segunda-feira, 1 de julho de 2019

Conto: "O camponês que vendia pensamentos"

Este conto, traduzido do espanhol por mim, foi escrito por Reine Cioulachtjian e faz parte do livro "Cuentos y leyendas de los armenios". A ilustração é de Catharine Chardonnay.

"Era uma vez um camponês cujo único bem era uma vaca, mas ela não lhe dava mais leite. Ele decidiu, então, vendê-la no mercado da cidade, onde recebeu cem rublos por ela.
Quando voltou para casa, encontrou um homem idoso que anunciava em voz alta:
- Vendo pensamentos! Pensamentos! Excelentes pensamentos!
- Que pensamentos são esses, irmão? perguntou o camponês, perplexo.
- Pensamentos de ouro, que ajudarão você a fazer o seu caminho nesta vida, que irão protegê-lo de infortúnios e até mesmo torná-lo rico. 
O camponês sempre estivera convencido de que um dia a sorte sorriria para ele e que, de repente, ficaria rico, como nas histórias. E ele pensou que o homem que vendia pensamentos era a oportunidade que ele não deveria deixar escapar.
-Quanto custa um desses pensamentos?
-Como vejo que você é pobre, eu vou lhe vender um bem barato: cem rublos.
-Muito bem. Aqui estão os cem rublos. Dê-me o pensamento.
E, sem hesitar por um momento, o camponês deu ao velho todo o dinheiro que recebera com a venda da vaca. O velho colocou o dinheiro no bolso e sussurrou ao seu ouvido: "Você colherá o que plantou. Esse é o pensamento ". E então desapareceu.
“O que será que ele quis dizer?”, o camponês se perguntou. "Eu conheço todos os provérbios, conselhos e ditos que existem, mas nunca me ocorreu que eu poderia ganhar dinheiro com qualquer um deles. Eu vou tentar vender para outra pessoa ". E começou a gritar:
- Vendo pensamentos, pensamentos valiosos! Pensamentos de ouro!
Mas ninguém prestou atenção nele. Alguns até o tomaram como um louco e riram dele sem nenhum pudor:
- Você viu? Como ele acha que tem muitos pensamentos, ele quer nos vender um pouco.
- Ei, você, saco de maldades! Se tem tantos pensamentos valiosos, por que é pobre?
Mas o camponês não perdeu a esperança e continuou gritando pelas ruas:
- Vendo pensamentos! Pensamentos valiosos! Pensamentos de ouro!
Então ele acabou chegando aos portões do palácio real. O rei, divertido, viu de sua sacada como aquele camponês ingênuo tentava em vão vender pensamentos aos cidadãos sabidos. Ele sentiu pena dele e o chamou.
- Diga-me, amigo, como é esse pensamento que você vende?
-É um pensamento muito útil, majestade.
-E quanto custa?
- Cem rublos.
- Tome cem rublos e me dê esse pensamento aqui, disse o rei.
O camponês guardou o dinheiro e disse ao rei cheio de mistério:
- Você colherá o que plantou. Esse é o pensamento. E viva o rei!
- Como? exclamou este. Você vai ganhar cem rublos por cinco míseras palavras?
- Que viva o rei! Eu, que sou muito pobre, paguei por esta simples frase cem rublos. Vossa Majestade teria que pagar mil.
-Diga-me, e por quê?
- Dirijo a vida de uma única família, majestade, enquanto Vossa Alteza dirige a vida de um país inteiro. É por isso que precisa de um pensamento tão vasto quanto o mar.
- Parece justo para mim", disse o rei. - Governar requer muito pensamento e muita sabedoria. Mas o que você me vendeu representa apenas uma pequena gota de sabedoria ...
-Muito certo, meu rei. Mas o mar é feito de gotas. Um homem inteligente deve estar sempre aprendendo. Os mares terminam em algum lugar, eles têm um limite. A sabedoria é ilimitada.
- Que tenhas uma vida longa, camponês. Você diz coisas muito sábias. Agora volte para sua casa, mas venha me ver de vez em quando. Conversaremos e recompensarei seu sábios conselhos.
O rei apreciou muito as palavras do camponês e frequentemente as dizia aos seus cortesões e seus servos. Certa manhã, quando seu barbeiro ia aparar-lhe a barba, o rei disse num tom muito sério:
- Você colherá o que você plantou. Compreende bem o significado dessas palavras, barbeiro: "Você colherá o que plantou".
Com essas palavras, o barbeiro começou a tremer. Sua longa e afiada navalha caiu de suas mãos e ele caiu de joelhos diante do rei, implorando:
-Perdão, meu rei, perdoe o seu escravo. Sou inocente. Eles me forçaram ... Eu juro que não queria fazer isso ...
O rei ficou petrificado. Levantou-se e sacudiu o barbeiro.
-O que eles forçaram você a fazer? E quem? Fala!
-Eles queriam que eu cortasse sua garganta ... Mas eu não ia podia fazer isso.
Foi assim que o rei descobriu a conspiração que havia sido armada contra sua vida. Os traidores receberam a punição merecida. Quanto ao camponês que vendia pensamentos, toda vez que ele se apresentava no palácio, o rei o recebia gentilmente e sempre o recompensava.
- Você salvou minha vida, sábio camponês, disse ele.
A partir daquele dia, os provérbios populares foram considerados pérolas de sabedoria e desde então passam de boca em boca e de geração em geração para que cheguem intactos aos nossos filhos."

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