quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Conto: São Francisco e a menina perdida - um milagre no Canindé

Esta estória me foi contado pelo meu pai há duas semanas. Sabedor que coleciono causos e contos do folclore nordestino, ele me narrou que há muito tempo, no Ceará, uma criança se perdeu na mata. Todos ajudaram a procurá-la mas ninguém a encontrou. Aflita, a mãe do pequeno fez uma promessa a São Francisco. 
Passado muito tempo, já tinham perdido a esperança de encontrá-la viva, eis que a criança aparece e, apesar de ter ficado tanto tempo perdida na mata, encontrava-se em perfeita saúde. Contou ela que durante todo o tempo em que esteve perdida, um bom velhinho lhe protegeu e alimentou.
A mãe então foi cumprir a promessa, levando a criança à igreja para agradecer a São Francisco. Quando se postaram diante da imagem, a criança exclamou:
- Foi ele, mamãe! Este foi o velhinho que cuidou de mim!
A imagem era ninguém menos de São Francisco.

Achei a estória linda e aproveito para reproduzir uma versão do site Cantinho Franciscano, com a imagem alusiva:
"Por volta do ano 1926, com apenas 4 anos de idade lá nas matas do Amazonas, perdeu-se Maria Aparecida. Seus pais aflitos procuraram todos os dias sem parar e não encontraram. Então a mãe cearense fez uma promessa a São Francisco, que iria imediatamente em romaria à cidade franciscana se sua filha chegasse salva em casa.
Um ano passou a mãe já quase sem esperança de encontrá-la de repente foi surpreendida com a chegada da filha em sua casa. A menina na escondeu nada da mãe contou que um velhinho de barbas dava-lhe comida e água todos os dias e lhe protegia de todos os perigos existente naquela mata.
Ele era muito amável e lhe ensinou a rezar, ela chamava-o de padrinho, a mãe ouviu tudo e não poupou esforços para pagar a promessa.
Veio para Canindé conduzindo a criança, ao entrarem no santuário a menina avistou a imagem de são Francisco no alar e disse: mãe lá está o velhinho que me salvou."

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Conto: A fonte das três comadres

Esta versão é de Theobaldo Miranda Santos, mas há uma que adoro, adaptação que Monteiro Lobato fez do conto recolhido pelo mestre Silvio Romero.
A fonte das três comadres
Era uma vez um rei muito poderoso que teve uma enfermidade nos olhos e ficou completamente cego. Consultou então os melhores médicos do mundo, tomou todos os remédios aconselhados pela ciência, mas nada conseguiu. Sua cegueira parecia incurável. Um belo dia, apareceu no palácio uma velhinha pedindo esmola e, sabendo que o rei estava cego, pediu licença para dirigir-lhe a palavra, pois desejava ensinar-lhe um remédio maravilhoso. Conduzida à presença do rei, ela lhe disse: 
— Saiba Vossa Majestade que só existe uma coisa capaz de fazer voltar sua vista: é banhar seus olhos com água tirada da Fonte das Três Comadres. É muito difícil, porém, ir a essa fonte que fica num reino situado quase no fim do mundo. Quem for buscar a água deve entender-se com uma velha que mora perto da fonte. Ela conhece o dragão que guarda a fonte e sabe quando ele está acordado ou adormecido. 
O rei ficou muito satisfeito com a informação da velhinha e recompensou-a com uma bolsa cheia de dinheiro.
Mandou, em seguida, preparar uma esquadra para conduzir seu filho mais velho que deveria ir buscar a água da fonte milagrosa. Deu-lhe o prazo de um ano para cumprir sua missão, aconselhando-o a não saltar em nenhum porto para não se distrair do que devia fazer. O príncipe partiu, mas no meio da viagem, encontrou uma cidade onde havia muitas festas e lindas moças. Atraído pelos divertimentos, aí ficou gastando todo o dinheiro que levava e contraindo grandes dívidas. No fim do prazo que lhe fora marcado, não seguiu viagem nem voltou ao reino do seu pai, o que causou a este profundo desgosto.
Resolveu então o rei preparar outra esquadra a fim de que o seu segundo filho fosse buscar a água maravilhosa. O moço partiu, mas encontrou em seu caminho a mesma cidade onde se havia arruinado o seu irmão mais velho. Ficou também encantado pelas festas e pelas moças bonitas, e gastou tudo o que trazia, esquecendo-se da missão que seu pai lhe confiara. No fim de um ano, ainda se encontrava nessa cidade, pobre e endividado.
O rei, ao saber da notícia do que acontecera ao seu segundo filho, ficou muito triste e desanimado. E perdeu a esperança de curar sua cegueira. Mas seu filho mais moço, que era ainda um menino, não se conformou com os acontecimentos e disse-lhe: 
— Agora, meu pai, eu é que vou buscar a água. Garanto-lhe que hei de trazê-la! 
O rei procurou dissuadi-lo:
— Se seus irmãos, que eram homens nada conseguiram, que poderá você fazer, meu filho? 
Mas, o pequeno príncipe tanto insistiu e rogou que o pai acabou cedendo. E mandou preparar uma esquadra para sua viagem. O jovem partiu cheio de esperança. Depois de muito navegar, encontrou a famosa cidade onde seus irmãos já se achavam presos pelas dívidas que haviam contraído. O príncipe pagou as dívidas dos irmãos e conseguiu pô-los em liberdade. Estes tudo fizeram para dissuadir o rapaz de seguir viagem.
Mas o príncipe nada quis ouvir e continuou, resolutamente sua jornada.
Chegando à região onde se encontrava a Fonte das Três Comadres, desembarcou sozinho, levando apenas uma garrafa. Seguiu logo para a casa da velhinha, que residia perto da fonte. Esta, ao vê-lo, ficou muito admirada, dizendo: 
— Por que veio aqui, meu netinho? Está correndo um grande perigo! O monstro que vigia a fonte é uma princesa encantada que tudo devora. Se quiser, realmente, apanhar água da fonte, aproveite a ocasião em que o monstro estiver adormecido. Quando ele estiver com os olhos abertos, pode aproximar-se sem receio. É sinal de que está dormindo. Mas se o encontrar com os olhos fechados, fuja depressa, pois ele estará, na certa, acordado.
O príncipe prestou bastante atenção aos conselhos da velha e seguiu para a fonte. Quando lá chegou, viu que a fera estava com os olhos abertos. Verificando que ela estava dormindo, o príncipe aproveitou o momento para encher sua garrafa com a água milagrosa. Mas, quando se ia retirando cuidadosamente, o monstro acordou e lançou-se, com fúria, sobre o rapaz. Este puxou da espada e travou uma luta terrível com a fera. Depois de muito lutar, conseguiu ferir o horrendo bicho e fazer seu sangue correr. Nesse momento, o monstro se desencantou, transformando-se numa belíssima princesa. O príncipe ficou extasiado, pois nunca tinha visto uma moça tão formosa. Ela então lhe disse: 
— Prometi que havia de me casar com aquele que me desencantasse. Portanto, dentro de um ano, virás buscar-me. Se não o fizeres, irei à tua procura. 
E para que o jovem pudesse ser reconhecido quando fosse buscá-la, a princesa deu-lhe um pedaço do seu vestido.
Contente e feliz, o príncipe partiu de volta à sua terra. Passando pela cidade onde se encontravam seus irmãos, convidou-os para embarcar na sua esquadra, a fim de que pudessem regressar ao seu país. Os irmãos aceitaram o convite. O rapaz havia guardado a garrafa com a água milagrosa na sua mala. Seus irmãos armaram, então, um plano para roubar-lhe a garrafa e se apresentarem ao pai como seus salvadores. Para isso sugeriram, ao príncipe, dar um banquete na esquadra para comemorar o fato de ter ele conseguido o maravilhoso remédio. A festa foi realizada e os irmãos, aproveitando-se da boa fé do jovem príncipe, conseguiram que ele bebesse muito vinho e adormecesse profundamente. Tiraram então do seu bolso a chave da mala, abriram-na, tiraram a garrafa com o remédio e a substituíram por outra cheia de água do mar.
Quando a esquadra atracou no porto de sua terra, o príncipe foi recebido com grande alegria e muitas festas. Mas, quando ele colocou nos olhos do pai a água que supunha ser da fonte maravilhosa, o velho soltou um grito de dor, devido ao sal do mar, e continuou cego. Os dois irmãos traidores acusaram então o príncipe de impostor e declararam que eles é que haviam conseguido a água milagrosa. Dizendo isso, banharam com a mesma os olhos do rei que recobrou a visão. Houve então grandes festas e banquetes no palácio e o jovem príncipe foi condenado à morte. Mas os soldados encarregados de degolar o príncipe, ficaram com pena do rapaz e o deixaram na floresta. O príncipe ficou tão desgostoso que perdeu o amor à vida. Um lenhador malvado o encontrou, caminhando como um louco, no meio da mata. Vendo que ele não reagia, fez dele seu escravo, obrigando-o a trabalhar, sem descanso.
Um ano depois, chegou a ocasião em que o rapaz devia ir casar com a princesa, conforme havia combinado na Fonte das Três Comadres. Não tendo ele aparecido, a princesa ficou preocupada. Mandou então aparelhar uma poderosa esquadra e partiu para o reino do príncipe. Chegando lá, deu ordem ao comandante da esquadra para avisar ao rei de que ele devia enviar-lhe o filho que fora ao seu reino buscar um remédio e lhe prometera casamento. Caso o noivo não viesse ao seu encontro, ela ordenaria à esquadra para fazer fogo sobre a cidade. O rei ficou apavorado e mandou seu filho mais velho apresentar-se à princesa, supondo que ele fosse o noivo. Mas a princesa, ao vê-lo disse: 
— Grande mentiroso, onde está o sinal do nosso reconhecimento? 
Ele que nada possuía, ficou calado e voltou para a terra envergonhado.
Nova intimação e foi ter com a princesa o segundo filho do rei. Repetiu-se a pergunta anterior e o príncipe nada respondeu. A princesa mandou então que os canhões da sua esquadra fossem preparados para o bombardeio da cidade O rei ficou aflitíssimo, certo de que a capital do seu reino seria arrasada, pois havia mandado matar o filho mais moço. Nesse momento, surgiram os dois soldados encarregados de executar o jovem príncipe, que confessaram ao rei que não o tinham degolado. Saiu todo o mundo à procura do príncipe e foi prometido um grande prêmio a quem o encontrasse.
O lenhador que o tinha escravizado ficou mais morto do que vivo quando soube que ele era filho do rei. Mais do que depressa, colocou o rapaz nas costas e o levou ao palácio. O príncipe foi então lavado e vestido com lindas roupas. O prazo que a princesa tinha concedido já estava terminado e, quando os canhões iam começar a bombardear a cidade, o rapaz correu ao encontro da noiva, sendo logo reconhecido devido ao pedaço do vestido que levava na mão. A princesa abraçou-o chorando de alegria. Seguiram então para o reino da princesa onde se casaram no meio de festas que duraram seis meses. O rapaz tornou-se rei de um dos países mais belos e ricos do mundo. Seus irmãos traidores foram expulsos do reino de seu pai e condenados a pedir esmola até o fim de sua vida.
Fonte: Contos Maravilhosos – Theobaldo Miranda Santos, Editora Nacional (1966)
Imagem: Mundo da Luha

Conto: "O semeador de tâmaras"

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