terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ler faz crescer

"Ler faz crescer" é a nova campanha da Fundação Itaú Cultural para incentivar a leitura através da contação de estórias. A fundação está distribuindo milhares de kits com 4 livros super legais, de graça. A única exigência é que as estórias sejam contadas e depois os livros sejam passados para outra pessoa contá-las a outras crianças. A proposta é nobre e eu já me inscrevi. Recebi os quatro livrinhos, todos maravilhosos - um até de poesias e um de jogo de parlendas. Quem se interessar, é só visitar o site do projeto - www.lerfazcrescer.com.br - preencher os dados e esperar o pacote com os livrinhos. Pode demorar um pouco a chegar, mais de 40 dias, mas se ainda tiverem no estoque, com certeza vão chegar na sua casa.
No pacote, vem ainda um encarte muito útil, com dicas para contadores de estórias. Leia o texto publicado no site do projeto:



Por que ler histórias para crianças?

Em primeiro lugar, porque isso lhes dá prazer. Elas também aprendem com as histórias outras culturas, conhecem seus valores, modos de ser e viver. E, quando uma criança pede repetidamente que lhe contem uma história, provavelmente, encontre, nos fatos narrados, acontecimentos que se relacionam com sua vida, seus medos e seus desejos. Na escuta das histórias e “causos”, as crianças também aprendem a separar o que faz parte da realidade e o que é da ordem do imaginário. E, nesse sentido, desenvolvem a imaginação, inventam e sabem que no mundo do “faz de conta” tudo é possível. Com isso vão entendendo, ainda que de forma sutil, a passagem do tempo, a idéia de passado e de memória.
Muitos estudos mostram que o adulto tem papel fundamental para que a criança coloque a leitura e a escrita como foco de atenção. É a companhia do adulto que a atrai para folhear um livrinho, imaginar cenas de uma história, perguntar o que está escrito ou prestar atenção na narrativa lida.
Por isso, é importante que as crianças possam vivenciar a escuta de histórias interagindo com um adulto. Nesses momentos, o adulto lê alguns trechos, conta outros, dramatiza a voz de alguns personagens, chama a atenção para a ilustração. Nessa situação faz vários jogos verbais: cadê o porquinho? Quem é esse aqui? O que a menina está fazendo? Como a mãe faz quando está brava?
Essa prática possibilita que a criança passe do papel de ouvinte participante para o de leitor. Aos poucos será capaz de ocupar esse lugar, apoiando-se na ilustração, na memória e na colaboração de alguém mais experiente.

Dicas para tornar-se um grande contador de histórias:

  1. Escolha as histórias que você gosta ou gostava de ouvir. É preciso gostar do que se lê, para contagiar o ouvinte.
  2. Encontre um lugar inusitado. Um sofá, a sombra de uma árvore, um pequeno tapete, os primeiros degraus de uma escada.
  3. Dê vida aos personagens. Capriche no ritmo, na entonação e use todo seu corpo para dar vida ao enredo.
  4. Aposte na memória das crianças. Experimente, aos poucos, ir dividindo com elas a narrativa e as falas da história.
  5. Lembre-se de que a experiência com a escuta deve começar e terminar com a própria narrativa. Não busque explicações, justificativas, pretextos. A história precisa se bastar: a experiência se conclui com o desfecho do enredo.
  6. Fisgue pelo olhar. Convide a criança par mergulhar na aventura, se surpreender e tentar adivinhar o que está por vir.
  7. Tenha em mente que a leitura de um texto não se esgota em uma primeira leitura. Cada vez que você lê a história, a criança descobre mais detalhes, novas possibilidades e outros entendimentos.
Fonte: Fundação Itaú Social - Projeto Ler Faz Crescer

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Começa hoje a Fliporto - Festa Literária Internacional de Pernambuco

Puxa, faz um bom tempo que não escrevia nada... Estou ocupada até as orelhas fazendo o BTTC - Basic Teachers Training Course da Cultura Inglesa e cuidando dos meus dois filhos pequenos, de modo que me sobra quase tempo nenhum para o restante dos meus projetos.

Hoje, por exemplo, começa a 6ª Fliporto e a 1ª Feira do Livro de Pernambuco, que acontecem, este ano, pela primeira vez, na Praça do Carmo, em Olinda. Gostaria tanto de ir! Foram convidados 40 escritores e vai haver um monte de mesas-redondas, palestras e debates.
"Entre os artistas participantes da festa, pela primeira vez este ano em Olinda --que sucede Porto de Galinhas--, estão o italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris e o brasileiro Moacyr Scliar - vencedor do Prêmio Jabuti de 2009 -, o norte-americano Mark Dery e o argentino Ricardo Piglia, além dos biógrafos da escritora Clarice Lispector, o norte-americano Benjamin Moser e a brasileira Nádia Gotlib", informa a Redação do UOL. Para as crianças, também haverá um espaço especial, segundo a matéria do UOL: "Extensão infantil do evento literário, a Fliporto Criança prevê a realização de oficinas de gastronomia, desenho, reciclagem de lixo, pintura e artesanato; oferece espaço recreativo --também chamado de Praça Clarice Lispector--, tendas de apresentações e contação de histórias da vida judaica por meio de uma carroça itinerante".
Paralelo ao evento, que vai até o dia 15, haverá uma feira de livros, oficinas e apresentações.
Para mais informações, visite o site da Fliporto 2010.

Serviço:

6ª FLIPORTO (FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PERNAMBUCO)
Onde: Praça do Carmo, Olinda-PE
Quando: de 12 a 15 de novembro de 2010
Quanto: passaporte geral a R$ 80 (R$ 40 meia)
Informações: 0/xx/81/3269-6134.

domingo, 18 de julho de 2010

Palavra Cantada

Sandra Peres e Paulo Tatit

Faz pouco tempo que conheci esse grupo maravilhoso, formado pela Sandra Peres e pelo Paulo Tatit. É uma dupla de músicos extremamente talentosa, formada em 1994 com a proposta de apresentar músicas infantis - resultado de composições próprias e de pesquisas - de uma forma lúdica, bem arranjada, produzida e cuidada. A Sandra Peres parece uma bruxinha encantada, daqueles que mexem seu caldeirão só para produzir poções mágicas e espalhar o bem. Tem uma voz macia e uma performance muito bacana. O Paulo Tatit é um músico muito talentoso, formando com a Sandra uma dupla fantástica, que já produziu dezenas de cd's  e clipes que recomendo com entusiasmo a pais e a educadores:

Discografia e DVD's: “Canções de Ninar” (1994); “Canções de Brincar” (1996); “Cantigas de Roda” (1998); “Canções Curiosas” (1998); “MilPássaros”(1999); “Noite Feliz” (1999); “Canções do Brasil” (2001); “Meu Neném” (2003); CD e DVD “Palavra Cantada 10 anos” (2004); DVD “Clipes da TV Cultura”; “Pé com Pé” (2005); DVD "Canções do Brasil" (2006); DVD "Pé com Pé"(2007); CD "Carnaval Palavra Cantada"(2008); "Palavra Cantada Tocada"(2008); "Canciones Curiosas - palabra cantada en español"(2008).

Ah, o grupo se apresentou ontem, no Caldeirão do Huck, com "Mamãe Água", a música vencedora do concurso promovido pela Natura para destacar a importância da água. Foi lindo...

Conheça mais um pouco do Palavra Cantada aqui e veja na seção "Apresentação de contadores" o vídeo da música "O rato", que dá uma bela  estória para ser cantada e contada.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Conto: "A agulha e a linha" - Machado de Assis

Estava assistindo hoje ao programa Mundo da Leitura, no Futura, quando apresentaram um conto que eu já tinha lido há muito tempo: "A agulha e a linha", de Machado de Assis. É muito interessante e serve para ilustrar um duelo entre o orgulho e a humildade.

"A agulha e a linha"
Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
- Deixe-me, senhora.
- Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável?
- Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça.
- Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
- Mas você é orgulhosa.
- Decerto que sou.
- Mas por quê?
- É boa ! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
- Você?! Esta agora é melhor. Você que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?
- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
- Também os batedores vão adiante do imperador.
- Você, imperador?
- Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em  casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela.
Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.
Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana - para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
-Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas.
A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
- Ora, e agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanado a cabeça:
- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária.

Fazendo bonecas de papel e colorindo desenhos

Bonecas de papel para recortar e brincar
Hoje eu voltei ao passado. Estava procurando desenhos para imprimir para minha filha colorir quando encontrei um blog sobre bonecas de papel. Gente, que delícia! Revi as bonecas da minha infância, lembrei de como eu era, ainda tão tenra, criança cheia de sonhos, risonha, encantada com o mundo dos livros, do faz-de-conta... Eita, que coisa mais gostosa! E eu queria partilhar isso com você, que está lendo esta postagem agora. Talvez também lhe traga boas recordações. O blog é o Bonecas de Papel. Vale a pena visitar!

Ah, hoje estava no banheiro, em uma atividade rotineira, quando minha filha, que vai fazer 2 anos no mês que vem, entrou e sentou-se em sua cadeirinha-penico. Ela queria conversar e eu tentei argumentar que estava fazendo "aquilo", que não era um bom momento para ela ficar comigo... hehehe... mas ela nem quis saber. Queria ficar "boigo", que é como ela fala "comigo". Pois bem, pensei e logo tive uma ideia. Peguei um livro que estava lendo, da Betty Coelho sobre a Arte de Contar Histórias (excelente, recomendo), e comecei a contar a estória da menina bailarina que estava na capa. Gente, ficou uma estória tão legal, a menina ganhou um par de sapatilhas encantadas que acabaram virando um pesadelo (tipo aquela estória dos sapatinhos vermelhos), mas foi salva pela mãe (resumindo muito, que depois posto aqui a estória completa, do jeito como contei para Vivi), que senti vontade de correr pro computador e digitá-la antes que eu me esquecesse dela... Pois é, criatividade é que nem músculo, tem que exercitar sempre!

Sim, antes que eu me esqueça de outra coisa: estava falando dos desenhos para colorir. Imprimi muitos para minha filha, de princesas, Turma da Mônica, Barbie e tal, desse site - http://www.desenhosparaimprimir.org/. Montei a mesinha dela, com os lápis de cor e de cera, canetinhas, borrachas e tudo o mais e coloquei os papéis para ela pintar. Ela a-d-o-r-o-u!!!

E falando em desenhos para colorir, achei um artigo interessantíssimo, que achei legal publicar aqui:


"Por que atividades de colorir são importantes?


Colorir desenhos é uma atividade tão natural para as crianças como dormir e chorar. Muito mais do que formas aleatórias, colorações monocromáticas ou rabiscos quase ilegíveis, o ato de colorir é extremamente importante nos artistas de palmo e meio, incentivando o desenvolvimento de várias e essenciais capacidades.

Expressão pessoal - Desenhar e colorir são formas de expressão pessoal por excelência das crianças, que nem sempre conseguem exprimir-se adequadamente através da fala ou da escrita. Vários estudos já comprovaram que é bastante fácil perceber o que alguém está a sentir através das imagens que desenha ou das cores que utiliza para colorir. Por exemplo, uma criança que desenha facas, pistolas, caveiras ou outros objetos perturbantes pode estar a pedir ajuda. Por outro lado, uma criança que desenha o sol, passarinhos, corações ou outros objetos alegres, pode estar a expressar o seu contentamento,a sua forma feliz de ver a vida. É um exercício excelente para desenvolver personalidades e deixar a criatividade fluir!

Identificação das cores - A maioria das crianças tem a sua primeira (e muitas vezes única!) exposição à roda das cores e ao conceito de arte, graças às brincadeiras infantis com lápis de cor, de cera e marcadores. Aprender a distinguir as diferentes cores bem cedo, é meio caminho andado para perceber as suas várias e corretas aplicações, bem como possíveis misturas entre cores primárias e secundárias, mais tarde.

Uma forma de terapia - O simples ato de colorir pode ser terapêutico para muitas crianças e é uma atividade utilizada em muitos hospitais, centros de aprendizagem e instituições para possibilitar o descarregar de emoções, sentimentos e frustrações. Uma criança zangada pode perfeitamente pintar o seu desenho de uma árvore toda preta, a tal ponto que a própria figura deixe de ser visível. De outra perspectiva, uma criança organizada, que gosta das coisas à sua maneira, pode colorir o seu desenho meticulosamente, sem ultrapassar qualquer linha do mesmo. Independentemente da forma como vai colorir ou desenhar, esta é uma excelente forma de acalmar as crianças.

Aprender a segurar e a controlar - Um lápis de cera é, para muitas crianças, o primeiro objeto que aprendem a segurar, para o poderem controlar. Dominar um lápis de cera é a rampa de lançamento para conseguirem dominar as restantes ferramentas de colorir lápis de cor, marcadores, pincéis e, mais tarde, os de escrita caneta e lápis. Quanto mais bem desenvolvidas estiverem as suas capacidades de segurar e de controlar um lápis de cera, mais facilitada será a sua aprendizagem mais tarde, quando começarem a escrever.

Coordenar para pintar - O desenvolvimento da coordenação olho-mão é outra grande lição que as crianças retiram das suas sessões de colorir. Desde segurar firmemente o lápis de cera, a reconhecer as cores que devem ser utilizadas, até ao ato de afiar os lápis, a verdade é que colorir desenhos implica uma enorme coordenação entre os olhos e as mãos. Quanto mais praticarem, mais vão desenvolver esta aptidão tão básica para a vida.

Aperfeiçoamento das capacidades motoras - Colorir é divertido, não é? Pois é! Mas também é muito mais do que isso enquanto as crianças se entretêm a colorir, interagindo com marcadores, tintas, lápis de cor, de cera e papel, estão a trabalhar e a fortalecer os músculos das mãos. Colorir exige uma coordenação básica e um esforço conjunto entre os músculos dos braços e os das mãos que, uma vez desenvolvidos, permitirão às crianças executar atividades mais exigentes, mas com dificuldade mínima.

Concentração máxima - As crianças que se dedicam a 100% à coloração dos seus desenhos fazem-no na perfeição: não há espaço que fique por preencher, nem linha que tenha sido cruzada! E isto por quê? O simples ato de colorir tem a capacidade de prender a atenção de uma criança, estimulando a sua concentração máxima, mesmo face a um ambiente barulhento como uma sala de aula ou na cozinha antes da hora de jantar. Com o passar do tempo, os seus níveis de concentração vão continuar a melhorar.

Estabelecer limites - Uma criança mais nova não saberá respeitar as linhas do seu desenho tão bem como uma criança mais velha que já faz um esforço enorme para colorir dentro das mesmas mas depressa ela chega lá! E ainda bem! Reconhecer e respeitar estes limites (mesmo que sejam os de um desenho!) é uma excelente experiência e método de aprendizagem para aquilo que se segue: escrever letras e números nas linhas de um caderno!
Missão cumprida!

A satisfação e o sorriso na cara de qualquer criança que consegue colorir um desenho inteiro dentro das linhas, é uma vitória muito importante para os artistas de palmo e meio! O sentido de cumprimento, de que tudo é possível, é fundamental para as crianças porque dá-lhes motivos para se sentirem orgulhosos, capazes, confiantes e, claro, para ser congratulado pela sua comunidade mais imediata. Para além disso, é um sentimento de missão cumprida que dificilmente esquecerão."

sábado, 5 de junho de 2010

O barulho que se faz quando se joga estrelas para o céu

Fogos de artifício são estrelas que o homem joga lá para o céu!

Estava dando banho no meu filho caçula, de 4 meses, quando começaram a espocar os foguetes e fogos de artifício pois hoje, aqui em Caruaru, é a Noite dos Fogueteiros, festa tradicional do nosso São João, tido como o Maior e Melhor do Mundo (que os paraibanos me perdoem a falta de modéstia... hehehe). Minha filha, de 1 ano e 10 meses, tem medo de barulho e fugiu, acuada, para o cantinho atrás da banheira. Eu tinha que tirar aquele medo de barulho dela, ou ela iria sofrer. Já não gostava quando usamos o liquidificador, a batedeira ou a furadeira... Era hora de acabar com aquilo.
Pensei rápido e tive uma ideia.
- Filha, não precisa ter medo desse barulho. São só os moços acendendo foguetes de estrelas para que o céu não fique sem elas. O céu não é cheinho delas? Então, são esses moços que jogam mais, lá para cima, quando as estrelinhas de lá do céu estão se acabando. E esse barulhão todo é porque o céu é muito longe, muito alto, e tem que ter muita força para jogar a estrela até lá.
Ela me olhou meio desconfiada.
- Vivi tem medo... – balbuciou.
- Precisa ter medo não, filha. Veja, depois que mamãe der banho no seu irmãozinho e colocá-lo para dormir no bercinho, mamãe vai te levar lá fora no quintal para você ver quanta estrelinha nova tem hoje lá no céu! Tem estrelinhas cor-de-rosa, vermelhas, azuis, verdes, amarelinhas, douradas e até prateadas! Você pode até escolher uma e dar um nome a ela. Ela será sua amiguinha e você poderá vê-la sempre brilhando lá no céu!
Ela pareceu gostar da ideia, pois saiu do seu esconderijo e ficou me esperando terminar o banho do irmãozinho. Nossa secretária entrou no quarto e eu expliquei a ela que Vivi queria ver as estrelas novas que os moços que soltam foguetes estavam jogando para o céu.
Ela entendeu o artifício e chamou Vivi.
E lá se foram as duas, minha filha com os olhinhos brilhando de curiosidade para ver as novas estrelinhas que os moços daqui da terra tinham jogado para o céu.
Essa estorinha me inspirou... pode até virar outro livrinho da Cigana Contadora de Estórias, quem sabe?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Texto: "Era uma vez..." - Flávio Carrança

Encontrei esse texto enquanto pesquisava livros para a minha biblioteca de contadora de estórias. Achei muito interessante e decidi publicar aqui para que você possa ler.

Era uma vez...
A arte de contar histórias não morreu e promete deixar as crianças felizes para sempre
FLÁVIO CARRANÇA

Era uma vez um mundo em que à noite, em frente ao fogo, homens, mulheres e crianças se reuniam para contar e ouvir histórias de animais falantes, príncipes e heróis, de gênios do mal e velhos sábios, de fadas bondosas e bruxas malvadas. Teria terminado esse tempo? Não, não acabou. A arte de contar histórias, que chegou a ter seu desaparecimento anunciado devido às modernas formas de comunicação e mesmo à alteração dos hábitos familiares, vem sendo revigorada no Brasil e no mundo inteiro por uma nova geração de contadores. Influenciados pela literatura escrita e pelo teatro, com técnicas aprimoradas em oficinas e cursos, trabalhando em grupo ou individualmente, eles recriam no meio urbano uma prática que também é objeto de estudo nas universidades, tema de grandes eventos nacionais e internacionais e que já ganhou até espaços específicos nos cadernos de programação cultural dos grandes jornais.
Estudiosa há muitos anos da arte de contar, a socióloga, livre-docente e professora do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Regina Machado é autora do livro Acordais – Fundamentos Teórico-Poéticos da Arte de Contar Histórias e foi curadora do evento Boca do Céu – II Encontro Internacional de Contadores de Histórias: Narrativas e Narradores, realizado em maio de 2006 pelo Sesc de São Paulo. Regina lembra que o fim do hábito de contar histórias na sociedade moderna foi previsto pelo teórico Walter Benjamin, da chamada Escola de Frankfurt. Ela resume as ideias desse pensador sobre o tema: o contador de histórias pertence à sociedade tradicional, que acabou com o advento da modernidade, na qual, portanto, não existe lugar para ele. "Parece um raciocínio óbvio, só que se trata de uma hipótese sociológica. Basta olhar em volta, no entanto, para ver um monte de contadores de histórias e de gente querendo ouvir, porque o ser humano não mudou, continua sendo o mesmo."
Um bom exemplo da nova fornada de narradores é o Tapetes Contadores de Histórias, formado em 1998 por alunos da escola de teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Warley Goulart, um dos coordenadores do grupo, que participou do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias, realizado pelo Sesc do Rio de Janeiro em julho deste ano, revela que a primeira inspiração veio do artesão francês Tarak Hammam, que há mais de 20 anos utiliza tapetes como cenários de suas narrativas – característica adotada por Warley e seus colegas nas apresentações em escolas, centros culturais e outras instituições. Ele diz que no início seus temas eram relacionados a tapetes, mas que viagens pelo Brasil e pela América Latina e o estudo de narrativas tradicionais e da literatura infanto-juvenil permitiram que o grupo ampliasse seu repertório. Apesar da importância dos recursos cênicos usados no trabalho que desenvolve, Warley lembra que a história continua sendo o foco principal: "Nosso eixo é a palavra, a narrativa propriamente dita. É ela que nos guia, e o emprego de qualquer tipo de recurso é consequência de nossa relação com a história".
Giba Pedroza, um pioneiro da nova geração de contadores, entrou nesse caminho pela via da literatura. No final dos anos 1980, ele era estudante de letras na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e ministrava um curso de iniciação poética e noções de literatura para crianças de uma pré-escola. Giba afirma que sua estréia como contador desmente o mito de que histórias servem para fugir da realidade. Foi a necessidade de falar sobre a morte com as crianças que o obrigou a buscar em seu repertório de contos de fadas aqueles que tratassem desse tema: "Uma professora da escola morreu e disseram que ela tinha ido viajar. As crianças me cercaram e começaram a fazer perguntas. Eu me vi naquela situação e pensei que a única forma de dialogar com elas seria através das histórias".
A partir daquele momento, ele passou a desenvolver um projeto permanente como contador, e teve início uma carreira que já se estende por quase 20 anos. Como costuma trabalhar com treinamento em empresas, onde utiliza histórias para tratar de temas específicos, Giba diz que esse recurso às vezes é usado também nas escolas: "O professor quer falar de preconceito, solidão, medo, e acho muito saudável que ele faça isso por meio de histórias. A gente só não pode perder de vista que, para isso, o ingrediente mais importante é o encantamento, a vivência dos sentimentos presentes na narrativa".
Teatro ou narração?
Giba confirma que o surgimento de novos grupos de contadores no Brasil se intensificou nos últimos dez anos. Ele assiste ao fenômeno com otimismo, mas também com certa preocupação. "Tenho medo da espetacularização que percebo em alguns grupos. Hoje em dia, há um termo novo – teatro de narrativa –, que considero adequado, pois acho que existe um limite, um fio muito tênue, a partir do qual deixa de ser narração." Segundo ele, muitos grupos que vieram do teatro trouxeram consigo certos excessos que o ato de contar histórias não comporta: "Penso que a função primordial do contador é fazer com que essa arte volte a ser uma prática cotidiana, um ritual afetivo. Os holofotes acabam afastando o pai, o tio, desse hábito".
Estudiosa dos instrumentos que podem ser utilizados na arte de narrar, Regina Machado dirige o grupo de contadores Pé de Palavra, cujas apresentações ela chama de espetáculo: "Não é teatro, é narração com dança, com canto, com música. O nome ‘espetáculo’ é meio pomposo, mas serve apenas para caracterizar que não se trata somente de uma pessoa que senta e conta histórias". Ela diz que um dos principais motivos da influência da linguagem teatral na arte de contar decorre do fato de muitos atores terem descoberto nessa atividade uma forma de ganhar dinheiro: "Um ator pena para conseguir fazer uma peça. Já o contador vai a qualquer festa infantil e consegue um dinheirinho. Se trabalhar cinco dias por semana, tem um ganho razoável". Regina adverte, no entanto, que o aprimoramento da arte de narrar histórias tem a ver com o tempo, com a experiência: "Tenho muitos alunos que fazem um curso de fim de semana e se dizem contadores. Não acredito, porque para isso é necessário estudo, pesquisa, paciência e extrema humildade".
"Vejo com bons olhos os novos contadores, porque sou uma mistura deles com os tradicionais, de raiz", diz Antonio Almir Mota, do projeto Casa do Conto, que reúne um grupo de narradores que atende escolas públicas e particulares em Fortaleza, no Ceará. Almir, que em agosto de 2006 coordenou um encontro internacional de contadores em seu estado, tem no repertório narrativas próprias, de outros autores e também histórias populares da região. Ele já escreveu textos para teatro infantil, livros para crianças e utiliza em seu trabalho muita coisa que ouviu na infância, embora conte também histórias literárias. "Acho que o ressurgimento dos contadores é importante como instrumento de promoção da leitura e da própria memória do nosso povo. A presença desses narradores é boa para o mundo atual, da era da informação digital. A gente precisa desse contato entre as pessoas, de estarem em roda conversando."
"Ouço histórias desde criança, faz parte da minha tradição, que é a dos povos indígenas. Através delas a gente vai aprendendo coisas significativas da nossa vida, para entender o mundo, o sentido, enfim, da nossa própria existência", diz Daniel Munduruku. Contador e escritor, com vários livros publicados, ele deixou há muitos anos a aldeia mundurucu no Pará e veio para São Paulo estudar filosofia na USP. Daniel leva para crianças e jovens da cidade um pouco do modo de vida de seu povo. "A necessidade de contar histórias aflorou em determinado momento de minha vida, como uma forma de voltar para minha cultura. Passei a narrar para crianças em escolas públicas e privadas histórias que aprendi com meu pai, meus avós. Com isso resgatei uma tradição que morava em mim e me tornei um contador." Sem se considerar um profissional dessa arte, ele aprova o aparecimento de novos grupos de narradores e vê no fenômeno a retomada de um costume popular muito antigo: "Essa prática faz com que as pessoas tenham um pé na tradição, na ancestralidade – que tem a ver com o nosso povo, com a cultura africana, indígena e européia".
Contadores na TV
Se a família e a escola são quase sempre apontadas como ambientes propícios para a preservação da arte de contar histórias, a televisão, muitas vezes vista como inimiga, também pode ser utilizada para esse fim. Um contador que tem espaço nesse veículo é o cantor e compositor Rolando Boldrin. Ele conta regularmente "causos" de personagens da tradição caipira em seu programa "Sr. Brasil", na TV Cultura de São Paulo, e no espetáculo de 90 minutos que leva a diferentes regiões do país. Nascido no interior paulista, próximo a Ribeirão Preto, Boldrin diz que desde garoto gostava de observar as reações dos tipos humanos e que, com isso, passou a desenvolver histórias curtas, os "causos", seguindo o exemplo do grande artista e contador Cornélio Pires, estudioso das características dos caipiras de São Paulo. Embora acredite que existam muitos narradores espalhados pelo Brasil, Boldrin observa que na televisão eles ainda têm pouco espaço e lamenta não ver em evidência, além de si próprio, artistas com essa preocupação.
Um caso de sucesso da arte de contar histórias na telinha teve início no começo da década de 1980, quando um grupo de atores negros se reuniu em São Paulo para fazer uma peça de teatro sob a direção de Antônio Abujamra. Como não dispunham de um texto pronto, começaram a fazer depoimentos sobre suas vidas. Entre esses atores estava João Acaiabe, que atualmente interpreta o Tio Barnabé, no programa infantil "Sítio do Pica-Pau-Amarelo", da TV Globo. Ele lembra que fez um emocionado depoimento sobre um episódio de racismo de que foi vítima em um clube no interior de São Paulo e que ao final ouviu, meio surpreso, o diretor dizer que ele contava bem histórias. Mas João ainda não fazia idéia do presente que estava recebendo. Abujamra na época começava a dirigir o depois premiado programa "Bambalalão" da TV Cultura de São Paulo e resolveu montar um quadro fixo com um contador de histórias para o qual convidou João, que realizou esse trabalho durante sete anos, de 1983 a 1990. "Naquela época ninguém contava histórias assim. A gente começou com duas arquibancadas, mas enquanto eu me dirigia a uma, a outra se distraía. Também tentamos com uma platéia de teatro e ainda diretamente para a câmara, mas não deu certo. Até que descobrimos a fórmula, que era uma fogueirinha no centro, em torno da qual sentavam o elenco e algumas crianças da platéia. Era aquela imagem que ia para a casa dos telespectadores. Aí deu certo."
O trabalho na TV deixa pouco tempo para o contador, mas ainda assim João Acaiabe tem se apresentado em algumas escolas e participado de eventos, além de utilizar sua experiência de ex-professor para realizar oficinas de capacitação para docentes. Ele diz que sua formação de teatro lhe permite narrar interpretando, mas sem elementos externos, utilizando no máximo o apoio de um percussionista ou de uma acordeonista.
Permanência da tradição
No Brasil, como em qualquer país que tenha uma cultura rural, existem ainda ativos contadores de histórias tradicionais. A antropóloga, escritora e pesquisadora de literatura Heloisa Pires Lima lembra que na África, ainda que abalada pelo colonialismo, também permanece viva e atuante a tradição da narrativa. Ao pesquisar a literatura oral como forma de enriquecer a escrita, ela descobriu naquele continente contadores tradicionais em países como Mali, Costa do Marfim, Senegal e Cabo Verde, entre outros. "No sudoeste da África há festivais dedicados à arte de contar histórias. É uma prática muito forte daquela região, mas que não se restringe a ela. Também existem tradições importantes em países como Sudão ou Moçambique", diz Heloisa.
A permanência do contador tradicional no Brasil pode ser comprovada, por exemplo, no trabalho de Doralice Fernandes Xavier Alcoforado, professora doutora de literatura brasileira da Universidade Federal da Bahia. Há 21 anos ela trabalha em um projeto que tem como objetivo coletar, divulgar e estudar a literatura popular de tradição oral. A pesquisa, realizada na área metropolitana de Salvador e em mais de 70 municípios do estado, já reuniu mais de 7 mil textos, que variam de contos populares dos mais variados tipos a cantigas de roda, rezas, adivinhas, piadas, folguedos e brincadeiras infantis. Segundo Doralice, são justamente esses narradores os seus principais informantes. "Os contadores tradicionais permanecem muito vivos porque a arte de narrar não morre. Além disso, eles trazem histórias cuja origem se desconhece, pois vêm de milênios até." Ela reconhece que nas áreas urbanas o advento da televisão e de outras modalidades de lazer retirou das histórias a função que tinham antes e que continuam tendo no interior. "Antigamente as pessoas se reuniam para contar histórias e hoje, para ver novelas. De certo modo, isso é prejudicial. Aonde chega a televisão, percebe-se um arrefecimento dessa prática, mas temos ainda bastantes contadores."
Um contador de raiz é alguém que não precisa de artifícios externos para narrar uma história. Quem explica isso é Gislayne Avelar Matos, contadora, pedagoga e mestre em educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Ela afirma ainda existirem desses narradores no interior de Minas Gerais, no nordeste, em São Paulo e em muitas outras regiões. Gislayne conheceu o despojamento dos contadores tradicionais com seu avô, no interior mineiro: "Ele tinha todos os recursos em si mesmo, como o cenário, a luz, o som. Fazia sonoplastia, sombras na parede. Tudo ele podia fazer com o próprio corpo para que a história fosse contada".
Um exemplo vivo e atuante de contador de raiz pode ser encontrado na cidade paulista de São Luís do Paraitinga, no vale do Paraíba. É seu Geraldo Tartaruga, um artesão que também retrata no interior de cabaças episódios de lendas e contos tradicionais brasileiros. Com acentuado sotaque caipira, ele diz que se tornou narrador porque aprendeu ouvindo seu pai, que contava muitas histórias. Em seu repertório, seu Geraldo tem, por exemplo, histórias de assombração, de cemitério, de João e Maria, de Pedro Malasartes, além de episódios que ele jura serem reais: "Saci não é história. Lá em São Luís existiam mesmo esses moleques. Já as histórias vêm de muito longe, dos antigos: meu pai aprendeu com o pai dele, que aprendeu com o pai dele".
Gislayne diferencia esses contadores tradicionais da nova geração, formada por pessoas que tiveram mais contato com a cultura escrita. Nas oficinas que realiza, ela pôde constatar algumas mudanças. "Há jovens alunos meus que dizem: ‘Minha mãe nunca me contou histórias, pois sempre trabalhou fora, e meu pai também. Eles me davam muitos livros, que eu lia, mas sozinho’." Gislayne lembra que a recente retomada da arte de contar teve início na Europa e em alguns outros lugares no fim dos anos 1960 e que começou a ganhar força no Brasil duas décadas depois, mas o grande impulso ocorreu mesmo nos anos 1990. Regina Machado começou a estudar o tema no final da década de 1970 e estreou como contadora na escola dos filhos. Nessa época, segundo ela, havia bibliotecárias e professoras que contavam histórias, mas não existiam ainda os novos contadores: "Eu me lembro de uma única pessoa que fazia esse trabalho e se dizia um contador: o Giba Pedroza, que conheci em 1987".
Gilka Girardello, contadora e professora e coordenadora da Oficina Permanente de Narração de Histórias da Universidade Federal de Santa Catarina, também observa que nas escolas sempre se contaram histórias e lembra que, na década de 1950, Malba Tahan publicou o livro A Arte de Ler e Contar Histórias, baseado no trabalho das professoras. "Essa arte tinha desaparecido no âmbito mais público, mas na ‘obscuridade’ da sala de aula ela nunca se perdeu. E não só ali como também na sala de visitas, nas mesas das famílias." Para Gilka, que entre 1978 e 1979 apresentou o programa "Contando Histórias" na TV Educativa de Porto Alegre, o que existe é um ajuste das formas culturais, que vão se acomodando à medida que surgem novidades: "Com certeza, a chegada da televisão deslocou essa narrativa mais familiar para outros lugares".
Gilka afirma que os contadores têm um papel político de resistência à massificação. Ela destaca o fato de se tratar de uma reação cultural não conservadora, sem o sentido de volta ao passado que costuma caracterizar esse tipo de movimento. "A narração de histórias é polifônica, heterogênea, múltipla, tem muitas raízes, por isso não existe essa coisa fundamentalista de volta às fogueiras, às tribos. Essa prática passa hoje pela tecnologia, se apropria da literatura e tem um caráter de quem viveu a arte pós-moderna, com uma produção que se vale do referencial da tradição, mas que cria, que reinventa a partir daí."
Performance e repertório
Gislayne Avelar, que também é autora de A Palavra do Contador de Histórias, traça nesse livro o perfil do que seria um narrador de histórias a partir do repertório e da performance, que é a capacidade de assimilar o conto e de comunicá-lo pelos gestos, expressões faciais e corporais, entonação de voz, ritmo, etc. Segundo ela, ainda que o contador faça incursões por outros gêneros, importa que tenha como eixo principal, em sua prática, a narrativa de tradição oral, que inclui contos de fadas, lendas, fábulas e mitos, que se caracterizam por autoria anônima, pela antiguidade, por ter na palavra falada seu veículo de divulgação e por não conhecer fronteiras geográficas, culturais ou linguísticas.
Regina Machado diz que a tradição oral tem duas características fundamentais: é extremamente particular e universal. "É curiosíssimo encontrar uma história iraniana no Cariri. Há vários casos em que muda o personagem, o local, a geografia, mas a trama é a mesma." Vale lembrar Luís da Câmara Cascudo, que aponta elementos do conto "Dois Irmãos", escrito no Egito dos faraós há mais de 3 mil anos, presentes em histórias tradicionais brasileiras. Regina afirma que, apesar das pesquisas, ninguém sabe ao certo de onde vem esse costume. "A única certeza é que essa arte existe em todas as culturas tradicionais do mundo."

Susto em Fortaleza

Toda sexta-feira, Antonio Almir Mota está no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza, onde conta histórias e causos de assombração. São oito contos pequenos, cada um com duração de quatro a seis minutos, que ele recolheu em cursos, visitas ao interior do estado, em conversas com pessoas idosas. Uma dessas histórias é a da Mulher-Porca:

"Certo dia me disseram que havia uma mulher que se transformava em porca. E essa mulher era tão amaldiçoada, tão amaldiçoada, que saía gritando pela rua em que morava. Um rapaz muito corajoso foi atrás dela e, de repente, um homem que estava na praça chegou para ele e disse: ‘Olha, o senhor é muito corajoso, uma hora dessas da madrugada e está aqui. Não tem medo da Mulher-Porca?’ O rapaz olhou bem calmamente para ele e respondeu: ‘Ah, da Mulher-Porca, não tenho medo, não. Mas, meu filho, quando eu era vivo, eu me pelava de medo!’ "
***

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Matéria: "Conte uma história e reviva a magia dos contos" - Revista Espaço Aberto

Achei essa matéria pesquisando livros da Regina Machado, grande escritora e estudiosa da arte de contar estórias. É da Revista Espaço Aberto, da USP, edição de dezembro de 2004.

Era uma vez um casal muito feliz que tinha três lindas filhas. À noite, a mamãe não estava por perto para dar boa-noite nem para contar histórias porque trabalhava até tarde. Quem ficava em casa era o pai, mas ele pensava que contar história era algo que só acontecia nos filmes.

Até que um belo dia a mãe trouxe para casa uma coleção de livrinhos com contos de fadas infantis. A filha mais nova, de três anos, logo se apaixonou pelas histórias e exigiu que o pai lhe contasse uma delas todas as noites. Seu grande entusiasmo logo contagiou a família inteira. E o pai virou um grande contador de histórias.

Essa família existe, e a história também é real: o pai da esperta garota de três anos é Wanderley dos Santos, vigia do Museu de Zoologia da USP.
"De seis meses para cá, conto histórias quase todo dia. É um desafio, porque nunca foi um hábito. Mas vou contando, entrando na história e, querendo ou não, acabo interpretando o personagem", diz ele, que já quase decorou aventuras como as de Alladin e a Lâmpada Maravilhosa, Ali Babá, Cinderela, Branca de Neve e os Sete Anões.

Para Regina Machado, professora da ECA e estudiosa das histórias de tradição oral, contar histórias é, acima de tudo, um ato amoroso e uma nova forma de brincar e propiciar o encontro entre pais e filhos. "Qualquer história contada de um certo lugar, que eu chamo de lugar do coração, tem um efeito bom. O que as crianças mais querem ouvir é a voz do pai e da mãe de um jeito diferente do que estão acostumadas a ouvir todo dia. Saem ganhando pai e filho", destaca Regina, também autora de cinco livros na área.

Quem soube bem desfrutar dos benefícios desse encontro especial é Heloíde Araújo Carneiro, chefe da sessão de alunos da Faculdade de Direito. Ela conta histórias para o filho mais velho desde que nasceu. "Eu cantava e inventava músicas, misturava contos de fadas diferentes e até criei um príncipe das Abóboras, que era sempre o Tiago. Até os três anos ele se achava mesmo o príncipe das Abóboras!", recorda a mãe coruja, que deve a boa relação que tem com o filho, já com 15 anos, a esse tipo de contato. "Hoje somos muito unidos e ele é um adolescente tranqüilo", comemora.

A simbologia dos contos

Por muitos anos relacionado à vida no interior, o hábito de contar histórias parecia ter desaparecido na sociedade moderna. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, a chegada da televisão nos lares brasileiros, principalmente a partir da década de 60, não foi o único motivo para o esvaziamento desse costume milenar. "A TV é apenas um dos fatores. Existe uma desagregação muito profunda dos valores humanos, dos costumes, e, principalmente, da idéia do que representa a família, que é de reunião", diz Regina. Para a professora,"os valores reais e encontros verdadeiros foram substituídos por coisas compradas e visões totalmente estereotipadas do que é isso. Por essa razão a história é tão importante: ela traz de volta a união entre as pessoas".

Ao contrário de Regina, que participa de um grupo de contadores de histórias há quatro anos, Tânia Machado, psicóloga do Laboratório de Estudos da Personalidade do Instituto de Psicologia, prefere ouvir. Na infância, as histórias contadas pela mãe eram tão marcantes que criou uma fada só para ela e, anos depois, decidiu fazer o mestrado sobre o impacto dos contos de fadas na educação das crianças. "Os contos trazem um modelo completo e uma proposta de desenvolvimento humano", descobriu.

Tânia, que estudou os símbolos presentes nos contos, garante que eles carregam uma sabedoria ancestral e arrisca dizer que crianças que têm contato com eles desenvolvem mais a imaginação, a criatividade e a capacidade de discernimento e crítica.

"O herói passa por várias coisas até que ele se torna rei, por exemplo. Há um percurso, um caminho, ele precisa aprender uma porção de coisas para se tornar rei. São metáforas, por meio das quais se aprende alguma coisa sobre si mesmo"

Regina lembra que uma das simbologias mais fortes é a "trajetória do herói", ou "trajetória de desenvolvimento humano". "O herói passa por várias coisas até que ele se torna rei, por exemplo. Há um percurso, um caminho, ele precisa aprender uma porção de coisas para se tornar rei. São metáforas, por meio das quais se aprende alguma coisa sobre si mesmo", ressalta a professora, lembrando que uma dessas metáforas está no próprio nome "realizar", que remete à clássica estrutura do príncipe que vira rei e, por isso, se "realiza": alcança sua transformação e fica no centro da própria vida.

Afinal, existe receita para contar uma boa história? Elas devem ser interpretadas, lidas ou inventadas? Devem ser histórias reais? Para Regina, é melhor esquecer essas preocupações. "Ler ou contar, tanto faz, desde que seja de uma forma viva. É preciso perder o medo: todo mundo pode contar uma história", garante, lembrando que somente experimentando e se entregando que pais e filhos podem se encontrar no mundo rico e mágico da imaginação.

DICAS DE REGINA MACHADO PARA ENCANTAR OS PEQUENOS COM A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

- Leia e conheça a história que você vai contar. Ter curiosidade é essencial;

- Enquanto conta, procure ir vivendo a história, deixe-se guiar por ela;

- Conte para si mesmo. Não o faça por obrigação, esqueça a culpa;

- Observe a reação da plateia;

- Aproveite objetos inusitados e divertidos da casa, como panos e lenços, para dar mais possibilidades à história.

***

Fonte: http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2004/espaco50dez/0capa.htm

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Artigo: "Contar histórias aproxima as pessoas" - Juliana Lopes

Contar histórias aproxima pais e filhos, professores e alunos. Desperta o lado lúdico dos ouvintes e transforma os contadores em atores.

Essa arte usada desde muito tempo por meio de lendas ou contos parece estar ainda mais presente nas escolas. Prova disso é a criação de cursos especializados para professores, como ‘O professor que conta história’, do Senac. “Ele estará disponível a partir do segundo semestre”, revela Robson Rocha, coordenador de desenvolvimento e lazer da organização.

De acordo com Elaine Gomes, docente em Contação de Histórias no Senac, curso básico inaugurado em 2003, os educadores podem adaptar contos em várias disciplinas. “Em aulas de matemática, por exemplo, os professores usam o livro ‘O homem que calculava’ (Malba Tahan) e a partir dele mostram um tabuleiro de xadrez. As peças são pedrinhas que ajudam a explicar simples operações e outros fundamentos”, explica.

Já para aulas de Geografia, a professora indica usar um globo e ir pintando as regiões conforme a explicação. Simples elementos como tecidos no chão ou detalhes na roupa mudam a rotina das aulas. Elaine cita o exemplo de uma voluntária de ONGs. Depois de criar uma saia cheia de retalhos e um ambiente simples, conseguiu pela primeira vez prender a atenção dos alunos durante toda tarefa.

Além de incentivar à leitura, quem sabe contar uma boa história também consegue despertar a imaginação, por isso tudo não deve ser apresentado ao pé da letra. Com pequenos gestos e materiais, a própria criança imagina o fato conforme a sua bagagem cultural. Suspenses, humor ou encantamento podem intrigar ou mesmo trazer à tona novas descobertas e a reflexão.

Sempre seguindo este princípio, Elaine elaborou o material do curso a partir da sua experiência em artes visuais, de fatos vivenciados quando criança - pois era uma tradição da família contar histórias ao redor do fogão à lenha - e ainda a partir do trabalho da professora Regina Machado, da Universidade de São Paulo.

Especialista em tradição oral e contadora de histórias desde 1980, a professora costuma afirmar em suas palestras que contar histórias é um ato de amor entre pais e filhos, uma forma diferente das crianças ouvirem a voz deles.

Teatro - Os contadores de histórias não atuam apenas em escolas, centros de recreação ou ONGs. Religiosos, como espíritas ou judeus, usam a criatividade para relatar os preceitos de forma mais lúdica às crianças.

Por trabalhar técnicas de dramatização, representação e voz, muitos atores usam o recurso de narrar lendas ou fábulas em vários espetáculos. Alexandre Camilo (foto) é um deles. Contos como “O Gigante Egoísta”, “O Rouxinol e a Rosa”, e “O aniversário da Infanta”, todos do escritor Oscar Wilde, servem de inspiração para espetáculos em vários projetos. Já a mitologia grega é aproveitada para ensinar e entreter crianças ou aquelas que habitam dentro da gente.

***

Fonte: http://vilamulher.terra.com.br/contadores-de-historias-8-1-55-68.html

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Texto: "Contadores de histórias - Guardiões das culturas populares" - Benita Prieto

Tem um site muito bacana que recomendo como fonte de leitura para os contadores de estórias: o Roda de Histórias. Foi lá que achei esse texto:

Contadores de histórias - Guardiões das culturas populares
Benita Prieto

Falar em literatura oral no Brasil é falar de um país que muitas pessoas supõem que não mais existe. O processo de desenvolvimento fez com que várias manifestações culturais deixassem de ser entendidas como próprias do povo. Vejamos o caso do Carnaval, possivelmente a maior festa popular do mundo. Nela os foliões entregam-se aos seus desejos genuínos e primitivos sem saber que refazem, talvez atavicamente, o mesmo que fizeram todas as gerações passadas.
Especificamente com relação à literatura oral, andamos nos afastando desse rico acervo por acreditar que tudo são “causos”, lendas, superstições. Mas se temos a oportunidade de sentar ao redor de uma fogueira, toda essa ancestralidade nos penetra e logo podemos ter vontade de contar as histórias ouvidas dos nossos avós. Para completar, o quadro atual de todas as mídias no Brasil é confuso no que diz respeito a esse assunto. Muitas vezes a literatura oral é usada e não é referenciada como fonte. Claro que existe a dinâmica do folclore, mas como patrimônio que é da humanidade não pode ser aprisionado e usado em favor próprio.
Um exemplo são os programas infantis, que têm utilizado os contos populares e muitas vezes também os autorais, sem dizer de onde foram retirados ou por quem eram contados. Ainda há interferências com questionáveis conselhos em outros aspectos das culturas populares. Essa é uma maneira bastante leviana de tratar-se algo que não nos pertence individualmente.
Já tivemos bons exemplos de circulação da literatura oral como mostrava o programa Som Brasil de Rolando Boldrim, nas décadas 70 e 80, na TV Globo e o Canta Conto, de Bia Bedran, na TV Educativa do Rio de Janeiro. Também existiram ótimos programas de rádio que faziam muito sucesso entre as crianças como o Ta na hora de dormir, de Márcio Trigo, recheado de histórias de Andersen, dos Irmãos Grimm, contos populares, lendas indígenas.
Nesse momento, há uma lacuna na programação cultural das mídias a ser preenchida. E que quando bem executada dá belos frutos. É só lembrar, por exemplo, de algumas matérias feitas para o Fantástico, da TV Globo, onde já vimos muitas dessas manifestações sendo exibidas, como a cidade dos Lobisomens, a Associação de Criadores de Sacis, os pescadores que acreditam terem estado com entidades do mar. Quando essas matérias acontecem podem promover boas conversas nas indústrias, nos bancos, nas escolas, nas casas, nos bares.
A literatura oral está conectada com o passado de gerações e famílias. Nosso país tem uma miscigenação enorme e que varia de acordo com a região brasileira, pois somos a mistura de povos europeus, africanos, indígenas e asiáticos. Esse caldeirão de culturas possibilita a existência de muitas comunidades narrativas. Se tomarmos como exemplo uma favela do Rio de Janeiro sabemos que ali podemos ter histórias de várias partes do Brasil, devido à migração interna na busca de melhores condições de vida. Por isso, é fundamental fomentar nos jovens o desejo de preservar as histórias “particulares” da comunidade narrativa a que pertencem. Eles devem ser estimulados para que tragam as histórias que conhecem, para que tenham orgulho delas e passem a contá-las em todos os espaços possíveis. E aí podemos incluir a tv, o rádio, a internet, o cinema. Os jovens são sem dúvida o nosso maior investimento para a continuidade desse elo, neles devemos apostar.
Mas é preciso uma certa técnica para fazer a recolha dos contos. É importante não interferir na hora da narração, coletar o conto no local onde normalmente é contado e não acreditar na memória ou na própria escrita, gravando tudo para a futura transcrição. Existem muitos livros que mostram textos recolhidos onde em primeiro lugar está o texto tal qual foi dito pelo contador, e a seguir vem uma tradução ou versão feita pelo pesquisador. Essa é uma boa maneira de registro. Claro que o contador popular pode sofrer interferência da platéia, seguindo outros rumos na hora da narração, mas sempre haverá uma estrutura mínima respeitada por ele. Essa estrutura, juntamente com a dicção que foi preservada, será a nossa fonte de estudo e a nossa matriz.
Pena que a escola normalmente é muito preconceituosa com as manifestações populares, esquecendo a multiplicidade regional, os saberes do povo, o conhecimento tácito. Podemos incluir nesse pensamento desde a escola elementar até a universidade. A literatura oral não é valorizada ou então é reduzida ao mais simples registro possível. Imaginem se podemos dizer que o lobisomem possa representar, num país continental como o Brasil, todos os personagens do folclore que são peludos e "comem gente". É uma redução apenas para dizer que o folclore está sendo ensinado na escola e ainda num determinado mês do ano, o de agosto. Como se nos outros dias não pudéssemos usar os ensinamentos recebidos das gerações que nos precederam. O problema é um total desconhecimento da importância do tema.
É bom lembrar que existe hoje um diálogo e um trânsito permanente entre a literatura oral e a literatura escrita. Os grandes escritores do mundo bebem de suas fontes culturais e históricas, constroem releituras, alargam visões. E no Brasil tivemos alguns autores/pesquisadores que contribuíram de forma decisiva para esse diálogo. Temos várias gerações criadas com a literatura mágica e essencialmente brasileira de Monteiro Lobato, o inventor do Sítio do Picapau Amarelo. Temos também Mário de Andrade e Luís da Câmara Cascudo, cada qual a seu jeito, valorizando os saberes do povo para construir no nosso imaginário a força da narrativa. O ideal é nunca fechar as portas do coração, nunca esquecer a “aldeia” de onde viemos.
Já que não dá para fazer uma divisão entre literatura oral e literatura escrita, os contadores de histórias urbanos podem aproximar esses dois mundos, colocando a literatura escrita ao redor de uma fogueira mítica e valorizando a literatura oral dando-lhe status de saber.
Tudo o que foi descrito anteriormente só vem reforçar a importância do trabalho dos contadores de histórias para a preservação das culturas populares.
Mas, como não há no Brasil uma formação específica na arte de contar histórias, o interessado tem que ser autodidata. Precisa ler muito, fazer muitas oficinas, ver muitos contadores, descobrir o seu estilo de contar, o gênero de história que lhe dá prazer. Evitar copiar o repertório que vê, buscar novas fontes, trazer outros olhares. E principalmente usar os seus próprios recursos. Cada contador tem suas sutilezas na hora de narrar. Por isso, a mesma história pode ser contada de várias maneiras e todas serão belas desde que haja a verdade de quem conta.
Somos contadores na essência, estamos durante toda a vida construindo histórias. A narrativa faz parte do dia a dia. Um olhar para dentro pode ser o estopim dessa arte em cada um de nós.
O mais importante é entender que a literatura, seja oral ou escrita, é para ser brincada, dividida, compartilhada. Sejamos, portanto, solidários na vida e nos contos. De mãos dadas, vamos atravessar o caminho onde nossas histórias se cruzam, se completam, se constroem.

*Idealizadora e produtora do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias.

Conto: "O semeador de tâmaras"

Esta versão vem do livro El saber es más que la riqueza, de  Silvia Dubovoy O semeador de tâmaras Em um oásis perdido no deserto, o velho El...