segunda-feira, 1 de junho de 2009

Conto: "Os dois semblantes"

Esse conto, conforme apontou um grande contador de estórias, o Rogério Bellini, é ótimo para ilustrar os malefícios de vícios, como drogas e álcool.

"Certa vez, um grande artista foi escolhido para pintar um quadro a óleo, destinado a uma igreja de Roma. A tela teria por tema a vida de Jesus.

O artista, que há muito vinha esperando aquela oportunidade, imensamente feliz e cheio de entusiasmo, atirou-se ao trabalho ardorosamente.

Assim, durante meses a fio, e sem descanso, dedicou-se o pintor à execução do quadro. Quando, porém, faltava pouco para terminar, foi forçado a parar.

É que faltavam dois modelos importantíssimos, justamente aqueles que deveriam representar o Menino Jesus e Judas Iscariotes.

Pôs-se então à procura dos modelos.

Começou a busca em sua própria cidade. Percorreu todas as ruas, procurou em todos os bairros. Andou muito, viajou muito.

Examinou linha por linha centenas de rostos de meninos e de homens, sem que nenhum deles apresentasse as características que exigia para os personagens de seu quadro.

Foi então que retornando à sua terra natal, percorrendo novamente um velho bairro da cidade, viu um menino de doze anos, cujo semblante, de rara beleza e extraordinária meiguice, era justamente o que procurava.

O pintor exultou de alegria. Enfim, poderia continuar seu trabalho.

De imediato falou aos pais do menino e pôs mãos à obra.

Durante dias e dias, o garoto pousou pacientemente até que seus lindos traços fisionômicos passaram para a tela do pintor. Quando o menino se foi, o artista comentou:

- A beleza e a candura de sua alma estão refletidas em seu rosto.

O pintor começou a fazer novas buscas, agora na esperança de encontrar quem lhe servisse de modelo para a imagem de Judas.

Novas caminhadas... novas indagações...novos semblantes em desfile...

Mas ninguém satisfazia as exigências do artista.
A bela obra paralisada aguardava o seu último personagem, para ser exposta aos olhares do público.

E tudo indicava que tão cedo não seria terminada.

De fato os dias foram se escoando, os meses sucedendo-se um ao outro, os anos também se passaram e o quadro continuava no mesmo.

O pintor já desanimava, quando um dia, ao passar por um bar pouco recomendável, viu ao aparecer à porta um pobre homem esfarrapado e magro, sentado ao balcão. Estava embriagado.

O pintor aproximou-se e, condoído, estremeceu de horror e emoção.

Aquela fisionomia ainda moça, marcada impiedosamente pelo vício, ajustava-se com precisão à sua tela inacabada!

Encontrara, afinal, o seu Judas Iscariotes.

- Venha comigo, que eu cuidarei de você.

Pôs-se então o artista, dia e noite, a completar a tela.

E, coisa estranha, à medida em que o trabalho avançava, o modelo pouco a pouco demonstrava desalentadora tristeza.

O pintor percebia a transformação, mas nada comentava.

Um dia, porém, notando que lágrimas silenciosas deslizavam daqueles olhos encovados, interrompeu o trabalho e indagou interessado:

- Meu filho, por que se aflige tanto? Em que lhe posso ajudar?

Desatando a chorar, o modelo cobriu o rosto com as mãos.

Depois, passados instantes, olhou para o pintor e, timidamente, falou:

- Não se lembra de mim? Há muitos anos, pousei para o seu menino Jesus".

***

Extraído do site Meimei Obreiros do Bem

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