sexta-feira, 29 de maio de 2009

Conto: "Os músicos de Bremen"

Adaptado dos irmãos Grimm

Um homem tinha um burro que, por longos anos, o tinha ajudado carregando pesados sacos de milho para o moinho. O burro, porém, já estava ficando velho e não podia mais trabalhar. Por isso, o dono pensava em vendê-lo.

O pobre animal, sabendo disso, ficou muito preocupado e decidiu fugir para Bremen."Certamente, poderei ser músico na cidade", pensava ele.

Depois de andar um pouco, encontrou um cão deitado na estrada, arfando de cansaço.

- Por que estás assim tão fatigado? perguntou o burro.

- Amigo, já estou ficando velho e, a cada dia, vou ficando mais fraco. Não posso mais caçar; por isso meu dono queria me entregar à carrocinha. Então, fugi, mas não sei como ganhar a vida.

- Pois bem, lhe disse o burro. Minha história é bem semelhante à sua. Vou tentar a vida como músico em Bremen. Venha comigo. Eu tocarei flauta e você poderá tocar tambor.

O cão aceitou o convite e seguiu com o burro. Não tinham andado muito quando encontraram um gato, muito triste, sentado no meio do caminho.

- Que tristeza é essa, companheiro? lhe perguntaram os dois.

- Como posso estar alegre, se minha vida está em perigo? respondeu o gato. Estou ficando velho e prefiro estar sentado junto ao fogo, em vez de caçar ratos. Por esse motivo, minha dona quer me afogar.

- Ora, venha conosco a Bremen, propuseram os outros. Seremos músicos e ganharemos muito dinheiro.

O gato, depois de pensar um pouco, concordou e acompanhou-os. Foram andando até que encontraram um galo, cantando tristemente, trepado numa cerca.

- Que foi que lhe aconteceu, amigo? perguntaram os três.

- Imaginem, respondeu o galo, que amanhã a dona da casa vai ter visitas para o jantar. Então, sem dó nem piedade, ordenou ao cozinheiro que me matasse para fazer uma canja.

Os outros, então, lhe propuseram:

- Nós vamos a Bremen, onde nos tornaremos músicos. Você tem boa voz. Que tal se nos reuníssemos para formar um conjunto?

O galo gostou da idéia e, juntando-se aos outros, seguiram caminho.

A cidade de Bremen ficava muito distante e eles tiveram que parar numa floresta para passar a noite. O burro e o cão deitaram-se em baixo de uma árvore grande. O gato e o galo alojaram-se nos galhos da árvore.

O galo, que se tinha colocado bem no alto, olhando ao redor, avistou uma luzinha ao longe, sinal de que deveria haver alguma casa por ali. Disse isso aos companheiros e todos acharam melhor andar até lá, pois o abrigo ali não estava muito confortável.

Começaram a andar e, cada vez mais, a luz se aproximava. Afinal, chegaram à casa. O burro, como era o maior, foi até a janela e espiou por uma fresta. À volta de uma mesa, viu quatro ladrões que comiam e bebiam fartamente. Transmitiu aos amigos o que tinha visto e ficaram todos imaginando um plano para afastar os homens dali. Por fim, resolveram aproximar-se da janela. O burro colocou-se de maneira a alcançar a borda da janela com uma das patas. O cão subiu nas costas do burro. O gato trepou nas costas do cão e o galo voou até ficar em cima do gato.

Depois, a um sinal combinado, começaram a fazer sua música juntos: o burro zurrava, o cão latia, o gato miava e o galo cacarejava. A seguir, quebrando os vidros da janela, entraram pela casa adentro, fazendo uma barulhada medonha.

Os ladrões, pensando que era um fantasma, saíram correndo para a floresta. Os quatro animais, então, sentaram-se à mesa, serviram-se de tudo, comendo e bebendo como se tivessem estado de jejum por um mês. Depois, procuraram um lugar quentinho e confortável para dormir. O burro deitou-se num monte de palha, no quintal; o cão, junto da porta; o gato, junto ao fogão, e o galo encarapitou-se numa viga do telhado. Como estavam muito cansados, logo adormeceram.

Um pouco além da meia-noite, os ladrões, vendo que a luz da casa estava apagada, resolveram voltar. O chefe do bando disse aos demais:

- Não devemos ter medo!

E mandou que um entrasse primeiro para examinar a casa. Chegando lá, o homem foi à cozinha para acender um vela. Tomando os olhos do gato, que brilhavam no escuro, por brasas, tentou neles acender um fósforo. O gato, entretanto, não gostou da brincadeira e avançou para ele, cuspindo e arranhando-o. Ele tomou um grande susto e correu para a porta dos fundos, mas o cão, que lá estava deitado, mordeu-lhe a perna. O ladrão saiu correndo para o quintal, mas, ao passar pelo burro, levou um coice. O galo, que acordara com o barulho, cantou bem alto:

- Có, có, ró, có!!!!

Correndo como louco, o ladrão foi se reunir aos outros, a quem contou:

- Lá dentro há uma horrível bruxa de olhos de fogo que me arranhou com suas unhas afiadas e me cuspiu no rosto. Perto da porta, há um homem mau que me passou um canivete na perna. No quintal, há um monstro escuro, que me bateu com um pedaço de pau. Além disso tudo, no telhado está sentado um juiz, que gritou bem alto: "- Traga aqui o patife!!!"... Acho que não devemos voltar lá... é muito perigoso!!

Depois disso, nunca mais os ladrões voltaram à casa, e os quatro músicos de Bremen sentiam-se muito bem lá, onde faziam suas músicas e viviam despreocupados.

De vez em quando alguém das redondezas os chamavam e lá iam eles, felizes e contentes, tocar a sua música.


***

Bremen é uma cidade do Norte da Alemanha, com cerca de 1 milhão de habitantes, onde existe o mais antigo porto da Alemanha. Um dos seus atrativos é a estátua dos quatro músicos, da fábula registrada pelos irmãos Jacob e Wilheim Grimm, no século XVIII.
Ilustração: peregrinacultural.files.wordpress.com

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