sábado, 22 de junho de 2019

Conto: "Semíramis e Ara, o Belo"

Este belo conto veio da obra "Cuentos y leyendas de los armenios", da franco-armênia Reine Cioulachtjian com ilustrações da francesa Catherine Chardonnay, cuja versão em espanhol que encontrei na Biblioteca Central de Cerdanyola del Vallès (Barcelona). Fala do amor da mítica rainha Semíramis, da Babilônia, pelo belo rei Ara, rei da Armênia. Vamos a ele, na versão de Reine e minha livre tradução:

"As hortas de Van eram as mais bonitas do mundo. Até o início do século XX produziu frutos de sabor delicado não encontrado em qualquer outro lugar: pêssegos macios como veludo, cerejas tenras da cor do rubi, uvas pretas com sumo de mel, damascos dourados e grandes como romãs, com aromas de rosa, sol e de almíscar...
Se os frutos de Van eram tão bonitos, foi graças ao cuidado constante que os armênios lhes dedicaram por milênios. Mas isso também era devido ao milagre do amor.

Na verdade, era uma vez uma rainha bela como uma lua de catorze dias: grandes olhos negros sob sobrancelhas arqueadas finamente desenhadas, lábios vermelhos, corpo de gazela... Chamava-se Semíramis e era rainha da Babilônia. Na Armênia governava o rei Ara, o Belo. Semíramis estava apaixonada por Ara, mas Ara era casado e rejeitava suas investidas. O amor da rainha por Ara era tão grande que, incapaz de resignar-se a sua indiferença, decidiu que faria o que fosse para conseguir por amor, mesmo contra a sua vontade. E ela conseguiu que, naquele jardim, todos falassem dela.

E em uma noite de lua cheia, Semíramis, vestida como uma deusa, tão bonita que, ao seu lado, o sol parecia escurecer, entrou nos jardins do rei e, sob a luz leitosa da estrela da noite, sorveu, uma a uma, as essências de todas as árvores, dando-lhes às cerejas o sabor dos seus lábios, ao pêssego o veludo de sua pele e o formato dos seus seios, às uvas pretas o fulgor dos seus olhos e às maçãs o rubro de suas faces...
É por isso que as frutas da região de Van são tão bonitas, aveludadas e doces. Mesmo depois de tantos milênios, elas continuam a nutrir-se da beleza que Semíramis lhes deu por amor.
Quanto à bela história de amor, digamos que não teve um bom final. Ara, sempre fiel a sua esposa, não foi seduzido pelos encantamentos de Semíramis. Ela, rancorosa, declarou-lhe guerra, mas ordenou que seus capitães e seus soldados não matassem Ara, a quem eles facilmente reconheceriam por sua armadura com o emblema real. No entanto, Ara trocou sua vestimenta com a de seu escudeiro e morreu.
Semíramis, desesperada, ordenou que buscassem o seu corpo entre os mortos no campo de batalha, e o colocou no alto das muralhas da fortificação. Ali, orou aos deuses Haralez (dois deuses cães, que segundo a tradição curam as feridas lambendo-as e impregnando-as com sua saliva) para que eles pudessem trazê-lo de volta à vida. 
A história, no entanto, não nos diz se os deuses cumpriram sua missão sagrada..."

Que linda estória, hein? E para finalizar, digo o que aqui aprendi em castellano:
"Y colorín colorado, este cuento se ha acabado!" 
e em catalão:
"Conte contat, conte acabat!"

Fonte: Cuentos y leyendas de los armenios: Un pueblo del Caúcaso, de Reine Cioulachtjian com ilustrações de Catherine Chardonnay (Madrid: Ed. Kókinos, 2007).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Conto: "O semeador de tâmaras"

Esta versão vem do livro El saber es más que la riqueza, de  Silvia Dubovoy O semeador de tâmaras Em um oásis perdido no deserto, o velho El...