Ela se chamava Isadora, mas poderia se chamar Flora, Ana ou mesmo Sossego e tinha o hábito de, estranhamente, colecionar domingos. Não em vídeos ou fotos. Ela os guardava inteiros em potes de vidro, desses que vêm com azeitona ou doce em conserva. Imagine os vidros de domingos arrumadinhos no armário da sala, impecáveis. Não colocava data de validade, colocava rótulos e eram assim, soltos para serem degustados a qualquer tempo.
No armário, havia dezenas deles:
▪ Domingo de sol com cheiro de maresia.
▪ Domingo chuvoso com gosto de bolo de laranja.
▪ Domingo com preguiça, relendo o livro: “As Pontes de Madison”.
▪ Domingo com música alegre e vários copos de chopp.
As pessoas que viam os potes ficam intrigadas. Algumas diziam que ela era bruxa e poderia voltar no tempo para viver novamente o domingo escolhido. Outras, mais otimistas, diziam que ela só os colecionava para lembrar do que foi bonito e esse era o encantamento.
Isadora explicava que tudo havia começado num domingo em que não acontecera nada. Nada mesmo. Ela não recebeu telefonemas, não caminhou na praia, não encontrou com uma pessoa encantadora. Nada diferente. Apenas um domingo em que se sentiu viva, consciente de estar viva. Ouviu uma música antiga, conversou longamente com sua gata, que a entendia perfeitamente e se deixou ficar molemente deitada.
No final da tarde, teve vontade de guardar aquele dia. Não por ter sido especial, mas justamente por ter sido simples. Um dia em que ela se sentiu inteira, mesmo sem fazer nada extraordinário.
Há pessoas assim, que conseguem enxergar o bom e bonito sem que haja algo peculiar. São as pessoas que se abastecem, a si mesmas, de alegria e reconhecimento por estarem respirando.
Às vezes, quando a semana ficava dura demais, ela abria um dos potes, bem devagarinho e deixava sair um fiapo de lembrança boa. Bastava isso, um sopro macio e o dia ganhava novos tons.
Assim, Isadora começou sua coleção:
▪ Domingo com cheiro de chuva e saudade boa.
▪ Domingo com amigos queridos e muitas risadas.
▪ Domingo em que chorei assistindo a um filme besta e romântico.
Algumas pessoas zombavam dizendo que ela vivia do passado. Mas, Isadora não se importava. Ela não colecionava nostalgia, colecionava pausas felizes.
Domingos, para ela, não eram apenas dias, eram uma espécie de filosofia. A arte de não correr, de ouvir o próprio silêncio e principalmente, de acarinhar a alma.
Então para você, desejo domingos dignos de serem guardados em potes, porque a sua felicidade, também merece ser estocada.
Fonte: https://www.carlosromero.com.br/2025/07/a-mulher-que-colecionava-domingos.html