quinta-feira, 25 de maio de 2017

Conto: Doja, a fada cigana

Este belo conto de Magda Szécsi, uma romi húngara, traduzido e adaptado por mim, foi tirado de um magnífico vídeo, de uma série produzida pelo estúdio húngaro Kecskemetfilm, Cigánymések (Gypsy tales ou contos ciganos). 
Eu o contei pela primeira vez na Roda de Histórias promovida pela Cia Palavras Andarilhas, no dia 04 de maio deste ano, no Teatro Joaquim Cardozo, em homenagem ao Mês dos Ciganos.


Há muito, muito tempo atrás, quando as pessoas ainda acreditavam que as gotas de chuva eram as lágrimas do sol entristecido com as maldades que os homens cometiam aqui na Terra, vivia uma bela fada cigana chamada Doja.
Um dia, Doja decidiu deixar seu palácio nas nuvens e se misturar com seu povo.
Os ciganos estavam lavando seus cavalos no córrego quando notaram a figura de uma bela mulher descendo pelo arco-íris.
"É um milagre!", suspirou Zurkoja.
"Quem pode ser?", perguntou Mutó.
"Talvez uma deusa", disse Csádi.
"Ei, Zukka, Runó, Zoldikó! Venham rápido!, gritou Dzsilla.
E todos vieram e formaram um círculo ao redor da bela mulher.
"Que os habitantes dos céus tornem os vossos dias fáceis e que nunca lhes faltem vinho, carne e pão".
"Eu sei quem você é!", gritou um.
“- A pele macia de sua mão!”, se maravilhou outro.
"Sim, você deve ser ...", começou Mutó.
"... a fada dos ciganos!", conclui Csádi.
"Doja! Doja! Doja! ", exclamaram todos, cheios de alegria.
“Vim para ajudar vocês. Vocês terão seu próprio país onde poderão viver em paz. Vocês poderão construir casas de pedra e tijolo, como outras pessoas fizeram. Vamos aprovar leis, porque as pessoas não podem viver sem leis. Vocês devem trabalhar e a ninguém será permitido acumular riqueza. O pão pertencerá a todos e todos terão uma parte igual ", disse Doja, com o rosto corado de animação.
"Sim, sim! Vai ser como você disse!”, exclamaram todos.
"Então desmontem suas tendas, pois vamos partir em uma longa jornada."
Eles tinham muito pouco para levar, de modo que logo estavam prontos, esperando para partir em sua viagem.
Doja pegou seu pente mágico e começou a pentear os cabelos, que eram negros e tão longos que tocavam o chão. À medida que ela penteava, os cabelos iam crescendo cada vez mais até formarem um longo tapete de veludo negro.
"Peguem meu cabelo e segurem-se firme! Não tenham medo!" - disse ela.
Então eles se agarraram aos seus belos e fortes cabelos. E de repente eles podiam sentir que estavam subindo no ar e voando, como os pássaros que sempre invejaram.
E eles viajaram por dias e dias antes de, finalmente, chegarem.
"Olhem sobre vocês! Esta é a Terra dos Ciganos! Esta água salgada é o Mar do Povo Romá, mas há milhares e milhares de fontes de água doce. Os animais são mansos, e os ramos das árvores pendem para baixo, pesados com frutas suculentas.
"Eu vivi cem anos, mas nunca teria pensado que algum dia teríamos uma terra própria. Ei, ciganos, isso é realmente um milagre! ", Disse Zurkoja.
E em sua alegria, Zurkoja caiu na terra perfumada em lágrimas.
Os outros seguiram seu exemplo e também derramaram suas lágrimas no solo.
O que então aconteceu levaria muito tempo para ser recontado, mas depois de muitos anos, o fruto de seu duro trabalho veio, tudo como Doja havia predito.
Fileiras de belas casas caiadas de branco, jardins resplandecentes com flores misteriosas e coloridas, milhares de cavalos correndo livre nas margens do rio e do mar. Um verdadeiro paraíso de conto de fadas.
Mas uma manhã uma coisa terrível aconteceu.
A terra se abriu e das rachaduras rastejaram criaturas verdes, escamosas, de pescoço de cobra e cascos vermelho, fazendo barulhos estridentes e chiados esquisitos.
A terra tremeu sob seus cascos. As fissuras continuavam se abrindo no chão. As casas desmoronaram.
Os ciganos estavam mortos de medo.
Doja chorou enquanto observava como o trabalho de muitos anos foi destruído em poucos minutos.
"Quem são essas criaturas, Doja?", perguntou Dzsilla.
"São monstros de baixo da terra. Só chegam à superfície se alguém lhes roubou algo ".
"Ontem à noite, meu filho Zoldikó desenterrou do solo uma besta de olhos de diamante e pés vermelhos exatamente como esses monstros. Está em nossa casa ", disse a mulher.
Doja correu para a casa e lá ela viu Zoldikó brincando calmamente com a estranha criatura.
Ela pegou o pequeno monstro e, segurando-o no colo, correu para fora e soltou-o. A pequena fera saltou para os braços de sua mãe.
"Zübirki-ridikiki! Bukiki-zuki!", os estranhos animais cantaram, curvando-se com gratidão, e desapareceram, como se nunca tivessem emergido do solo.
As feridas na terra gradualmente foram curadas, mas os ciganos não estavam mais tão satisfeitos quanto antes.
"Como era agradável em tempos antigos vagar pela terra, dormir onde quer que estivéssemos quando caía a noite", disse Dzsilla, dando voz à opinião de todos.
"E vocês estão tão infelizes assim aqui?", perguntou Doja.
"Perdemos nossas andanças. Temos medo ... ", disseram os ciganos.
"O que você pensa, Csádi?", perguntou Doja ao jovem.
"O que diria o pássaro do paraíso se alguém amarrasse um fio de seda à sua delicada perna e ele não pudesse mais voar?", foi a resposta dele. "Leve-nos de volta ao lugar de onde viemos", pediu o rapaz.
"Está bem. Amanhã vou levá-los de volta ", disse a fada, embora não pudesse evitar a tristeza.
Na manhã seguinte, Doja acordou com uma tremenda comoção. Os ciganos estavam ocupados empacotando suas coisas. Eles queriam levar tudo e qualquer coisa que pudessem pegar com as suas mãos.
"Pessoal, pessoal! Só podemos levar conosco as coisas que trouxemos, nada mais!", disse a fada. "Meu cabelo não é forte o suficiente para segurar tudo isso!"
"Mas como eu poderia deixar meus cem cavalos aqui?", perguntou Mutó.
Doja percebeu que ninguém a estava escutando, por isso não voltou a falar.
"Estamos prontos para partir!", disse Dzsilla.
“Agarrem-se no meu cabelo com uma mão e com a outra segurem as suas bagagens", recomendou a fada.
Eles voaram por um longo caminho, deixando a Terra dos Ciganos longe, muito atrás deles, mas, além da fada, ninguém mais lamentou perder as misteriosas flores de raros perfumes, os pássaros gentis com suas lindas penas coloridas, o mar, os sussurros da floresta.
"Ei, não consigo mais aguentar! Está muito pesado!", gritou Mutó.
"Solte sua carroça!", Doja gritou.
"Nunca! O que seria de meus cavalos? ", foi a resposta dele.
E eles voavam. Suas mãos morenas ficaram cansadas, agarradas aos cabelos de Doja e ao peso de suas bagagens, e com o tempo elas foram se soltando, esgotadas, e os ciganos caíram, um após o outro, espalhados pelo céu.
"O que será deles? O que será deles? ", pensou a fada, com grande tristeza e dor, vendo seu povo caindo.
E de repente ela percebeu que estava voando sozinha, que ninguém mais estava segurando em seu cabelo.
"Oh criaturas infelizes! Agora eles terão que vagar até que se encontrem novamente. Não há nada que eu possa fazer para ajudá-los agora! ", lamentou Doja.

E assim tem sido desde então. O povo cigano continua vagando, sem encontrar a sua terra verdadeira, espalhado por todos os cantos do mundo, sem pátria, mas com o céu como teto e a liberdade como religião.
Optcha!

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Roda de Histórias terá a participação da Cigana Contadora de Estórias


Nesta quinta-feira (04), às 19h30, Gabriela Kopinits, a Cigana Contadora de Estórias, vai estar no Teatro Joaquim Cardozo, no Recife, participando da Roda de Histórias, evento promovido pelo grupo pernambucano Cia Palavras Andarilhas. O tema será estórias ciganas e Gabriela vai trazer uma especialmente da Hungria, terra dos seus antepassados. "Será um prazer muito grande para mim trazer estórias da terra dos meus avós, abrindo o Mês dos Ciganos, cujo dia é comemorado em 24 de maio, dia de Santa Sara Kali, padroeira do povo Rom", comenta a contadora de estórias.

Além da Cigana (autora do livro infantil "Era uma vez... estórias de um contadora de estórias", da Cepe Editora), o público vai poder se encantar com as narrativas de Luciana Moura e Márcia Cruz e a apresentação de dança cigana com a Confraria das Ciganas de Olinda.
“Há mais de sete anos a Cia Palavras Andarilhas vem com essa maravilhosa ação de resgatar a tradição oral e de ofertar, para todos que emprestarem seus ouvidos dourados, maravilhosas histórias”, ressalta Mônica Xavier, uma das coordenadoras do evento, que acontece sempre nas primeiras quintas-feiras de cada mês e tem entrada franca.
Serviço:
Roda de Histórias Ciganas
Quinta-feira - 04/05/2017 às 19h30
Teatro Joaquim Cardozo - Rua Benfica nº 157, no Bairro da Madalena - Recife

Fábula sinfônica terá a narração da Cigana Contadora de Estórias


Estreia nesta quarta-feira (03), no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu, Recife) a fábula sinfônica “O Sítio da Amizade”. Escrito e composto pelo conhecido maestro Jorge Salgueiro o espetáculo é uma fábula onde os personagens são animais representados por instrumentos musicais. Nesta passagem pelo Recife, serão os músicos da Orquestra Criança Cidadã.

“O Sítio da Amizade” conta a estória de um elefante que procura abrigar-se da tempestade dentro de um sítio onde já se encontram vários outros animais. O seu tamanho, a sua cor e a sua forma fazem com que não seja muito bem recebido entre os demais bichos. As crianças no sítio intervêm e ensinam uma lição de solidariedade e aceitação das diferenças. A narração do espetáculo será feita pela escritora Gabriela Kopinits. Membro da Red Internacional de Cuentacuentos/International Storytelling Network, a maior rede de contadores de estórias do mundo, Gabriela é conhecida em Pernambuco como A Cigana Contadora de Estórias.

A produção do espetáculo é da premiada companhia portuguesa Foco Musical, há mais de duas décadas dedicadas à difusão da pedagogia musical. “O Sítio da Amizade” é o segundo projeto que a companhia traz para o Brasil. No ano passado, o grupo trouxe “A Orquestra dos Brinquedos”, que se apresentou em concertos por cidades de São Paulo, Pernambuco e do Ceará.

A montagem em Pernambuco tem o apoio do Real Hospital Português do Recife, Conselho da Comunidade Portuguesa em Pernambuco, Gabinete Português de Leitura de Pernambuco e Hotel TRYP Pernambuco/Rede Meliá Hotels International.

Guanabara Comunicação, com informações da Foco Musical

Foto: Telmo Losquiavo​




Serviço:

O Sítio da Amizade – Teatro Luiz Mendonça/Parque Dona Lindu- Boa Viagem/Recife

03-05: 08h30, 10h00, 14h30 e 16h00

04-05: 08h30, 10h00 e 14h30

05-05:09h30 (esgotada), 14h00, 15h30 (esgotada) e 18h30 (esgotada)

Ingressos: R$ 35,00 meia e R$ 70,00 inteira na bilheteria do teatro

Conto: "O semeador de tâmaras"

Esta versão vem do livro El saber es más que la riqueza, de  Silvia Dubovoy O semeador de tâmaras Em um oásis perdido no deserto, o velho El...