Conta a lenda que uma bela índia chamada Naiá apaixonou-se por Jaci (a Lua),
que brilhava no céu a iluminar as noites. Nos contos dos pajés e caciques, Jaci
de quando em quando descia à Terra para buscar alguma virgem e transformá-la
em estrela do céu para lhe fazer companhia. Naiá, ouvindo aquilo, quis também
virar estrela para brilhar ao lado de Jaci.
Durante o dia, bravos guerreiros tentavam cortejar Naiá, mas era tudo em vão,
pois ela recusava todos os convites de casamento. E mal podia esperar a noite
chegar, quando saía para admirar Jaci, que parecia ignorar a pobre Naiá. Mas
ela esperava sua subida e sua descida no horizonte e, já quase de manhãzinha,
saía correndo em sentido oposto ao Sol para tentar alcançar a Lua. Corria e corria até cair de cansaço no meio da mata.
Vitória-Régia, de Eduardo Azevedo |
Noite após noite, a tentativa
de Naiá se repetia. Até que ela adoeceu. De tanto ser ignorada por Jaci, a moça
começou a definhar.
Mesmo doente, não havia uma noite que não fugisse para ir em busca da Lua.
Numa dessas vezes, a índia caiu cansada à beira de um igarapé. Quando acordou,
teve um susto e quase não acreditou: o reflexo da Lua nas águas claras
do igarapé a fizeram exultar de felicidade!
Finalmente ela estava ali, bem próxima de suas mãos.
Naiá não teve dúvidas:
mergulhou nas águas profundas e acabou se afogando.
Jaci, vendo o sacrifício da índia, resolveu transformá-la numa estrela incomum.
O destino de Naiá não estava no céu, mas nas águas, a refletir o clarão do luar.
Naiá virou a Vitória Régia, a grande flor amazônica das águas calmas, a estrela
das águas, tão linda quanto as estrelas do céu e com um perfume inconfundível.
E que só abre suas pétalas ao luar.
Fonte: UFMG
Ilustração: Eduardo Azevedo
poético
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