Conto adaptado da narração de Blai Senabre
"Era uma vez um rei que adorava queijos. Ele gostava tanto que os fabricava em seu próprio palácio e por todo o lado o que se via era queijos e mais queijos. Queijos de todos os tipos e tamanhos. Defumados, fundidos e fedidos. Com ervas, pimentas ou picles. Queijos por toda a parte. Apesar do belo e florido jardim, o aroma que imperava ali era de... adivinhe?... Exatamente isso: queijo.
Um dia particularmente quente, o odor estava insuportável. Até para o rei que gostava tanto de queijo. Ele mandou que abrissem as janelas para que entrasse um ventinho e amenizasse aquele futum horrível.
Péssima ideia.
Carregado pelo vento, o cheiro das montanhas de queijo estocadas no palácio chegou até uma toca onde viviam centenas de ratinhos. Todos sabem que a comida favorita do rato é... adivinhe?... Exatamente isso: queijo.
Enlouquecidos pelo odor daquela delícia, as centenas de ratinho se puseram a correr em direção ao palácio real. Os guardas nada puseram fazer para deter a invasão da massa de roedores que, em poucos minutos, já tinha se jogado contra tudo quanto era queijo que havia no palácio. O rei, coitado, subiu no trono e de lá gritou chamando os conselheiros. Eles acudiram pressurosos, alguns em cima de pernas de pau com medo dos ratos.
- Conselheiros, precisamos fazer algo para acabar com esses ratos, senão eles acabam com os meus preciosos queijos!
Pensa que pensa, um dos conselheiros teve a ideia: gatos!
O rei então mandou que trouxessem gatos para acabar com os ratos.
Em pouco tempo, os gatos chegaram - dezenas deles - e logo se puseram a perseguir os ratos. O rei ficou feliz e até bateu palmas. Logo o palácio ficou livre dos terríveis roedores.
Mas, depois de acabados os ratos, o que se iria fazer com os gatos?
O palácio estava cheio deles. Havia gato em todos os aposentos, dentro de tudo quanto era cesto, armário, gaveta e guarda-roupa. Debaixo da cama, em cima da geladeira, pendurado nas cortinas. O rei já estava enlouquecendo com tanto miado, isso para não falar do fedido cocô que eles faziam em tudo quanto era vaso de planta.
Aborrecido, o rei gritou pelos conselheiros.
Eles vieram rapidinho ver o que estava chateando sua majestade.
- Conselheiros, precisamos fazer algo para acabar com esses gatos, senão eles acabam com os meus nervos!
Pensa que pensa, um dos conselheiros teve a ideia: cachorros!
O rei então mandou que trouxessem cachorros para expulsar os gatos.
O rei então mandou que trouxessem cachorros para expulsar os gatos.
Em pouco tempo, os cachorros chegaram - dezenas deles - e logo se puseram a perseguir os gatos. O rei ficou feliz e até bateu palmas. Logo o palácio ficou livre dos terríveis felinos.
Mas, depois de acabados os gatos, o que se iria fazer com os cachorros?
O palácio estava cheio deles. Havia cachorro em todos os aposentos, debaixo da cama, da mesa, das cadeiras, até do trono. O rei já estava enlouquecendo com tanto latido, isso para não falar do monte de cocô e xixi que eles faziam em tudo quanto era canto, pé de cadeira, de mesa e até do relógio de pé.
Irritado, o rei gritou pelos conselheiros.
Eles vieram rapidinho ver o que estava incomodando sua majestade.
- Conselheiros, precisamos fazer algo para acabar com esses cachorros, senão eles acabam com o palácio!
Pensa que pensa, um dos conselheiros teve a ideia: leões!
O rei então mandou que trouxessem leões para expulsar os cachorros.
Em pouco tempo, os leões chegaram - vários deles - e logo se puseram a perseguir os cachorros. O rei ficou feliz e até bateu palmas. Logo o palácio ficou livre dos bagunceiros animais.
Mas, depois de acabados os cães, o que se iria fazer com os leões?
O palácio estava cheio deles. Havia leões em todos os lugares, obrigando o rei, a rainha, as princesas, as damas e os nobres de sua corte a se trancarem em seus quartos. Ai aconteceu algo muito chato, que já deve ter acontecido com você. O rei ficou com vontade de fazer xixi. Mas muita vontade mesmo. O problema é que o banheiro ficava do outro lado do corredor. Como é que o rei ia sair do quarto com tanto leão do lado de fora?
Irritado e muito apertado, o rei gritou pelos conselheiros, que estavam trancados do lado de fora do palácio, todos com medo dos leões.
- Conselheiros, precisamos fazer algo para acabar com esses leões, senão eles acabam conosco!
Pensa que pensa, um dos conselheiros teve a ideia: elefantes!
O rei então mandou que trouxessem elefantes para expulsar os leões.
Em pouco tempo, os elefantes chegaram e logo se puseram a perseguir os leões. O rei ficou feliz e até bateu palmas. Logo o palácio ficou livre dos terríveis felinos.
Mas, depois de acabados os leões, o que se iria fazer com os elefantes?
O palácio estava cheio deles. Tinha elefante até dentro da banheira do rei! Como são bichos muito grandes, logo não havia espaço para mais ninguém. O rei, a rainha, as princesas, as damas, os nobres de sua corte e seus conselheiros tiveram que ficar fora do palácio.
Não seria tão mal, porque os jardins reais eram muito belos. O problema foi que começou a chover. Logo, as penteadas perucas do rei, dos nobres e dos conselheiros e os lindos penteados de cachinhos da rainha, das princesas e das damas começaram a se desmilinguir, ficando todos com péssima figura.
Irritado e todo molhado, o rei gritou pelos conselheiros.
Eles nem precisar vir rapidinho porque já estavam lá, igualmente encharcados.
- Conselheiros, precisamos fazer algo para acabar com esses elefantes, senão teremos que nos mudar para outro palácio!
Pensa que pensa, em meio a um espirro e outro, um dos conselheiros teve a ideia: ratos!
Epa, nós já não passamos por isso há alguns parágrafos? Mas se pensarmos com atenção, o único animal capaz de assustar o elefante é o rato.
O rei teve que concordar, só que dessa vez ele foi esperto. Quando os ratos chegaram no palácio, antes de deixá-los entrar, o rei fez um acordo com eles: poderiam comer apenas uma quantidade que ele iria deixar para eles no salão. Celebraram o acordo com um aperto de mão e pata, no fio do bigode, como se dizia antigamente.
E foi assim que os ratinhos livraram o palácio - o rei, a rainha, as princesas, as damas, os nobres e os conselheiros - dos enormes paquidermes. E pelo sim, pelo não, o rei mandou construir enormes câmaras refrigeradas para guardar os seus preciosos queijos...
Não sei é verdade ou mentira mas esse conto se acabou!"
Esta estória - que aqui está em versão livremente adaptada por mim - me foi contada hoje na Biblioteca Central de Cerdanyola, na grande Barcelona, em catalão pelo grande narrador espanhol Blai Senabre. O tema de sua sessão era "Histórias de Palácio".
Mais tarde, ele me disse que era uma versão que ele tinha feito do conto árabe "O sultão e os ratinhos", publicado em catalão por Joan de Boher. 😊
Nenhum comentário:
Postar um comentário