Opa! Já ouviu a estória da menina dos brinquinhos de ouro? Clique aqui e escute a estorinha da Cigana Contadora de Estórias que representou Caruaru no Festival "Storytelling: the heart of culture", do Montalvo Arts Center (Saratoga, California/EUA).
Essa estória me foi contada há muitos anos por uma linda menininha chamada Cassandra Kopinits e ganhou versão com elementos da estória de Conceição de Oliveira Teles (Histórias da Vovó, Ed. Leitura: 2002).
A menina dos brincos de ouro
Uma mãe, que era muito severa e rude com os filhos, deu de presente a sua filhinha um par de brincos de ouro. E sempre que a menina ia à fonte buscar água e tomar banho, costumava tirar os brincos e colocá-los em cima de uma pedra.
Um dia ela foi à fonte, tomou banho, encheu o pote e voltou para casa, esquecendo-se dos brincos.
Chegando em casa, deu por falta deles e com medo da mãe brigar com ela e castigá-la, correu à fonte para buscar os brincos. Chegando lá, encontrou um velho muito feio que a agarrou, botou-a nas costas, e a levou consigo.
Então, o velho pegou a menina, meteu ela dentro de um surrão (um saco de couro), coseu o surrão e disse-lhe que ia sair com ela de porta em porta para ganhar a vida e que, quando ele ordenasse, ela cantasse dentro do surrão, senão ele bateria com o bordão (cajado).
E em todo lugar que chegava, botava o surrão no chão e dizia:
"Canta, canta meu surrão,
Senão te bato com este bordão..."
Senão te bato com este bordão..."
E o surrão cantava:
"Neste surrão me puseram,
Neste surrão hei de morrer,
Por causa de uns brincos de ouro
Que na fonte eu deixei..."
Neste surrão hei de morrer,
Por causa de uns brincos de ouro
Que na fonte eu deixei..."
Todo mundo ficava admirado e dava dinheiro ao velho.
Quando foi um dia, ele chegou à casa da mãe da menina, que reconheceu logo a voz da filha. Então convidaram ele para comer e beber e, como já era tarde, insistiram muito com ele para dormir.
De noite, já bêbado, ele ferrou num sono muito pesado.
As moças foram, abriram o surrão e tiraram a menina que já estava muito fraca, quase para morrer. Em lugar da menina, encheram o surrão de excrementos.
No dia seguinte, o velho acordou, pegou no surrão, botou às costas e foi-se embora. Adiante em uma casa, perguntou se queriam ouvir um surrão cantar. Botou o surrão no chão e disse:
"Canta,canta meu surrão,
Senão te bato com este bordão..."
Senão te bato com este bordão..."
Nada. O surrão calado. Repetiu ainda. Nada.
Então o velho, furioso, bateu com o cajado no surrão que se arrebentou todo e lhe mostrou a peça que as moças tinham pregado.
Nota: Conto popular no Nordeste do Brasil, especialmente na Bahia e Maranhão. Chegou aqui pelos escravos africanos. No original africano os personagens eram animais.