quinta-feira, 8 de setembro de 2016

08 de setembro – Dia Mundial da Alfabetização

Ler é tudo de bom!
Criado em 1967 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Dia Mundial da Alfabetização se propõe a debater como os países estão atuando no combate ao analfabetismo. Compreenda-se aqui que alfabetização não é somente o processo de aprender a ler e a escrever, a fazer operações simples de matemática. É também o aprender a decodificar o mundo ao nosso redor, a lidar de forma plena com o nosso cotidiano, a observar o que nos cerca e fazer a nossa leitura, passando também pela participação cidadã, pela preocupação com o meio ambiente, com o consumo consciente.
E nesse quesito a humanidade está em uma defasagem absurda. Segundo pesquisa divulgada pela ONU, por ocasião do Dia Mundial da Alfabetização em 2014, 781 milhões de adultos no mundo inteiro ainda não sabem ler, escrever ou contar. Desses 781 milhões, dois terços são mulheres. Ou seja, mais de 520 milhões de mulheres. Como se não já fosse ruim o bastante, a UNESCO também disse que mais de 250 milhões de crianças não conseguem ler “uma simples frase, ainda que metade delas tenha passado quatro anos na escola”. Essa fala é da militante búlgara Irina Bokova, diretora-geral da entidade, que acrescenta: “Que tipo de sociedades esperamos construir com uma juventude analfabeta? Esse não é o mundo em que desejamos viver. Queremos um mundo onde todos possam tomar parte nos destinos de suas sociedades, ter acesso ao conhecimento e, por sua vez, enriquecê-lo”. Como podemos mudar o mundo, torná-lo mais justo e inclusivo, se nem conseguimos entender o que se passa ao nosso redor? Como fazer escolhas conscientes se “o que entra por um ouvido sai pelo outro”, sem deixar nada no meio?
Aqui no Brasil, a despeito de esforços muito pontuais de políticas públicas incipientes, e as meritórias iniciativas de escolas e mestres que vão além do que se espera deles, pouco avançamos desde que os portugueses tocaram o terror em nossa Terra de Vera Cruz. A estrada que temos a percorrer para conseguir nos libertar dessa secular escravidão da ignorância ainda é longa.
Ainda que o acesso à educação – tanto pela construção de mais creches e escolas quanto por louváveis políticas de inclusão no sistema de ensino – tenha melhorado, isso não significa que a educação tenha avançado tanto quanto gostaríamos. A evasão escolar , principalmente na rede pública, ainda é absurda. Segundo o Relatório de Desenvolvimento 2012 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), “um em cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série”. Os motivos para isso são vários e não nos cabe discutí-los aqui. O que importa é que, de acordo com esse resultado, somos o terceiro país, entre os 100 com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em evasão escolar. Ficamos atrás apenas da Bósnia Herzegovina e das ilhas caribenhas de São Cristovam e Névis. Fala sério!
“Um país se faz com homens e livros", disse o mestre visionário Monteiro Lobato há quase cem anos. Desde a Imprensa Régia de D. João VI, livro é um artigo que não nos falta, apesar do altíssimo custo de produção – mas os sebos estão aí para facilitar a nossa vida. Mas e os leitores? O Instituto Pró-Livro saiu às ruas, em mais uma edição de sua pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” e foi ouvir sobre os hábitos de leitura das pessoas. Metade dos entrevistados disse que não lê livros porque não consegue compreender bem o que está escrito. E olhe que essas pessoas são tecnicamente alfabetizadas.
Então, o que fazer? Aí entra a promoção da leitura, através principalmente da contação de estórias e do reconto em casa e em sala de aula. Disso eu entendo bem, afinal é o que venho fazendo há mais de 15 anos. Como professora de inglês de uma das mais conceituadas escolas do Brasil, percebi o ganho real em termos de aquisição de vocabulário, compreensão de texto, desenvoltura e relacionamento interpessoal que meus alunos – crianças de 9 a 11 anos - tiveram ao serem expostos com frequência à contação de estórias e a serem incentivados a fazerem o seu reconto, a buscarem livros na biblioteca e a trazê-los para apresentá-los em sala de aula. Dessa forma, o antes temido e alienígena objeto chamado ‘livro’ transformou-se em um amigo próximo, um Portal das Maravilhas, através do qual tudo é possível.
Que tal investirmos mais nisso?
Alfabetizar é necessário, mas melhor ainda é propiciar o letramento, a aquisição de saberes e habilidades essenciais ao pleno exercício da cidadania do nosso povo. Para isso, as escolas precisam se revolucionar, “ousar” em experimentar práticas mais amplas, além do que apregoa o método isso ou aquilo. Mas o trabalho não é só da escola. É dos pais, em casa, que precisam tirar um pouco do seu tempo e contar estórias para suas crianças. É da prefeitura, do governo do Estado, do governo federal, que têm por obrigação fomentar e oferecer bons eventos culturais gratuitos ao povo. Formar cidadãos plenos é um trabalho conjunto e responsabilidade de todos.
“A alfabetização não apenas muda vidas, ela também as salva”, defende Irina Bokova, a primeira mulher a dirigir a UNESCO, eleita em 2009 e reeleita em 2013. Militante ativa contra o racismo e o semitismo, Bokova também defende o combate ao analfabetismo como estratégia essencial para uma vida melhor para todos. “A alfabetização ajuda a reduzir a pobreza e permite que as pessoas consigam empregos e obtenham maiores salários. A alfabetização facilita o acesso ao conhecimento e desencadeia um processo de empoderamento e autoestima que beneficia a todos. Essa energia, multiplicada por milhões de pessoas, é essencial para o futuro das sociedades”, diz ela. Eu acredito nisso e faço a minha parte. E você, o que faz para ajudar nessa luta? Aceita uma sugestão? Leia um livro para uma criança. Já será um excelente começo.

*Gabriela Kopinits é jornalista, escritora e contadora de estórias.

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