sexta-feira, 19 de abril de 2019

Conto: "A lavadeira e o padeiro"

"Era uma vez uma jovem lavadeira que ia ao rio todas as manhãs para lavar as roupas dos aldeões. Ela era uma garota humilde e com seu trabalho ela conseguia apenas o suficiente para ir vivendo.

No entanto, sua natureza alegre e tranquila lhe havia conquistado a simpatia e o afeto de seus vizinhos, que tentavam ajudá-la sempre que podiam. A menina, portanto, estava sempre feliz, não desejava mais nada e gostava de cantar enquanto lavava as roupas.

Ao lado da margem do rio, havia uma padaria e, todos os dias, da janela aberta, o delicioso cheiro de pão recém-assado se espalhava pelos arreadores. Era um aroma que a lavadeira achava delicioso, e embora ela não pudesse comprar o pão, sua boca se enchia de água apenas com o cheiro.

O padeiro era um homem ganancioso e desagradável que passava o dia resmungando. Toda manhã ele aparecia na janela para observar a lavadeira. Ele não suportava vê-la tão feliz e, embora sua voz fosse doce e agradável, ele preferia fechar a janela e assar no calor do que ter que ouvir suas canções.

Certa manhã, a jovem levantou a cabeça e flagrou o padeiro lhe olhando pela janela.

- Bom dia, padeiro! - saudou ela. - O cheirinho do seu pão alegra o meu dia.

- Só me faltava essa! - rosnou o homem. -  Pois se você gosta tanto do cheiro do meu pão, vai ter que pagar por ele.

- Que engraçado que você é! - a jovem sorriu sem parar de lavar a roupa. - Eu não estou brincando. Só o cheiro do seu pão já me alimenta.

- Se lhe alimenta, - disse o padeiro com raiva, - vou levar o caso aos tribunais e não vou parar até que um juiz a obrigue a pagar por desfrutar do cheiro do meu pão.

A garota o viu bater a janela e não conseguia entender por que ele estava tão zangado. Como o homem era conhecido pelo seu gênio ruim, ela pensava que a chateação dele iria desaparecer com o tempo.

Mas o padeiro não estava brincando. Ele foi em busca de um juiz para explicar o caso.

Alguns dias depois, um oficial de justiça foi ao encontro da garota e lhe entregou um papel com um selo oficial.

- O que é isso? - perguntou a lavadeira, que não sabia ler.

- Uma convocação do juiz.

- Você poderia lê-la para mim, por favor? - pediu a lavadeira.

- Aqui diz que o padeiro acusa você de apreciar o aroma de seu pão recém-saído do forno, todas as manhãs, sem pagar nada em troca.

- Caramba, o padeiro não estava brincando! - disse a jovem, que de repente perdeu a vontade de cantar.

- Você vai ter que ir ao tribunal esta tarde - acrescentou o oficial de justiça.

Ainda sem conseguir acreditar no que estava acontecendo, a moça foi se apresentar ao juiz.

Os cem habitantes do povoado também estavam na sala onde o julgamento seria realizado. O padeiro, certo de que ia ganhar a causa, pedia cem moedas de ouro da lavadeira por cheirar seu pão. As pessoas começaram a murmurar.

- Por que você pede tanto? Já é um homem rico! - eles disseram.

- Pobre menina, como vai pagá-lo? - eles se compadeciam dela.

O juiz ouviu o padeiro e depois a lavadeira. Finalmente, decidiu:

- Está bem! Menina, você tem três dias para pagar cem moedas de ouro ao padeiro.

Os aldeões não podiam acreditar em seus ouvidos!

A lavadeira saiu da sala do tribunal de cabeça baixa, sem conseguir conter as lágrimas. Enquanto isso, o padeiro foi para casa satisfeito, com a cabeça bem erguida e um sorriso de orelha a orelha.

- Não se preocupe, - disse um dos rapazes da cidade, aproximando-se da garota. - Todos nós vamos ajudá-la.

E assim foi. Os cem habitantes daquele lugar colocaram cada uma uma moeda de ouro em uma sacolinha, que entregaram à lavadeira.

Passados os três dias, a moça se apresentou diante do juiz e lhe entregou a bolsa.

- Muito bem, - disse o juiz, tilintando a bolsa diante dos olhos gananciosos do padeiro. - Nós já temos as moedas. Caso encerrado.

O homem se aproximou do juiz para pegar a bolsa.

- Um momento! - o juiz advertiu.

- Minha bolsa ...- resmungou o padeiro.

- A lavadeira lhe roubou o cheiro do pão, mas você deixou que ela o provasse alguma vez? - o juiz perguntou.

- Não, - respondeu o padeiro.

- Pois você também vai ter que se contentar em ouvir o tilintar das moedas! - exclamou o juiz, que era um homem muito justo.

Desta forma, o caso foi resolvido e a lavadeira recuperou a alegria e a vontade de cantar."

Conto peruano e imagem do site Muchos cuentos, traduzido e adaptado por mim. A fonte original é do livro "Un mundo de cuentos", de Anna Gasol e Teresa Blanch (vide referências abaixo).

GASOL, Anna Maria, e BLANCH, Teresa. Un mundo de cuentos - cuentos populares de los cinco continentes. España: Editorial Juventud, 2012.

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