A partilha deu lugar a um sério desentendimento entre ambos pois cada um queria o maior pedaço para si. O gato branco, não querendo ser roubado, propôs logo que o queijo - e a pendenga - fosse levado à presença de um macaco conhecido por toda a bicharada como justo e sábio.
Partiram ambos e, chegando à presença do juiz, o gato branco disse:
- Amigo Macaco, reconhecendo sua justiça e finura, propus ao meu amigo malhado que você fosse o juiz na questão da partilha deste queijo.
O gato malhado ajuntou:
- Aceitei logo e já digo, de antemão, que qualquer que seja a sua decisão, sábio amigo, eu irei aceitá-la, tal é a confiança que deposito em sua sabedoria.
- Bem, - disse o macaco, com ar sério - aceito a nobre missão, que me parece de fácil solução.
Dizendo isto, sentou-se diante de uma pequena banca, onde havia uma balança, e, tomando uma faca, partiu o queijo ao meio. Colocou cada parte do queijo em um do pratos da balança e viu que a da direita pesava mais do que a esquerda.
Pegando a parte mais pesada, deu-lhe uma dentada, tirando um bom naco para ver se assim equilibrava os pedaços. Porém, tal não aconteceu: o da esquerda agora é que ficou mais pesado. O macaco juiz não teve dúvida. Pegou o pedaço da esquerda e também aplicou-lhe uma boa dentada. Colocando os pedaços na balança, viu que ainda não estavam iguais e ele não teve remédio a não ser continuar mordendo um e outro até que ficassem com o mesmo peso.
Ao ver que os pedaços estavam diminuindo com uma rapidez espantosa, o gato malhado exclamou:
- Com mil raios e trovões! Se o senhor juiz continuar tentando equilibrar as partes, não vai sobrar mais nada!
- Basta! - exclamou por sua vez o gato branco. - Pode me dar a menor parte, que ficarei satisfeito.
- Ah, isso não! - respondeu o macaco. - Antes de tudo a justiça! Procuro dar a cada um quinhão igual...
E continou tranquilamente tirando um naco de cada um dos pedaços até que, restando apenas dois pedacinhos, mostrou-os aos gatos, dizendo-lhes:
- Isso agora também não vale equiparar! Vou comê-los também, como paga do trabalho que tive no julgamento dessa questão!
Bestinha esse juiz, não? :)
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Adaptado da versão de Viriato Padilha - Histórias do Arco da Velha
"Imagino que a arte de contar "estória" transcende o tempo e nos coloca diante de imagens criadas para divertir e despertar as emoções com referências de valores criados por "contadores artistas" que espelham o retrato de uma era" .....essa é do "Arco da Véia"..
ResponderExcluirAdorei o conto, você escreve muito bem! Parabéns.
ResponderExcluirOi, Martha! Obrigada pelo seu elogio, mas o conto não é de minha autoria! Adaptei da versão de Viriato Padilha, no livro "Histórias do Arco da Velha", da Ed. Quaresma.
ResponderExcluirMuito bom esse conto! Ainda sou do tempo das fábulas com os seus evidentes morais da história. Sou simples na sua composição mas ricas no conteúdo. Uma óptima ferramenta de educação e formação de carácter..
ResponderExcluirConcordo com você. Essas estórias me encantam até hoje. Um abraço!
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