sexta-feira, 12 de junho de 2009

Estudo: Tipos de contos populares - Ricardo Sérgio

Os contos do folclore brasileiro são um tesouro para o contador de estórias

Ricardo Sérgio

Existem várias classificações de contos populares. A mais conhecida é a de Aarne-Thompson (The types of the folktale), que distribui os contos populares em três grandes grupos:


1º. Contos de animais (1 a 299 tipos);
2º. Contos comuns (300-1199);
3º. Facécias/anedotas (1200-1999).


No entanto, vamos adotar a classificação efetuada pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, por ter o mérito de ater-se a aspectos intrínsecos da construção narrativa do conto popular e de buscar vincular as narrativas brasileiras a uma codificação internacional do imaginário humano. A classificação de Luís Câmara Cascudo é a seguinte:


Contos de Encantamento – Também é conhecido como conto maravilhoso ou conto de fadas. É um tipo de conto ambientado no sobrenatural e maravilhoso, onde príncipes, princesas enfrentam monstros e bruxas e conseguem superar as adversidades graças à intervenção de ajudantes mágicos. A história quase sempre tem um final feliz. Entre os contos de encantamentos há muitos que estão espalhados por todo o Brasil, mas que receberam um colorido especial de cada região, como Bicho de Palha (Gata Borralheira); sendo o conto que apresenta o maior número de versões (143) e o registro de três variantes (a mais tradicional é a que o ajudante mágico é uma vaca com a varinha de condão). Outros exemplos: A Princesa Jia, O Marido da Mãe d'água, O Filho da Burra, O Peixinho Encantado, Os Sete Sapatos da Princesa, A Filha do Diabo, Contos da Carochinha, Joãozinho e Maria, Branca de Neve, A Bela Adormecida, entre outros.


Contos de Animais - São contos em que os animais são dotados de qualidades, defeitos e sentimentos humanos. A esperteza e a astúcia são as únicas armas de que um animal, sempre de porte pequeno, dispõe para enfrentar seu inimigo mais forte. Estruturalmente assemelham-se à fábula, pois há na história uma intenção moralizante. Os tipos mais representativos integram os ciclos do macaco e a onça, do coelho e o sapo ou o cágado, da raposa e a onça. São exemplos: O gavião e o urubu, A raposa e as uvas, O pulo do gato, etc.


Contos de Exemplo - São aqueles estruturados pelo antagonismo Bem versus Mal, em que um delito contra uma norma de caráter social conduz o desfecho da intriga para uma lição de moral. Recorrendo à sagacidade para inverter a situação de desvantagem, o réu, transforma-se em herói. São exemplos: O Vaqueiro que não Mentia, O Compadre Rico e o Pobre, Os Dois Corcundas, A Menina dos Brincos de Ouro, entre outros.


Contos Religiosos - Caracterizam-se pela presença ou interferência divina. Mostram ao mesmo tempo a fé, a crendice, a superstição e o sentimento místico de nossa gente, numa singela aliança como se pode observar em Jesus e os lavradores, A Moça e a Vela, Os Rins da Ovelha, Como a Aranha Salvou o Menino Jesus, A Mãe de São Pedro etc.


Causos - São histórias cobertas de fantasia, nas quais se misturam elementos míticos e lendários, contadas, sobretudo por pescadores, tropeiros, vaqueiros, peões de fazenda e caçadores (extraordinários contadores de causos). Geralmente, o contador é o personagem principal, outras vezes, porém, apenas assistiu o fato.


Contos de Anedotas/Facécias - São narrativas curtas em tom de chacota leve e alegre. A trama é conduzida sob o foco de um herói malandro que troça de ricos e poderosos. Dentre os contos facciosos os do ciclo de Pedro Malasartes, de São Pedro e Jesus e de Bocage são os mais divulgados. Outros contos: A Mulher do Piolho, A Gulosa Disfarçada, O Menino Sabido e o Padre, A Sopa de Pedra, O Homem Que Pôs Um Ovo.


Contos Acumulativos - Também denominados “lengalenga”, são contos nos quais as seqüências narrativas se repetem e se encadeiam com acréscimos e recorrências de alguns elementos, sempre na mesma ordem, até o fim. Por isso são conhecidos como “contos de nunca mais acabar”. Eles têm característica de uma longa parlenda, contada e recontada para divertir as crianças.


Câmara Cascudo registra apenas dois contos cumulativos: O Menino e a Avó Gulosa e O Macaco Perdeu a Banana. Todavia, os pesquisadores da UFBA recolheram muitas versões. Pesquisadores outros encontraram 61 versões de contos desse gênero. No Brasil, os contos acumulativos são, na maioria, oriundos de Portugal. Os elementos locais são apenas acréscimos.
Contos Etiológicos – São contos inventados para explicar ou dar razão a origem de um aspecto, forma, hábito, disposição, propriedade, caráter de qualquer pessoa ou coisa. São exemplos: Porque o Negro é Preto, A Causa da Seca no Ceará, A Maçarapeba ficou com a boca torta por ter zombado de Nossa Senhora; A festa no céu, que explica porque o casco do cágado é todo em pedaços, para só citar esses.


Demônio Logrado - É a reunião de contos ou disputas em versos em que Demônio intervém; perdendo este uma aposta e sendo derrotado: Toca por Pauta, O Afilhado do Diabo, As Perguntas de Dom Lobo, Audiência do Capeta etc.


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Publicado no Recanto das Letras em 05/06/2009

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