Lendo o artigo do economista Gustavo Ioschpe ("Educação e tecnologia: o sarrafo subiu"), na Veja edição 2.322 (de 22 de maio), sobre o discurso dos professores medíocres que dizem não conseguir estimular seus alunos por culpa da disparidade tecnológica entre a chamada Geração Y (geração que nasceu convivendo com a internet) e eles, dinossauros que não conseguem se adaptar às novidades - me deparei com uma declaração que me deixou de cabelo em pé e doida para digitar uma resposta - professora e contadora de estórias que sou. Ioschpe disse que já não há mais espaço para a intermediação - "No mundo pré-internet, precisávamos de intermediários para realizar uma série de atividades. Precisávamos de agência de turismo para comprar passagem de avião, de um jornal ou revista para receber notícias, de editoras e livrarias para ler um livro, de médicos para conhecer doenças e opções de tratamento."
Rapaz, concordei com quase tudo, o que pegou foi esse trecho de que não precisamos mais de editoras e livrarias para ler um livro.
Como escritora - iniciante, porém empolgadíssima - essa opinião, baseada em evidências (já se pode comprar livros em formato digital e lê-los com todo o conforto em um tablet) - me deixa triste. Tudo bem, é mais barato e mais amigo do meio ambiente, porque menos árvores serão cortadas para produzir o papel. Mas ainda permaneço triste.
Triste porque gosto de pensar que me sinto confortável em meio a toda essa tecnologia - apesar de não pertencer à Geração Y (já sou quarentona). Entendo as redes sociais e até consigo transitar, com relativa segurança e desenvoltura, por elas.
Mas ler um livro em uma tela de cristal líquido (a tradução das letrinhas LCD) - para mim é uma chatice sem fim. Aquela luz me incomoda, me dá sono e me rouba o prazer de virar as páginas, sentir o cheirinho do papel, acariciar a capa, me deliciando com seus elementos visuais, segurar o livro ao peito com carinho como se um amigo fosse, e vê-lo, lindo, entre outros tesouros da minha biblioteca. Tudo bem que num simples pendrive eu consiga carregar centenas de obras de tudo quanto é formato - PDF, DOC, MP3, AVI, WMW, MPG4, DVIX, etc etc - mas é algo tão abstrato! Nesse notebook mesmo eu tenho um monte de livro - nem 10% lidos.
Aí eu matuto com meus botões e as teclas do meu teclado: será que esse tipo de facilidade - da obra digital - não está chegando cedo demais ao alcance de um público que ainda nem passou pelo estágio de se acostumar a - e curtir - folhear um livro?
Peço vênia, meu caro Ioschpe, mas ainda acho que precisamos de editoras, livrarias, sebos, bibliotecas e livros - impressos. Esse negócio de virtual, digital e coisa e tal é coisa para outra geração.
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