eu não conheço a língua que as pessoas falam?
E Deus afirmou:
- Com muita paciência e carinho, seu anjo lhe ensinará a falar.
- E o que farei quando quiser Te falar?
- Seu anjo juntará suas mãos e lhe ensinará a rezar.
E a criança ainda perguntou a Deus:
- Eu ouvi dizer que na Terra há homens maus. Quem me protegerá?
- Seu anjo lhe defenderá mesmo que signifique arriscar sua própria vida.
- Mas eu serei sempre triste porque eu não Te verei mais, disse a criança.
- Seu anjo sempre lhe falará sobre Mim e lhe ensinará a maneira de vir a Mim. Eu estarei sempre dentro de você.
Nesse momento havia muita paz no céu, mas as vozes da Terra já podiam ser ouvidas pela criança. Ela, apressada, suplicou a Deus:
- Está chegando a hora de eu ir. Agora diga, por favor, o nome do meu anjo.
E Deus respondeu:
- Você chamará seu anjo de MÃE!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Como virei contadora de estórias - Parte II

Continuando...
Depois de me apaixonar pelo Recife e suas histórias, descobrir os sebos e seus tesouros - e, com eles, livros belíssimos como a coleção do Malba Tahan, encontrei a coleção Tesouro da Juventude, na casa de um grande amigo, Klaus Mock, em S.Paulo. Aliás, agradeço muito a ele pelo incentivo que me deu para desenvolver meu projeto do site de contos de fadas.

O Tesouro da Juventude tem 18 volumes e é uma preciosidade para orientar, educar e divertir a garotada. Editada no final da década de 50, se não me engano, a coleção traz contos, lendas e fábulas muito interessantes, muitas não tão conhecidas como as de Perrault, Andersen ou dos Grimm.

Muitas das estórias que divulguei no meu site - Contos de Fadas - foram adaptadas das que eu li nessa coleção.

Continuei com o trabalho no site, recolhendo, pesquisando, traduzindo e adaptando contos de todo o mundo, estudando sobre a arte dos contadores de estórias. Vi "As mil e uma noites", filme produzido pelo canal Hallmark em 1999, e me encantei com a Sheherazade. Quem não sabe que foi por sua arte de entreter o sultão Shariar que ela salvou sua própria vida?

Ok, vou contar aqui essa história, com apoio do site História das Mulheres através da Arte:
SHEHERAZADE - Lenda árabe

Sheherazade, a heroína de "As mil e uma noites", foi uma das maiores contadoras de estórias do mundo. Embora uma personagem legendária - vale lembrar que todas a lendas são baseadas em fatos -, Sheherazade, uma mulher de inteligência excepcional, sabedoria e bravura, salvou não só sua própria vida, mas a de milhares de donzelas do seu país, um reinado na antiga Arábia, contando uma série de contos enfeitiçadores, que acabaram por educar e transformar um rei.

Shariar, legendário rei da Samarkand, descobriu que estava sendo enganado por sua mulher e, como punição, mandou matá-la e a mais uma sucessão de 3 mil virgens - uma por noite. Tudo por não confiar mais nas mulheres.

Contra a vontade do seu pai, vizir (espécie de primeiro-ministro) de Shariar, Sheherazade se ofereceu para passar uma noite com o rei. Uma vez nos aposentos reais, ela perguntou se poderia se despedir de sua amada irmã Dunyazade. O rei concordou. Ora, Sheherazade e a irmã tinham combinado um estratagema. Dunyazade iria lhe pedir para contar uma estória para ajudar a passar a longa noite. A estória era tão interessante que o rei não conseguiu despregar os olhos e nem os ouvidos de Sheherazade, e acabou passando a noite acordado, escutando assombrado a narrativa da bela e esperta mulher.
Ao ver que a aurora já estava chegando, Sheherazade interrompeu sua estória, dizendo que não teria mais tempo, o carrasco já a esperava para sua execução. O rei pediu que ela contasse só mais um pouquinho, no entanto Sheherazade foi irredutível. Infelizmente, o tempo acabou. O que era uma pena, pois a próxima estória era ainda mais interessante... Então, o rei decidiu manter Sheherazade viva enquanto ele antecipava, com avidez, o momento de ouvir a nova estória.

E assim Sheherazade foi enrolando o rei, contando uma estória que nunca se acabava, pois o enredo de uma conduzia ao da outra. Ao final de mil e uma noites de contos de aventuras, o rei não só tinha sido se divertido com as estórias, mas, principalmente, foi transformado num homem melhor, sabiamente educado em moral e bondade, por Sheherazade, que se tornou sua rainha.

***

Depois de ver esse filme, fiquei com a ideia na cabeça. Já gostava muito da cultura árabe, da música, da vestimenta das suas dançarinas. Simpatizava também com os ciganos, povo de quem tenho a alma e algumas gotas de sangue, ainda que longínquo. Juntei uma coisa na outra e acabei virando a Cigana Contadora de Estórias!

A minha estreia foi em Caruaru, em 2001. Minha amiga Yone Amorim, uma daquelas pessoas que gostam de movimentar a cidade, de trabalhar com o povo, aliando cultura, arte e atenção social, perguntou um dia:

- Gabi, você topa contar estórias numa creche? Estou pensando em colocar aí um projeto de incentivo à leitura...

Ela trabalhava na Secretaria de Ação Social e eu na de Imprensa, na Prefeitura de Caruaru.

Topei sim, meio com medo de fazer feio, de me sair mal, das crianças não gostarem. Mil medos, mas já sentindo aquele friozinho na barriga.

A visita à creche foi marcada. Passei o dia me preparando, num nervoso que fazia dó. Não tinha ainda meu traje de cigana, só um de Branca de Neve. Fui com esse mesmo. A estorinha escolhida, lógico, foi a da própria.

Cheguei na creche - aliás, Centro Municipal de Educação Infantil Justina de Freitas - muito tímida, ainda mais com o olhar curioso dos professores. Na época, não se falava de contador de estórias em Caruaru. As bibliotecárias das escolas é que costumavam ler livros para os alunos, mas ler não é contar.
Fiquei aguardando na sala da diretoria, enquanto a meninada era acomodada na biblioteca da creche. Ainda nervosa, fui repassando a estória que tinha me programado para contar. A diretora veio me buscar, toda amável, creio que feliz por ter algo bacana para apresentar para a sua criançada, todas de famílias carentes.

Entrei na biblioteca, as crianças já me esperando, alguns professores sentados. Os olhares me escaneavam de alto a baixo. Tentei sentir-me segura, dona da situação. Acho que a fantasia me ajudou um pouco, me senti encantada. O feitiço da personagem atraía os olhares curiosos das crianças. Eram cerca de vinte.
Sentei no chão e elas se sentaram à minha frente, formando um semicírculo. Comecei com o tradicional "Era uma vez..." e contei a estória da bela princesinha, detestada pela madrasta malvada, que foge para o bosque, é "adotada" pelos sete anões, etc etc.
As crianças adoraram e pediram mais. Ixi, e agora? Eu não tinha a mínima ideia de como era uma sessão de estórias e só tinha ensaiado uma. Remexi a memória e puxei a dos 3 Porquinhos. A parte em que o lobo puxa ar dos pulmões e sopra com toda a força, fiz como ele, puxei ar dos meus pulmões e soprei com toda a minha força.

A meninada ouvia a estória mesmerizada, seguindo todos os meus movimentos e até imitando o que eu fazia nesse trecho da estória. Foi um sucesso! Aí eu já estava relaxada, certa da minha arte, preparada para contar mais. Pena que o tempo foi curto e os professores tiveram que levar os meninos de volta para a sala.

Mas foi um dia tão feliz, esse meu primeiro como contadora de estórias de VERDADE!
Eu agradeço muito a Yone (as fotos foram tiradas por ela), pela iniciativa de me levar para a creche pois foi nesse dia, depois desse abraço gostoso da criançada, que nasci mesmo para essa arte encantada dos contos.
Depois desse dia, vieram muitos outros. O projeto "Incentivo à leitura através da arte, da poesia e das estórias" foi aprovado pelo prefeito da época - Tony Gel - e visitamos, entre 2001 e 2008, muitas outras creches, escolas e até hospitais e policlínicas.
Mas essa é uma estória para contar outro dia.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Conto: "Ainda o amor"

Já há algumas semanas, fazemos aqui em casa, às quartas-feiras, o Evangelho no Lar. Reunimos a família, geralmente mais um ou dois amigos, e lemos o Evangelho segundo o Espiritismo, debatendo depois o que a Espiritualidade escolheu para o nosso aprendizado e o de nossos irmãos desencarnados, que também vieram para participar de nossa pequena reunião.
Na noite de hoje, foi o capítulo 14, que fala da avareza.
Avareza e egoísmo andam juntos, pois o avaro nada mais é do uma pessoa que não quer apartar de si nem o mínimo que, por acaso, possua. O oposto da avareza é a caridade. "Fora da caridade, não há salvação", diz Cristo, em sua Lei do Amor. E falando de amor, aproveitei para contar uma estória muito bonita, que recebi do site Momento Espírita.


Ainda o amor

Nos dias que vivemos, muito se ouve falar a respeito do amor. Suspiram os jovens por sua chegada, idealizando cores suaves e delicados tons. Alguns o confundem com as paixões violentas e degradantes e, por isso mesmo, afirmam que o amor acaba.
Entretanto, o amor já foi definido pelos Espíritos do Bem como o mais sublime dos sentimentos. Reveste-se de tranquilidade e confere paz a quem o vivencia.
Não é produto de momentos, mas construção laboriosa e paciente de dias que se multiplicam na escalada do tempo.
Narra o famoso escritor inglês Charles Dickens que dois recém-casados viviam modestamente. Dividiam as dificuldades e sustentavam-se na afeição pura e profunda que devotavam um ao outro.
Não possuíam senão o indispensável, mas cada um era portador de uma herança particular.
O jovem recebera como legado de família um relógio de bolso, que guardava com zelo. Na verdade não podia utilizá-lo por não ter uma corrente apropriada.
A esposa recebera da própria natureza uma herança maravilhosa: uma linda cabeleira. Cabelos longos, sedosos, fartos, que encantavam.
Mantinha-os sempre soltos, embora seu desejo fosse adquirir um grande e lindo pente que vira em uma vitrina, em certa oportunidade, para os prender no alto da cabeça, deixando que as mechas, caprichosas, bailassem até os ombros.
Transcorria o tempo e ambos acalentavam o seu desejo, sem ousar expor ao outro, desde que o dinheiro que entrava era todo direcionado para as necessidades básicas.
Em certa noite de Natal, estando ambos face a face, cada um estendeu ao outro, quase que ao mesmo tempo, um delicado embrulho.
Ela insistiu e ele abriu o seu primeiro. Um estranho sorriso bailou nos lábios do jovem. A esposa acabara de lhe dar a corrente para o relógio.
Segurando a preciosidade entre os dedos, foi a vez dele pedir a ela que abrisse o pacote que ele lhe dera.
Trêmula e emocionada, a esposa logo deteve em suas mãos o enorme pente para prender os seus cabelos, enquanto lágrimas significativas lhe rolavam pelas faces.
Olharam-se ambos e, profundamente emocionados descobriram que ele vendera o relógio para comprar o pente e ela vendera os cabelos para comprar a corrente do relógio.
Ante a surpresa, deram-se conta do quanto se amavam.
* * *
O amor não é somente um meio, é o fim essencial da vida.
Toda expressão de afeto propicia a renovação do entusiasmo, da qualidade de vida, de metas felizes em relação ao futuro.
* * *
O amor tem a capacidade de estimular o organismo e de lhe oferecer reações imunológicas, que proporcionam resistência para as células, que assim combatem as enfermidades invasoras.
O amor levanta as energias alquebradas e é essencial para a preservação da vida.
Eis porque ninguém consegue viver sem amor, em maior ou menor expressão.



Redação do Momento Espírita com base em conto de Charles Dickens, e no cap. 13 do livro Momentos enriquecedores, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

Conto: "O semeador de tâmaras"

Esta versão vem do livro El saber es más que la riqueza, de  Silvia Dubovoy O semeador de tâmaras Em um oásis perdido no deserto, o velho El...