Viva o Dia Mundial da Literatura Infantojuvenil!
Gabriela Kopinits*
“O
pequeno se torna grande num livro”. Este é o tema da campanha deste
ano do International Board on Books for Young People (uma espécie de comitê
mundial do livro infantojuvenil com sede na Suíça) em homenagem ao Dia Mundial
da Literatura Infantil, comemorado neste 2 de abril. E já veremos o porquê
dessa data.
Quem lê sabe que a leitura é uma das poucas
coisas que nos possibilita viajar pelo Universo inteiro - e além - sem que
saiamos do lugar. Ler um livro nos permite conhecer outras culturas,
outras gentes, outras formas de pensar. Ler instrui, ensina, distrai, diverte,
emociona e consola.
Para as crianças, então, a leitura abre um
mundo de sonhos e de fantasia, um mundo onde tudo é possível, inclusive
aprender a se conhecer e a lidar com seus medos, a entender que não se está
sozinho: há outros como nós.
Agora sim chegamos ao motivo da comemoração do dia
mundial da literatura dedicada a elas num 2 de abril. Como toda boa
história começa com três palavrinhas mágicas: era uma vez, em 1805, um bebê
recém-nascido no seio de uma família dinamarquesa muito pobre formada pela
lavadeira Anne Marie Andersdatter e pelo sapateiro Hans Andersen.
O menino ganhou o nome de Hans Christian e era
adorado pelo pai, que apesar de não saber ler nem escrever, lhe contava muitas estórias
chegando a lhe fazer um teatro de marionetes, despertando no pequeno a
imaginação e a criatividade, dons que lhe permitiram sobreviver à rude realidade
de pobreza e privação em que a família vivia.
Fã de Napoleão Bonaparte e querendo mais da
vida do que ser simples sapateiro, o pai decidiu se juntar às tropas do
imperador francês nas suas campanhas militares pela Europa e acabou sendo ferido,
vindo a falecer em 1816 e deixando o filho órfão aos 11 anos. O menino então
teve que abandonar os estudos para ajudar nas despesas de casa. Tornou-se
aprendiz de tecelão e chegou a trabalhar para um alfaiate, mas o que ele queria
mesmo era ser ator e cantor.
Aos 14 anos, Andersen decidiu ir para a capital
dinamarquesa, Copenhague, tentar a sorte na carreira artística. Dizem
que ele tinha uma bela voz, apesar de feioso e desajeitado. Juntou-se ao Teatro
Real da Dinamarca, mas não fez muito sucesso.
Aos 17 anos publicou seu primeiro conto,
"O fantasma da tumba de Palnatoke", e duas de suas peças
acabaram chegando às mãos de um conselheiro real que lhe ofereceu uma
bolsa de estudos.
Durante seis anos, Andersen frequentou a escola
de Slagelse mas se sentia deslocado em meio aos colegas, mais jovens e menores
que ele. Em 1828 começou a frequentar a Universidade de Copenhague e
passou a se dedicar mais à literatura. Foi nessa época que a fama de excêntrico
se consolidou entre os colegas.
Para ganhar uns trocados resolveu escrever
algumas estórias infantis baseadas no folclore dinamarquês. Os contos
fizeram sucesso e assim começou uma prolífica carreira, que durou quase 30
anos.
Antes de falecer em 4 de agosto de 1875, aos 70
anos de idade, Andersen deixou uma obra extensa: só de contos infantis foram
156, a maioria conhecidos por crianças do mundo inteiro, como "O
soldadinho de chumbo", "A roupa nova do Imperador", "A
pequena sereia”, e “O patinho feio", que dizem ter sido baseado na sua própria
infância.
Apesar de não ter sido o primeiro a escrever
para crianças - esse posto pertence a Charles Perrault, considerado o pai da
literatura infantil - foi o primeiro a adaptar estórias já existentes para uma
linguagem mais acessível a esse público, inserindo nelas valores morais e
sociais, como em "A pequena
vendedora de fósforos",
conto que retrata de maneira tocante o drama da pobreza extrema.
Então, agora você já sabe. Foi graças à enorme
contribuição do Andersen para a literatura infantojuvenil que a data do seu nascimento
virou o Dia Internacional da Literatura Infantojuvenil, efeméride criada em
1967 por aquele comitê de que falamos no início desse artigo - o InternationalBoard on Books for Young People (IBBY). O IBBY criou ainda a Medalha
Hans Christian Andersen para premiar os maiores nomes da literatura
infantojuvenil mundial. No
Brasil, a escritora Lygia Bojunga Nunes foi a primeira a receber essa medalha. Isso
foi em 1982. De lá para cá, outros brasileiros também receberam essa distinção
como a escritora Ana Maria Machado.
Viva, pois, o Dia Mundial da Literatura
Infantojuvenil! Que tal comemorar com uma visita à biblioteca?
*Gabriela Kopinits é
jornalista, escritora e contadora de estórias
PS: Em 2003 foi lançado o filme "A vida num conto de fadas" (no original "Hans Christian Andersen: my life as a fairytale"), contando um pouco da vida do escritor e das suas estórias e quem quiser conhecer mais sobre a vida e a obra dele também pode visitar o site do Instituto Andersen.