Este belo conto de Magda Szécsi, uma romi húngara, traduzido e adaptado por mim, foi tirado de um magnífico vídeo, de uma série produzida pelo estúdio húngaro Kecskemetfilm, Cigánymések (Gypsy tales ou contos ciganos).
Eu o contei pela primeira vez na Roda de Histórias promovida pela Cia Palavras Andarilhas, no dia 04 de maio deste ano, no Teatro Joaquim Cardozo, em homenagem ao Mês dos Ciganos.
Há muito,
muito tempo atrás, quando as pessoas ainda acreditavam que as gotas de chuva eram as lágrimas do sol entristecido com as maldades que os homens cometiam aqui na Terra, vivia uma bela fada cigana chamada Doja.
Um dia, Doja
decidiu deixar seu palácio nas nuvens e se misturar com seu povo.
Os ciganos
estavam lavando seus cavalos no córrego quando notaram a figura de uma bela mulher
descendo pelo arco-íris.
"É um milagre!",
suspirou Zurkoja.
"Quem
pode ser?", perguntou Mutó.
"Talvez
uma deusa", disse Csádi.
"Ei,
Zukka, Runó, Zoldikó! Venham rápido!, gritou Dzsilla.
E todos
vieram e formaram um círculo ao redor da bela mulher.
"Que os
habitantes dos céus tornem os vossos dias fáceis e que nunca lhes faltem vinho, carne e pão".
"Eu sei
quem você é!", gritou um.
“- A pele
macia de sua mão!”, se maravilhou outro.
"Sim,
você deve ser ...", começou Mutó.
"... a
fada dos ciganos!", conclui Csádi.
"Doja! Doja!
Doja! ", exclamaram todos, cheios de alegria.
“Vim para
ajudar vocês. Vocês terão seu próprio país onde poderão viver em paz. Vocês
poderão construir casas de pedra e tijolo, como outras pessoas fizeram. Vamos
aprovar leis, porque as pessoas não podem viver sem leis. Vocês devem trabalhar
e a ninguém será permitido acumular riqueza. O pão pertencerá a todos e todos
terão uma parte igual ", disse Doja, com o rosto corado de animação.
"Sim,
sim! Vai ser como você disse!”, exclamaram todos.
"Então desmontem
suas tendas, pois vamos partir em uma longa jornada."
Eles tinham
muito pouco para levar, de modo que logo estavam prontos, esperando para partir
em sua viagem.
Doja pegou seu pente mágico e começou a pentear os cabelos, que eram negros e tão longos que tocavam o chão. À medida que ela penteava, os cabelos iam crescendo cada vez mais até formarem um longo tapete de veludo negro.
"Peguem
meu cabelo e segurem-se firme! Não tenham medo!" - disse ela.
Então eles
se agarraram aos seus belos e fortes cabelos. E de repente eles podiam sentir
que estavam subindo no ar e voando, como os pássaros que sempre invejaram.
E eles
viajaram por dias e dias antes de, finalmente, chegarem.
"Olhem
sobre vocês! Esta é a Terra dos Ciganos! Esta água salgada é o Mar do Povo
Romá, mas há milhares e milhares de fontes de água doce. Os animais são mansos,
e os ramos das árvores pendem para baixo, pesados com frutas suculentas.
"Eu
vivi cem anos, mas nunca teria pensado que algum dia teríamos uma terra
própria. Ei, ciganos, isso é realmente um milagre! ", Disse Zurkoja.
E em sua
alegria, Zurkoja caiu na terra perfumada em lágrimas.
Os outros
seguiram seu exemplo e também derramaram suas lágrimas no solo.
O que então
aconteceu levaria muito tempo para ser recontado, mas depois de muitos anos, o
fruto de seu duro trabalho veio, tudo como Doja havia predito.
Fileiras de
belas casas caiadas de branco, jardins resplandecentes com flores misteriosas e
coloridas, milhares de cavalos correndo livre nas margens do rio e do mar. Um
verdadeiro paraíso de conto de fadas.
Mas uma
manhã uma coisa terrível aconteceu.
A terra se
abriu e das rachaduras rastejaram criaturas verdes, escamosas, de pescoço de
cobra e cascos vermelho, fazendo barulhos estridentes e chiados esquisitos.
A terra
tremeu sob seus cascos. As fissuras continuavam se abrindo no chão. As casas
desmoronaram.
Os ciganos
estavam mortos de medo.
Doja chorou
enquanto observava como o trabalho de muitos anos foi destruído em poucos
minutos.
"Quem
são essas criaturas, Doja?", perguntou Dzsilla.
"São
monstros de baixo da terra. Só chegam à superfície se alguém lhes roubou algo
".
"Ontem
à noite, meu filho Zoldikó desenterrou do solo uma besta de olhos de diamante e
pés vermelhos exatamente como esses monstros. Está em nossa casa ", disse
a mulher.
Doja correu
para a casa e lá ela viu Zoldikó brincando calmamente com a estranha criatura.
Ela pegou o
pequeno monstro e, segurando-o no colo, correu para fora e soltou-o. A pequena
fera saltou para os braços de sua mãe.
"Zübirki-ridikiki!
Bukiki-zuki!", os estranhos animais cantaram, curvando-se com gratidão, e
desapareceram, como se nunca tivessem emergido do solo.
As feridas
na terra gradualmente foram curadas, mas os ciganos não estavam mais tão
satisfeitos quanto antes.
"Como
era agradável em tempos antigos vagar pela terra, dormir onde quer que
estivéssemos quando caía a noite", disse Dzsilla, dando voz à opinião de
todos.
"E vocês
estão tão infelizes assim aqui?", perguntou Doja.
"Perdemos
nossas andanças. Temos medo ... ", disseram os ciganos.
"O que
você pensa, Csádi?", perguntou Doja ao jovem.
"O que
diria o pássaro do paraíso se alguém amarrasse um fio de seda à sua delicada perna
e ele não pudesse mais voar?", foi a resposta dele. "Leve-nos de volta
ao lugar de onde viemos", pediu o rapaz.
"Está
bem. Amanhã vou levá-los de volta ", disse a fada, embora não pudesse
evitar a tristeza.
Na manhã
seguinte, Doja acordou com uma tremenda comoção. Os ciganos estavam ocupados
empacotando suas coisas. Eles queriam levar tudo e qualquer coisa que pudessem
pegar com as suas mãos.
"Pessoal,
pessoal! Só podemos levar conosco as coisas que trouxemos, nada mais!",
disse a fada. "Meu cabelo não é forte o suficiente para segurar tudo isso!"
"Mas
como eu poderia deixar meus cem cavalos aqui?", perguntou Mutó.
Doja
percebeu que ninguém a estava escutando, por isso não voltou a falar.
"Estamos
prontos para partir!", disse Dzsilla.
“Agarrem-se
no meu cabelo com uma mão e com a outra segurem as suas bagagens",
recomendou a fada.
Eles voaram por
um longo caminho, deixando a Terra dos Ciganos longe, muito atrás deles, mas, além
da fada, ninguém mais lamentou perder as misteriosas flores de raros perfumes, os
pássaros gentis com suas lindas penas coloridas, o mar, os sussurros da
floresta.
"Ei,
não consigo mais aguentar! Está muito pesado!", gritou Mutó.
"Solte sua
carroça!", Doja gritou.
"Nunca!
O que seria de meus cavalos? ", foi a resposta dele.
E eles voavam.
Suas mãos morenas ficaram cansadas, agarradas aos cabelos de Doja e ao peso de
suas bagagens, e com o tempo elas foram se soltando, esgotadas, e os ciganos
caíram, um após o outro, espalhados pelo céu.
"O que
será deles? O que será deles? ", pensou a fada, com grande tristeza e dor,
vendo seu povo caindo.
E de repente
ela percebeu que estava voando sozinha, que ninguém mais estava segurando em seu
cabelo.
"Oh
criaturas infelizes! Agora eles terão que vagar até que se encontrem novamente.
Não há nada que eu possa fazer para ajudá-los agora! ", lamentou Doja.
E assim tem
sido desde então. O povo cigano continua vagando, sem encontrar a sua terra
verdadeira, espalhado por todos os cantos do mundo, sem pátria, mas com o céu como teto e a liberdade como religião.
Optcha!
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