segunda-feira, 4 de maio de 2009

Como virei contadora de estórias - Parte I

Cresci adorando ler. Lia tanto, até com pouca luz, que acabei ganhando uma bela miopia, que carrego desde os 12 anos. Mas nem isso me tirou o "vício"... hehehe... 24 anos depois, continuo lendo muito, onde quer que eu esteja.
Mas estou fugindo ao tema. E fuga ao tema é nota zero em Redação. Quem lembra disso?
Comecei a contar estórias bem por acaso mesmo. Lembro-me que tinha comprado uma coleção do Malba Tahan - um verdadeiro tesouro, em capa de couro vermelho - e tinha gostado tanto, especialmente dos contos das Mil e Uma Noites, que fui contar ao meu pai, que estava pintando a grade de casa. Entusiasmada, relatei o episódio em que o bobo do sultão engasga com a espinha de um peixe e é dado como morto, mas ninguém quer levar a culpa pela morte do artista favorito do rei, aí ficam levando o corpo de porta em porta, até que descobrem que... bem, não vou estragar a estória, contando o final...
Para encurtar, meu pai (que é bem impaciente e não gosta de ser interrompido com conversa fiada quando está trabalhando) parou para me escutar, interessado na estória, e riu muito do engraçado final.
Era 1994 para 1995, eu estava terminando meu curso de Jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco e meu projeto de conclusão era um guia histórico e turístico do velho Recife. Li dezenas de livros e acabei me apaixonando pela cidade, como disse o poeta Carlos Pena Filho, "metade roubada ao mar; metade, à imaginação".
Depois de tanta leitura, de tantos personagens e histórias - com "h" mesmo, por serem histórias reais -, sempre que eu passeava com meu pai pelos bairros velhos de nossa cidade - Santo Antônio, São José, Boa Vista e Recife Antigo - eu ia contando para ele os causos registrados por escritores como Carneiro Vilela, em sua "A emparedada da Rua Nova", ou Mário Sette, em seu "Arruar", causos que tornaram as andanças pelo Recife mais coloridas, impregnadas de vida, de risos, dramas, amores, crimes, enfim, tornaram mais humanas as velhas ruas de pedra do Recife.
Meu pai ria e dizia que tinha que ter ouvido para aguentar tanto tagarelar, que não sabia a quem eu tinha puxado... hehehe...
Envolvida nessa paixão pelas estórias (e histórias), criei um personagem - Ariel le Fey - e um site - "Era uma vez...", para incentivar a leitura, principalmente entre as crianças. Fiz o site com tanto carinho e cuidado que ganhei até um prêmio, ficando ele entre os melhores de literatura infantil da antiga Revista da Web.
Foi através desse site, onde publiquei centenas de contos de fadas, lendas e mitos, que uma senhora de 85 anos me procurou, dizendo que buscava uma estorinha que explicasse a origem do arco-íris para poder contar para a neta. Pensei, deu tratos à bola, como se dizia antigamente, remexi a cachola e inventei um: "Os sete anjos do arco-íris" (depois coloco aqui). Mandei para ela e ela disse que a netinha adorou a estória. Eu fiquei muito contente. Aquilo me estimulou a abrir de vez a porteira da imaginação e deixar vir o mundão de ideias (sem acento, ficou uma palavra tão peladinha...) que eu tinha debaixo daquela cabeleireira rebelde de jornalista em início de carreira.
Aff... vou dormir... depois continuo a contar essa história...
Ah, sim, também prometo postar aqui a citada poesia do Carlos Pena Filho em homenagem ao meu Recife!

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