quinta-feira, 14 de março de 2019

Conto: "O dia em que o mar perdeu a cor" - Patricia Barbadillo


Esse lindo conto eu traduzi da estória da escritora espanhola Patricia Barbadillo publicada numa coletânea no livro "Cuentos azules", Ediciones SM. É perfeito para contar para crianças e adultos.
"Uma manhã, uma notícia correu pelo reino. O mar havia perdido sua cor. Em vez do azul turquesa, que mudava de intensidade ao longo do dia, agora só se via a cor amarela da areia ou o cinza das pedras. 
Os peixes assustados nadavam nervosos, provocando redemoinhos, achando que estavam em um aquário em vez de no mar.
Os polvos agitavam seus tentáculos soltando jatos de tinta, as merluzas abriam os olhos tentando entender o que estava acontecendo, e os caranguejos corriam para se enterrar na areia até que tudo tivesse passado.
Os cidadãos do reino se aglomeravam na praia com a boca aberta.
- Que terá acontecido? Já não podemos contemplar nosso mar tão azul... Quem terá roubado o azul do mar?
O rei, muito preocupado, mandou buscar os sábios.
- Quero que façam todos os estudos e experimentos necessários para que o mar volte a ser azul.
E os sábios passaram dias e dias na beira da praia, tomando mostras de água e anotando números enormes em seus cadernos.
No entanto, não conseguiram devolver ao mar a sua cor.
Os peixes, pouco a pouco, foram embora daquele mar tão esquisito, buscando outros mares e outros oceanos azuis e, com sua marcha, os pescadores não puderam tirar seus barcos de pesca, que ficaram empilhados na costa. 
Um dia, um daqueles sábios acreditou ter encontrado a solução.
- Não tem mais remédio, majestade. Terás que entregar vossa filha ao mar. Seu sangue azul devolverá a cor ao nosso mar.
- Que barbaridade! Como irei fazer tal coisa? - exclamou o rei. -  Mandarei emissários para outros reinos para que encontrem quem possa nos ajudar, mas não sacrificarei minha filha.
Uma manhã chegou à praia um jovem de aspecto extravagante. O cabelo muito longo e a barba comprida só deixavam ver uns olhos muito azuis.
Quando se aproximou da beira da água, todos lhe abriram caminho, assombrados pelo brilho do seu olhar.
 O jovem viajante ficou de frente para o mar, olhando intensamente para as ondas. Passaram-se os dias e assim continuou. Tanto fazia ser de noite ou dia, sem prestar atenção às perguntas que lhe faziam, ele continuava olhando para o mar sem falar, sem se mover, sem fazer o menor gesto.
E, pouco a pouco, o mar foi recuperando sua cor. Um azul muito pálido a princípio, logo mais parecido com o azul do céu e, por fim, com a cor turquesa.
Os peixes voltaram ao mar onde sempre haviam nadado, os cidadãos aplaudiram o jovem, o rei ofereceu-lhe os presentes mais maravilhosos e a princesa imediatamente se apaixonou por ele.
- Como você conseguiu devolver a cor ao mar? - O rei perguntou a ele.
- Por tanto tempo olhei para ele, com tanto esforço, e tão grande era o meu desejo de salvar a vida da princesa que, no final, as águas conseguiram pegar dos meus olhos a cor azul que lhes havia escapado.
- Que força! Que vontade!
- Tão somente um desejo poderoso - respondeu o jovem.
O rei, claro, despediu o sábio que quis entregar a princesa ao mar. O sangue dela é tão vermelho como o seu ou o meu. E aquele mar para sempre conservou sua cor azul-turquesa. Tão famoso se tornou que ainda hoje as pessoas viajam de lugares bem distantes para banharem-se em suas águas, sentindo com o azul envolve tudo..."

Ilustrações: Chata Lucini

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