Por Gabriela Kopinits
Era uma vez... Palavras mágicas que nos levam a lugares encantados,
principalmente em nossa infância. São também o abre-te-sésamo das maravilhas de
todo contador de estórias. São essas três palavrinhas que avisam ao expectador que
lá vem magia e das boas. É só sentar, apurar os ouvidos e abrir os olhos,
especialmente os da mente, e se permitir viajar.
Para celebrar essa, que é uma das
artes mais antigas da humanidade, arte que já nasce com a gente (mesmo sem a
gente se dar conta), há muito tempo atrás, lá pelos idos de 1991, um grupo de
contadores de estórias da Suécia achou que seria legal promover um dia todinho
de contação de estórias. Criaram um evento chamado "Alla berättares dag" (All
storytellers day – dia de todos os contadores de estórias) que foi
realizado no dia 20 de março, data que marca também o equinócio da primavera no
Hemisfério Norte (outono para nós), estação em que a Natureza nos encanta com a
prodigalidade de suas flores e perfumes.
A ideia ganhou força e se
espalhou para outros países da Europa e das Américas. Em 1997, contadores de
estórias em Perth, na Austrália, organizaram um festival de cinco dias com muitas
estórias. Aqui no Brasil, as comemorações ainda são tímidas, alguns poucos
estados, como o Distrito Federal, promovem sessões alusivas à data. Em
Pernambuco, não achei divulgação de nenhum evento relacionado ao dia. No
entanto, se o Congresso Nacional aprovar, isso pode mudar.
Desde 2012 tramita um projeto de
lei (o PL 4005/2012), da deputada federal Erika Kokay (PT/DF), para a criação
da Semana Nacional dos Contadores de Estória. “A contação de estória é
importante para resgatar a identidade nacional”, disse a deputada.
Pelo seu projeto, as escolas
públicas de educação básica deverão ter uma semana inteira de programações
culturais destinadas a promover as manifestações orais, incluindo poesia,
estórias e músicas. “O
acesso aos bens culturais é ainda extremamente modesto para larga parcela da
população brasileira”, disse a deputada, que ressaltou a importância da
preservação da tradição oral para a preservação da cultura. “O conhecimento e a
vivência da cultura são elementos fundamentais para assegurar a identidade de
uma nação. Trata-se de um direito de cidadania e de fator essencial na vida de
todo ser humano”, acrescentou a parlamentar, defendendo ainda que a todos deve
ser garantido o acesso ao que ela chama de “patrimônio cultural historicamente
construído”.
O texto do PL - desde dezembro aguardando
designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara
dos Deputados - está no site da entidade.
Vale a pena ler até porque se trata de um importante instrumento na educação das
crianças do nosso país. Nele, vemos os principais objetivos para sua criação,
que são “disseminar informações sobre o patrimônio cultural imaterial
brasileiro; discutir formas de democratização do acesso aos bens culturais
imateriais; valorizar a diversidade cultural do povo brasileiro, contribuindo
para a difusão das manifestações verbais, poéticas, literárias, musicais e
outras modalidades de manifestações artísticas e culturais do povo brasileiro; estimular
o debate de ações nas áreas da cultura; e contribuir para a formação de pessoal
qualificado neste tema”.
Como contadora de estórias já há 17
anos, digo que só a apresentação desse projeto de lei já é um grande avanço
para nós, artistas que ainda não tiveram seu lugar, enquanto profissionais, corretamente
estabelecido ou seu valor devidamente reconhecido, até em questão de
remuneração.
Estamos no limbo entre literatura
e artes cênicas, quando deveríamos ser um amálgama dos dois. O contador de
estórias bebe das duas fontes: busca sua inspiração principalmente na
literatura e usa das artes da encenação para sua apresentação. Com as
discussões que estão sendo promovidas em torno desse projeto de lei, estaremos
certamente apontando balizas mais claras para nos colocar enquanto profissionais,
ajudar a regulamentar a nossa profissão e, claro, finalmente nos dar um lugar
ao sol.
E viva o contador de estórias!
*Gabriela Kopinits é jornalista,
escritora e contadora de estórias, autora do livro “Era uma vez...” pela Cepe
Editora.