Este delicioso conto é uma versão sueca de "A sopa de pedra", tema muito recorrente no folclore brasileiro. Eu o encontrei no livro "Un mundo de cuentos - cuentos populares de los cinco continentes", de Anna Gasol e Teresa Blanch, com ilustrações de Mercè López. A tradução e adaptação são minhas.
"Era uma vez uma velha que morava em uma casinha no meio de uma densa floresta.
Um dia de primavera, no final do meio-dia, a mulher se deu conta de que estava com fome e foi até a despensa para ver o que podia cozinhar. Um pouco decepcionada, viu que só tinha um pedaço de carne e dois ovos, além de algumas poucas hortaliças.
- Não sei se preparo um cozido de carne com batatas ou um par de ovos fritos e pepinos em conserva - ela disse em voz alta
Quando finalmente decidiu que o mais rápido era fazer ovos fritos, ao colocar manteiga na frigideira, viu pela janela da cozinha um mendigo procurando algo entre as árvores.
- Posso ajudar? ele perguntou, abrindo a janela.
- Espero não incomodar - respondeu o homem. - Estou à procura de frutos silvestres. Disseram-me que são abundantes nesta parte da floresta.
- Você já almoçou? - a velhinha perguntou a ele. - Você quer fazer uma torta?
- Oh, hoje só vou comer a sobremesa. Eu me conformo com pouco.
A velha ficou com pena.
Ela até gostaria de convidar o homem para comer, mas a despensa estava vazia e ainda faltavam dois dias para conseguir provisões do mercado. "Eu mal tenho para mim", ela pensou e se dirigindo ao homem, lamentou:
-Sinto muito, mas não posso te convidar.
- Não importa, obrigado mesmo assim, - disse o andarilho. - Embora eu tenha uma ideia. Se você me emprestar um recipiente e um pouco de água, posso fazer uma sopa muito especial.
Enquanto falava, começou a procurar dentro do surrão que levava pendurado no ombro.
- Olhe, - ele disse finalmente, e mostrou um pedaço de unha de porco, - Com isso eu posso preparar uma sopa deliciosa.
A mulher pensou que não perderia nada se o deixasse acender um fogo na frente da casa e ferver um pouco de água. Afinal, poucas eram as pessoas que vinham até ali e isso lhe proporcionaria um pouco de distração. Assim então, encheu uma panela com água enquanto o moço acendia o fogo. Quando a água começou a ferver, ele colocou na panela o pedaço de unha.
- Esta unha já foi fervida cinco vezes, - ele acrescentou. - Ainda faz uma boa sopa, mas se tivesse um pouco de sal, seria muito melhor.
- Isto não é um problema. Vou pegar o sal.
Pouco depois de colocar o sal, o homem disse:
-Estará pronta dentro de um instante. No entanto, lamento dizer que não será a sopa mais especial que já cozinhei. A unha foi cozida cinco vezes e pouca substância lhe restou. Se eu tivesse um pouco de farinha...
-Eu vou ver se sobrou alguma coisa - disse a velhinha.
Quase não tinha mais, porém o homem sacudiu o resto que havia no recipiente e depois mexeu o caldo com uma colher. A mulher achava que da mistura realmente saía um cheiro muito especial, embora tivesse dúvidas sobre seu sabor.
-Se eu pudesse adicionar um pouco de carne e algumas batatas... A verdade é que a sopa ficaria muito melhor, - disse o espertalhão. - Mas claro que se não pode ser, o que vamos fazer?
Na despensa havia a carne e as batatas para o ensopado. Ficaria sem o guisado, pensou a velha, mas a sopa estava quase pronta e se serviriam para melhorá-la...
O homem acrescentou os ingredientes e continuou mexendo o caldo que começava a cheirar muito bem.
- Vai ficar deliciosa, - disse ele, - mas se eu tivesse uma cebola, uma cenoura e um pouco de banha de porco... hummm...
Já com água na boca, a velhinha não hesitou. Entrou em casa, foi em busca dos ingredientes restantes e os adicionou à panela ela mesma.
- Pronta! - disse o homem depois de ferver um pouco mais.
Ele provou o sabor e exclamou: - Deliciosa!
A mulher, que não pôde resistir ao cheiro daquela sopa, de repente se lembrou que estava com fome. Foi na cozinha pegar pratos e colheres e convidou o homem para se sentar em sua mesa. Juntos, compartilharam a deliciosa sopa, os ovos fritos e os pepinos em conserva.
-Deliciosa! - exclamou a mulher quando terminaram de comer. - Eu nunca poderia imaginar que com um simples pedaço de unha de porco se pudesse cozinhar uma sopa tão deliciosa!"
In: Un mundo de cuentos, de Anna Gasol e Teresa Blanch (página 34)
2012, Editorial Juventud, Barcelona, Espanha
versão online em Muchos Cuentos
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