terça-feira, 31 de julho de 2018

Conto: O leão e o homem



O leão e o homem
Folclore nordestino

O leão é o rei das fera. É o rei... é o que quer ser mais valente no mundo, é o leão. Encontrou-se com a onça e trataram uma palestra, dizendo:
- Camarada onça, eu sou o rei das fera! Sou o mais valente que pode existir.
Aí, a onça disse:
- Você tá muito enganado! O mais valente que existe é o bicho-homem!
Disse:
- Como é que ... eu tinha vontade de me topar com o bicho-homem. Como é que eu topo com o bicho-homem, pra experimentar se ele é valente?
Aí, a onça disse:
- Vai haver uma festa de casamento ... você vá pastorar lá na estrada que você encontra o bicho-homem.
Aí, o leão, foi, se escondeu no beco do caminho ... quando lá vinha uma veinha, muito carcunda. Quando a veinha ia passando, o leão saltou na frente:
- A senhora é o bicho-homem?
Disse:
- Não senhor. Sou a mãe do bicho-homem.
Disse:
- Então, só pode ser outro.
Quando deu fé lá vinha um veinho. Aí, ele saltou na frente:
- Você é o bicho-homem?
Disse:
- Não senhor. Eu já fui.
- Passe, vá embora.
Lá vinha um menino assobiando. Um menino muito esperto, contente! Aí, quando viu o menino, saltou na frente:
- Meu filho, você é o bicho-homem?
- Não senhor. É de ser ainda o bicho-homem.
Aí, ficou. Quando deu fé, lá vinha o homem: um caboclo com chapéu de couro, um bacamarte ... que vinha voando pedra pra todo canto. Quando foi empariando, foi dizendo:
- O senhor é o bicho-homem?
- Pronto, leão, sou o bicho-homem. Que é que o senhor deseja?
- Desejo lutar. Pra ver se você é o rei das fera e eu sou o rei das fera ... das montanhas, pra ver se nós entramos em luta.
Aí, o homem disse ao leão:
- Demore aí... Deixe eu dar um espirro primeiro, pra mode nós entrar em luta.
Aí, o leão disse:
- Pronto, pode dar o seu espirro.
Pense num "espirro"...
O homem disparou o bacamarte, quebrou o focinho do leão, a cara com tudo. O leão saiu na carreira. Adiante, encontrou a onça, disse:
- Camarada onça, eu não quero negócio com o bicho-homem! O bicho é a fera pior que existe no mundo! O espirro do bicho fez esse trabalho comigo ... e o bicho-homem. Como é que faz? Não quero negócio com o bicho-homem.
Aí, ficou sendo o homem a fera maior do Brasil.

Fonte: Severino Carreiro. Catolé do Rocha. 17.07.1980. Relato recolhido por Myrian Gurgel Maia. In: TRIGUEIRO, O.M. e PIMENTEL, A. A. Contos populares brasileiros - Paraíba. Recife: FUNDAJ, Massangana, 1996, p.54-5.

Imagem: "Bacamarteiro", por Feliciano dos Prazeres

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Conto: Como Ewá livrou Orunmilá de Iku, a morte

Ewá, de Felipe Caprini

Conta a lenda que Ewá era esposa de Omolu, e era estéril, não podendo dar um filho ao seu grande amado e rei, sofrendo muito por isso.
Em uma bela tarde, a dona dos horizontes estava-se a deleitar às margens de um rio, juntamente com suas serviçais que lavavam vários alás (panos brancos). De repente, surge de dentro da floresta um jovem que corria muito assustado.
- Como ousas interromper o deleite da rainha Ewá? Quem és tu? - indagou a bela dama, irritada com a impertinência do rapaz.
- Minha rainha, não era minha intenção interromper tão sagrado ato, oh esposa de Omolu! Porém Ikú (a morte) persegue-me há vários dias e preciso escapar dela, pois tenho ainda um grande destino a seguir. Peço sua ajuda, Ewá, peço que me escondas para que Ikú não me pegue!
- Gostei de você e vou ajudá-lo, respondeu a rainha. - Esconda-se nos alás que minhas serviçais estão a lavar e eu despistarei Ikú de seu caminho.
E assim foi feito. O jovem rapaz se escondeu debaixo dos panos brancos. Pouco depois eis que aparece Ikú, a morte!
- Como ousas adentrar aos domínios de minha morada, quem és tu? - perguntou Ewá com ar de indignada.
- Sou Ikú e entro onde as pessoas menos esperam. Entro e carrego comigo dezenas, centenas e até milhares de pessoas! Porém hoje estou a procurar um jovem rapaz, que está a me escapar há dias, você o viu passar por aqui? - perguntou Ikú para Ewá.
- Eu o vi sim, Ikú, ele foi naquela direção. - Ewa apontou para um direção totalmente oposta ao das suas serviçais, que estavam escondendo o rapaz.
Ikú agradeceu e seguiu pelo caminho indicado. O rapaz saiu de seu esconderijo, aliviado.
- Ewá, agradeço sua ajuda, terei tempo agora de prosseguir meu caminho. Sou um grande adivinho, e em sinal de minha gratidão, a partir de hoje presenteio-lhe com o dom da adivinhação.
Ewá agradeceu o presente dado pelo rapaz, que já havia se virado para ir embora, quando ele retornou e falou a Ewá.
- Sim, eu sei, você não pode ter filhos, pois lhe concedo a fertilidade também. A partir de hoje você poderá ter filhos e alegrar ao seu marido.
Então Ewá agradeceu novamente muito contente e perguntou ao jovem rapaz.
- Qual é seu nome?
E o rapaz respondeu...
- Meu nome é Orunmilá Ifá!

* Ifá é o orixá da adivinhação e do destino.

Ouça a estória "O galo rouco e o rato esperto", da Cigana Contadora de Estórias!

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