sábado, 22 de agosto de 2009

Contação de estórias na Feira de Livros

A Cigana Contadora de Estórias - foto: Layanna Florêncio

Ontem fui contar estórias na Feira de Livros da Livraria Estudantil aqui em Caruaru. Foi uma aventura... hehehe... Eu tinha me preparado para me apresentar para crianças de 9 e 10 anos. Passei as últimas duas semanas selecionando o repertório e acabei me decidindo por um programa de quatro contos: "O Macaco e a Banana", de Câmara Cascudo; "Pedro Malasartes e a Sopa de Pedra", de Ana Maria Machado; "Quem tudo quer, tudo perde", de Câmara Cascudo; e "O Problema dos 35 Camelos", de Malba Tahan. Ensaiei o repertório, estava tudo nos trinques, certa de que ia ser muito legal, as crianças iriam se divertir muito. Qual não foi a minha surpresa ao entrar na livraria e ver um grupo de crianças de 3 a 5 anos? Ih... caraca... pensei. Teria que fazer uma mudança no programa. Ainda bem que, antes da minha apresentação, haveria um grupo de danças. Deu tempo para eu passar os olhos pelos livros e rapidamente refazer a minha programação.

Crianças nessa faixa etária gostam muito de estórias com bichos, estorinhas simples, de magia, estórias engraçadas, com bichos trapalhões.

Comecei então com uma versão mais simples de "O Macaco e a Banana", um conto do tipo acumulativo, que vou depois publicar aqui. Eles se divertiram a valer, principalmente quando o macado ia pedir ajuda e a resposta era sempre um "Não!". No final, quando a Morte foi atrás do caçador, que foi atrás da onça, que foi atrás do cachorro e por aí em diante, eles riram muito.
Crianças do Colégio Contato ouvindo as estórias da cigana Kopinits - foto: Layanna Florêncio

Passei para "O Nariz do Elefantinho". Não sei quem é o autor, ouvi essa estória (postada aqui) da Ilana Kaplan, num dvd que comprei para a minha filha. Eles também gostaram muito!

A terceira foi uma estorinha que sempre faz muito sucesso com a criançada, que é "A Festa no Céu", da tradição popular. Depois, perguntei que estória eles gostariam de ouvir - estratégia que pode ser desastrosa se o contador não for habilidoso, pois as crianças podem pedir estórias que ele não conhece e aí?. As respostas me surpreenderam:

- Nemo! - gritou um pequeno.

- Ben 10! - disse um outro.

- Backyardigans!, pediu uma menininha.

Nemo? Ben 10? Backyardigans? Felizmente, tenho alma infantil o suficiente para saber do que eles estavam falando, mas fiquei surpreendida ao perceber que eram personagens de filmes ou de programas de tv. Traduzindo, aquelas crianças estavam mais antenadas com a tv do que familiarizadas com livros. Tudo bem que crianças de 3 a 5 anos ainda não leem, mas imagino que os pais ou professores na escolinha certamente as colocariam em contato com o mundo da leitura. Mas parece que não é bem assim. Foi uma constatação que me deixou um pouco triste.

Respondi que aquelas estórias eles já conheciam e viam sempre na televisão e, portanto, iria contar uma nova, sobre duas borboletas chamadas Romeu e Julieta, uma estória de Ruth Rocha.

A estorinha fala da bobagem que é fazer distinção de cor, de diferenças, e o melhor é sermos todos amigos, sem preconceitos. Todos gostaram muito, principalmente os professores.

Encerrei a apresentação dizendo a elas que aquelas e muitas outras estórias poderiam ser encontradas nos livros, em livrarias como aquela onde estávamos, e em bibliotecas, como a da escola onde elas estudam. Isso despertou a curiosidade da criançada, que logo foi atrás de ver os livros e descobrir onde estavam as estórias que contei para elas. Uma das mais procuradas foi a da "Festa no Céu".

Dever cumprido, com a certeza de que deixei alguma coisa boa com aquele pessoal. Mas gostaria muito que os pais pudessem empregar um pouquinho mais do seu tempo para apresentar os livros para seus filhos...

De qualquer forma, uma sementinha foi plantada.

Tive outras duas recompensas: um convite para dar um curso de contação de estórias para professores e bibliotecários de um colégio particular da cidade e outro para participar do primeiro FLIC - Festival de Literatura de Caruaru, em outubro, quando espero poder lançar meu primeiro livro destinado ao público infantil: "Galo rouco, tem rato no sino!"

É, esse foi mesmo um dia feliz...

Um comentário:

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