domingo, 30 de outubro de 2016

Crônica: "Lixo", de Luís Fernando Veríssimo

Dei de cara com essa deliciosa crônica do Luís Fernando Veríssimo no livro "Festa de Criança", da coleção 'Para gostar de ler' júnior - da Editora Ática, com ilustrações de Caulos. O livro é uma coletânea de textos do Veríssimo e esse, do "Lixo", me conquistou. Leia e se divirta também!
O autor, em registro do site Papo de Cinema


Lixo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.

- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranquüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.- No seu lixo ou no meu?

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Conto: "O homem que pôs um ovo" - Câmara Cascudo

"Quem tiver o seu segredo, 
Não conte a mulher casada,

Esta conta ao seu marido,
O marido aos camaradas...

Em algum lugar lá pelo interior desse Brasil, um marido tinha uma mulher que gabava-se em saber guardar segredo. Vivia dizendo que as outras eram saco rasgado e ninguém podia confiar senão no juízo dela.
Tanto se gabou e se gabou que o marido pensou em fazer uma experiência para ver se a mulher era mesmo segura de língua.
Uma noite, voltando tarde para casa, o homem trouxe um grande ovo de pata, que é muito maior do que os da galinha, e deitou-se na cama. Lá para as tantas da madrugada, acordou a mulher, todo assustado e, pedindo que ela guardasse todo segredo, contou que acabara de pôr um ovo!
A mulher só faltou morrer de admiração, mas o marido mostrou o ovo e ela acreditou, jurando que nem ao padre confessor havia de dizer o que soubera.
Ora muito bem. Pela manhã, assim que o marido saiu para o trabalho a mulher correu para a vizinha e, pedindo segredo de amiga, contou que o marido pusera um ovo na cama e estava todo aborrecido com essa desgraça.
A vizinha prometeu que ninguém saberia, mas passou o dia contando o caso, ao marido, aos vizinhos, aos conhecidos, sempre pedindo segredo.
E, como quem conta um conto aumenta um ponto, toda vez que a história passava adiante o ovo ia mudando de número. Primeiro era um, depois dois, deppois três... e ao anoitecer o homem já pusera meio cento de ovos.
Voltando para casa, o marido encontrou-se com um amigo e este lhe disse que havia novidade naquela rua.
- Qual a novidade ?
- Não soube ? Uma coisa bem esquisita! Imagine que um morador nesta rua pôs, penso eu, quase um cento de ovos, seu mano ! Diz que está muito doente e que cada ovo tem duas gemas. É mesmo o fim do mundo.
O marido não quis saber quem estava de vigia. Entrou em casa, chamou a mulher, agarrou uma bengala e passou-lhe a lenha com vontade, dando uma surra de preceito, que a deixou de cama, toda moída e com panos de água e sal.
Depois o homem saiu contando como o caso começara e a mulher ficou desmoralizada."


Essa estória foi publicada no livro "Contos tradicionais do Brasil", de Câmara Cascudo (Ediouro, 1999), uma beleza de coletânea com muitos contos deliciosos recolhidos pelo querido mestre folclorista.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Conto: "O gigante egoísta", de Oscar Wilde

Todas as tardes, ao regressar da escola, as crianças costumavam ir brincar no jardim do Gigante.
Era um jardim amplo e belo, com um gramado macio e verde. Aqui e ali, por sobre a relva erguiam-se lindas flores como estrelas e havia doze pessegueiros que na primavera floresciam em delicados botões cor-de-rosa e pérola, e no outono davam saborosos frutos. Os pássaros pousavam nas árvores e cantavam tão suavemente que as crianças costumavam parar suas brincadeiras para ouvi-los.
“Como somos felizes aqui!”, gritavam uns para os outros.
Um dia o Gigante voltou. Tinha ido visitar seu amigo, o Ogro da Cornualha, e ali vivera com ele durante sete anos. Passados os sete anos, dissera tudo quanto tinha a dizer, pois sua conversa era limitada, e decidiu voltar para seu castelo. Ao chegar, viu as crianças brincando no jardim.
– O que vocês estão fazendo aqui? – gritou ele, com voz bastante ríspida, e as crianças fugiram.
– O meu jardim é o meu jardim – disse o Gigante. Todos devem entender isso e não consentirei que nenhuma outra pessoa, senão eu, brinque nele.
Construiu um alto muro cercando-o e pôs nele um cartaz:

É PROIBIDA A ENTRADA
OS TRANSGRESSORES SERÃO PROCESSADOS

Era um gigante muito egoísta.
As pobres crianças não tinham agora lugar onde brincar. Tentaram brincar na estrada, mas a estrada tinha muita poeira e estava cheia de pedras duras, e isso não lhes agradou. Tomaram o costume de vaguear, terminadas as aulas, em redor dos altos muros, conversando a respeito do belo jardim por eles cercados. “Como éramos felizes ali!”, diziam uns aos outros.
Depois chegou a primavera e por todo o país havia passarinhos e florezinhas. Somente no jardim do Gigante egoísta reinava ainda o inverno. Os pássaros, uma vez que não havia meninos, não cuidavam de cantar nele e as árvores esqueciam-se de florescer. Somente uma bela flor apontou a cabeça entre a relva, mas, quando viu o cartaz, ficou tão triste por causa das crianças que se deixou cair de novo no chão, voltando a dormir. Os únicos que se alegraram foram a Neve e a Geada.
– A primavera esqueceu-se deste jardim – exclamaram – de modo que viveremos aqui durante o ano inteiro.
A Neve cobriu a relva com seu grande manto branco e o Gelo pintou todas as árvores de prata. Então convidaram o Vento Norte para ficar com eles e o vento veio. Estava envolto em peles e bramava o dia inteiro no jardim, derrubando chaminés.
– Este lugar é delicioso – dizia ele. Devemos convidar o Granizo a fazer-nos uma visita.
De modo que o Granizo veio. Todos os dias, durante três horas, rufava no telhado do castelo, até que quebrou a maior parte das ardósias, e depois se punha a dar voltas loucas no jardim, o mais depressa que podia. Vestia-se de cinza e seu hálito era frio como gelo.
– Não posso compreender por que a Primavera está demorando tanto a chegar – disse o Gigante egoísta, ao sentar-se à janela e olhar para fora, para seu jardim frio e branco.  Espero que haja uma mudança de tempo.
Mas a Primavera nunca chegou, nem tampouco o Verão. O Outono deu frutos áureos a todos os jardins, mas ao jardim do Gigante não deu nenhum.
– É demasiado egoísta – disse ele.
De modo que havia sempre Inverno ali, e o Vento Norte, e o Granizo, e a Geada e a Neve dançavam por entre as árvores.
Uma manhã jazia o Gigante acordado em sua casa, quando ouviu uma música deliciosa. Soava tão docemente a seus ouvidos que pensou que deviam ser os músicos do Rei que iam passando. Era, na realidade, apenas um pequeno pintarroxo que cantava do lado de fora de sua janela, mas já fazia tanto tempo que ele não ouvia um pássaro cantar em seu jardim que aquela lhe pareceu a mais bela música do mundo. Então o Granizo parou de bailar por cima da cabeça dele, o Vento Norte cessou seu rugido e um delicioso perfume chegou até ele pela janela aberta.
– Creio que chegou por fim a Primavera – disse o Gigante, saltando da cama e olhando para fora.
Que viu ele?
Viu um espetáculo maravilhoso. Por um buraco feito no muro, as crianças tinham entrado no jardim, encarapitando-se nas árvores. Em todas as árvores que conseguia ver achava-se uma criancinha. E as árvores sentiam-se tão contentes por ver as crianças de volta que se haviam coberto de botões e agitavam seus galhos gentilmente por cima das suas cabecinhas. Os pássaros revoluteavam e chilreavam, com deleite, e as flores riam, apontando as cabeças por entre a relva.
Era um belo quadro. Apenas em um canto ainda havia inverno. Era o canto mais afastado do jardim e nele se encontrava um menininho. Era tão pequeno que não podia alcançar os galhos da árvore e vagava ao redor dela, chorando amargamente. A pobre árvore estava ainda coberta de geada e neve e o Vento Norte soprava e rugia por cima dela.
– Sobe, menino! – dizia a Árvore, inclinando seus ramos o mais baixo que podia.
Mas o menino era demasiado pequenino.
E, ao contemplar aquela cena, o coração do Gigante se enterneceu.
– Como tenho sido egoísta – disse. Agora estou sabendo por que a Primavera não vinha pra cá. Vou colocar aquele pobre menininho no alto da árvore e depois derrubarei o muro e meu jardim será para todo o sempre o lugar de brincadeiras das crianças.
Sentia-se deveras muito triste pelo que tinha feito. De modo que desceu as escadas e abriu a porta de entrada bem devagarinho, saindo para o jardim. Mas, quando as crianças o viram, ficaram tão atemorizadas que saíram todas correndo e o jardim voltou a ser como no inverno. Somente o menininho não correu, pois seus olhos estavam tão cheios de lágrimas que não viram o Gigante chegar. E o Gigante deslizou por trás dele, apanhou-o delicadamente com a mão e colocou-o no alto da árvore. E a árvore imediatamente abriu-se em flor e os pássaros chegaram e cantaram nela pousados e o menininho estendeu seus dois braços, cercou com eles o pescoço do Gigante e beijou-o. E as outras crianças, quando viram que o Gigante já não era mau, voltaram correndo e com eles veio também a Primavera.
– O jardim agora é de vocês, criancinhas – disse o Gigante, que pegou uma grande picareta e derrubou o muro. E quando as pessoas iam passando para a feira, ao meio-dia, encontraram o Gigante brincando com as crianças no mais belo jardim que jamais haviam visto.
Brincaram o dia inteiro e à noitinha dirigiram-se ao Gigante para despedir-se.
– Mas onde está o companheirinho de vocês? – perguntou. O menino que eu pus na árvore?
O Gigante gostava mais dele porque o havia beijado.
– Não sabemos – responderam as crianças. Foi-se embora.
– Devem dizer-lhe que não deixe de vir amanhã – disse o Gigante. Mas as crianças responderam-lhe que não sabiam onde ele morava e nunca o tinham visto antes.
E o Gigante sentiu-se muito triste.
Todas as tardes, quando as aulas terminavam, as crianças chegavam para brincar com o Gigante.
Mas o menininho de quem o Gigante gostava nunca mais foi visto de novo. O Gigante mostrava-se muito bondoso para com todas as crianças, mas tinha saudades do seu primeiro amiguinho e muitas vezes a ele se referia.
– Como gostaria de vê-lo! – costumava dizer.
Os anos se passaram e o Gigante foi ficando muito velho e fraco. Não podia mais participar das brincadeiras, de modo que se sentava numa grande cadeira de braços e contemplava a brincadeira das crianças e admirava seu jardim.
– Tenho belas flores em quantidade – dizia ele, mas as crianças são as mais belas flores de todas.
Numa manhã de inverno, olhou de sua janela, enquanto se vestia. Não odiava o Inverno agora, pois sabia que era apenas a Primavera adormecida e que as flores estavam descansando.
De repente, esfregou os olhos, maravilhado, e olhou e tornou a olhar. Era realmente uma visão maravilhosa. No canto mais afastado do jardim via-se uma árvore toda coberta de flores brancas e belas. Seus ramos eram cor de ouro e frutos prateados pendiam deles e por baixo estava o menininho que o conquistara.
O Gigante desceu as escadas correndo, com grande alegria, e saiu para o jardim. Atravessou correndo o gramado e aproximou-se da criança. E quando chegou bem perto dela, seu rosto ficou vermelho de cólera e perguntou.
– Quem ousou ferir-te?
Pois nas palmas das mãos da criança viam-se as marcas de dois cravos e as marcas de dois cravos nos pequeninos pés.
– Quem ousou ferir-te? – gritou o Gigante. Dize-me, para que eu possa tirar minha grande espada e matá-lo.
– Não – respondeu o menino. Estas são as feridas do Amor.
– Quem és? – perguntou o Gigante, sentindo-se tomado dum grande respeito e ajoelhando-se diante do menininho.
E o menino sorriu para o Gigante e disse:
– Tu me deixaste brincar uma vez em teu jardim. Hoje, virás comigo para o meu jardim, que é o Paraíso.
E quando as crianças chegaram correndo naquela tarde, encontraram o Gigante morto debaixo da árvore toda coberta de flores brancas.


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sabe onde você encontra o livro da Cigana Contadora de Estórias?





E, em Caruaru, você encontra o meu livro na:
Endereço: R. Duque de Caxias, nº 7, Centro - Caruaru
Telefone:(81) 2103-4888

Festa das Crianças


Opa!
Ontem foi um dia de bênçãos para mim. Além de ser o dia do aniversário do meu pai, da minha iya Yalorisa Cris Ty Osun e da Leitura, foi a festa do Projeto Criança Feliz. Promovida pela Loja Maçônica Terra Prometida 63 há três anos, a festa leva alegria, carinho e presentes para crianças de comunidades carentes. Tive a honra de ser convidada pela minha amiga Josy Barbosa para a festa do ano passado, que foi lá no Alto do Moura, na Escola Mestre Vitalino. Esse ano foi na Escola Rosilda Maciel, no Bairro Agamenon.
A turma da Maçonaria fez uma festa muito bacana, com direito a pipoca, sacolé (dudu), cachorro-quente, suco e muitas brincadeiras. Eu levei minhas estórias, conheci gente muito bacana e ainda ganhei um certificado lindo de "Parceiro do Bem". 
Foi emocionante! Muito obrigada pelo carinho, pessoal!
De parabéns todos que organizaram esta bonita festa e todas as outras pessoas que tiraram o feriado para alegrar o dia de outras crianças. Abençoados sejam!
















terça-feira, 11 de outubro de 2016

Em vez de brinquedo, dê um livro!

Pouca gente sabe, mas neste dia 12 de outubro não se comemora apenas o Dia da Criança. É também o Dia Nacional da Leitura, efeméride criada pela Lei Federal nº 11.899 (de 08 de janeiro de 2009) com o objetivo de incentivar o interesse pela leitura em todo o Brasil. A iniciativa foi do senador Cristovam Buarque e sancionada pelo então presidente Lula. A ideia do senador foi aliar as comemorações em torno do Dia da Criança com o incentivo à leitura. “Além de marcar a festividade já consagrada do Dia da Criança, esse dia abrigará, também, o Dia Nacional da Leitura e a Semana da Leitura, com a intenção de enfatizar junto à sociedade brasileira a importância do cultivo do amor aos livros desde a infância”, justificou o senador.
Pouco divulgada e comemorada ainda muito timidamente por algumas escolas, a data ganha ainda maior importância se levarmos em consideração os resultados de pesquisas feitas para auferir como anda a leitura no Brasil. Os dados são estarrecedores e bastante preocupantes. Segundo o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, “apenas 8% das pessoas em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números”. Ou seja, de cada cem pessoas apenas oito podem ser consideradas proficientes - capazes de decodificar corretamente textos e gráficos e de resolver situações. As outras noventa e duas são o que se chama de ‘analfabetas funcionais’. Esse levantamento foi feito com 2.002 pessoas, entre 15 e 64 anos, moradoras de zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país.
Outro levantamento importante foi o realizado pelo IBGE, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. De acordo com a última pesquisa, divulgada há dois anos, 8,7% da população brasileira a partir de 15 anos não sabe ler nem escrever. Isso quer dizer que são cerca de treze milhões de analfabetos.
Se considerarmos que, no Brasil, a população acima de 15 anos é de 86 milhões, podemos afirmar que apenas 6 milhões de pessoas conseguem efetivamente entender o mundo à sua volta e fazer suas escolhas de forma consciente. Somos 206  milhões de habitantes, segundo o IBGE. Faça as contas e se assombre, como eu. Não é à toa que o país está como está. Precisamos de mais educação, precisamos de mais leitura e de mais compreensão de textos.
O indiano Kailash Satyarthi, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2014 (e ativista pelo fim do trabalho infantil e escravo e pelo direito à educação), disse uma frase que traduz perfeitamente o que acontece com o nosso Brasil: "Percebi que a escravidão humana e o analfabetismo são dois lados da mesma moeda". Podemos dizer que a miséria também. Ele citou o caso de uma menina indiana que morreu aos 14 anos de tuberculose desenvolvida pelo trabalho insalubre numa fábrica de tijolos. O pai dela não conseguiu nem assinar a certidão de óbito. Aos prantos, o pobre homem disse que se soubesse ler e escrever, a filha não teria morrido, pois ele nunca teria assinado o contrato de trabalho dela. “O pai da jovem se referia ao momento em que assinou o contrato de trabalho com sua digital. Se ele tivesse conseguido ler o documento, ele saberia que o trabalho era perpétuo e que ele e sua família nunca poderiam deixar aquele lugar”, contou Kailashi.
Não há outra fórmula para o desenvolvimento em todos os níveis a não ser a educação. A educação liberta, nos dá direito de fazer escolhas, e é um direito constitucional, “fundamental e essencial para o exercício de todos os direitos”, defende a Unesco. E a leitura tem papel preponderante nesse processo. Incentivá-la, principalmente entre os pequenos, é obrigação de todos nós, quer sejamos educadores, pais, gestores ou apenas integrantes de uma sociedade que quer um país melhor para todos. No Dia da Criança, em vez de brinquedo, dê um livro. O ganho para a criança – e para o nosso país - será muito maior. Vamos fazer do Brasil uma pátria de leitores!

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Hoje foi dia de muita emoção :)


Optcha!
Hoje foi um dia de muita felicidade para mim. Fui convidada para participar da XIII Mostra Literária de Santa Cruz do Capibaribe, promovida pelo Educandário Antônio Burgos. O evento foi no Clube Ypiranga. Vocês não têm noção da dimensão do evento! O clube foi transformado numa feira literária, com dezenas de estandes das turmas, cada qual sobre um autor. Eu já sabia que uma das turmas, a 7ª série, da professora Claudete e do professor Edson, ia fazer alguma coisa sobre o meu trabalho, mas não tinha ideia do que eles iriam fazer.
Quando cheguei, fui logo chamada ao palco. Pouco a pouco começaram a aparecer uns ciganinhos lindos. Uma menina, depois outra, um menino e outro. Quando vi, tinha uma turma toda de ciganos! Fiquei emocionada e tive que respirar fundo pois senti logo a chuva da alma querendo dar o ar de sua graça.
Consegui me dominar, engoli a emoção e me apresentei, falei de como comecei a contar estórias, quando virei a Cigana Contadora de Estórias, como escrevi meu primeiro livro, etc, depois contei estórias para as crianças, professores e pais presentes.
Foi maravilhoso, consegui estabelecer uma boa conexão com eles, senti que eles se divertiram comigo nas estórias que contei.
De lá, fui conhecer o estande da turma, a 7ª A. Aí, foi danado... Eles fizeram uma tenda cigana! Coisa mais linda do mundo, com direito a mesa com bola de cristal, baralho cigano e muitas almofadas. Dentro da tenda, eles fizeram uma verdadeira exposição sobre o meu trabalho, com painéis de fotos me mostrando em atividade (já são 15 anos, né?), com as minhas obras e até com um cordel do meu conto "O maníaco da feira de Caruaru", que levou o segundo lugar no concurso de contos “Recortes de Caruaru”, promovido pelo Instituto Histórico de Caruaru (IHC), Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (FAFICA) e a Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras (ACACCIL).
Foi lindo, me emocionei muito pela homenagem que a turma fez do meu trabalho (teve até uma aluna, Maria Vitória, que fez um desenho lindo de mim), tirei muitas fotos, conversei muito e depois fui embora, meio que volitando de tanta alegria; Que coisa tão boa esse reconhecimento! 
A mim, só resta agradecer muito à turma da 7ª A, aos professores Claudete e Edson, à gestora do Antônio Burgos, Fabiana Quixabeira, e à Michelle Cideyne pelo convite e pelo carinho. Que os deuses abençoem muito vocês! Parabéns pelo evento, digno das melhores feiras de livro que já frequentei!
As fotos são de Jailma Queiroz (mamãe da Isadora muito em breve), coordenadora de Espaços Lúdicos no educandário.















quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Cigana Contadora de Estórias participa de Mostra Literária em Santa Cruz

Cartaz do evento
Na próxima sexta-feira (07), Santa Cruz do Capibaribe, a cerca de 185 quilômetros do Recife, viverá um dia inteiro dedicado à literatura. Será a XIII Exposição de Arte Literária, promovida pelo Educandário Antônio Burgos em comemoração à Semana Nacional da Leitura e da Literatura. O evento – já consolidado no calendário do município – acontecerá a partir das 8h, no Clube Ypiranga, e é aberto ao público. A programação inclui bate-papo com escritores, contação de estórias e exposição literária dos alunos.

Entre as atrações deste ano está a Cigana Contadora de Estórias, vivida pela escritora Gabriela Kopinits, autora do livro infantil “Era uma vez... estórias de uma contadora de estórias” (Cepe, 2014), indicado em sua versão e-book ao Prêmio Jabuti no ano passado. “Será a minha primeira apresentação em Santa Cruz e estou muito contente com o convite. Vou contar estórias do meu livro e também estórias do nosso rico folclore”, adiantou Gabriela, que é membro da Red Internacional de Cuentacuentos/International Storytelling Network, a maior rede de contadores de estórias do mundo.
A Cigana Contadora de Estórias - Foto: Victor Vargas
A escritora e contadora de estórias, que este ano está completando 15 anos de atividade, vai ser tema da exposição da turma da 7ª série, da professora Claudete Maria da Silva. “Gabriela, a Cigana Contadora de Estórias, é uma pessoa que desenvolve um belo trabalho despertando o gosta da leitura entre jovens e adultos. O nosso país só vai melhorar através da informação e ela vem fazendo a parte dela e de forma muito bem feita”, comentou a educadora.

Baseado nas edições anteriores, a expectativa dos organizadores é de um público expressivo, incluindo estudantes de escolas das redes pública e privada de Santa Cruz do Capibaribe e cidades próximas. “Esta exposição literária busca promover não só o incentivo à leitura, mas também resgatar nos estudantes o prazer de ler e folhear livros, assim como fazê-los conhecer sobre quem eram e o que representaram esses grandes autores e suas contribuições para a humanidade”, destacou a gestora Fabiana Quixabeira.

Guanabara Comunicação
Foto: Victor Vargas

Serviço:
XIII Exposição de Arte Literária
Educandário Antônio Burgos
Data: 07/10
Horário: das 8h às 11h30 e das 13h30 às 16h30
Local: Clube Ypiranga
Rua José Francisco Barbosa, 320 – Bairro Novo - Santa Cruz do Capibaribe



Conto: "O semeador de tâmaras"

Esta versão vem do livro El saber es más que la riqueza, de  Silvia Dubovoy O semeador de tâmaras Em um oásis perdido no deserto, o velho El...